sexta-feira, 9 de julho de 2021

Memória x Progresso

 



E assim caminha a vida, o progresso vai tomando o lugar da memória, vai nos tirando o direito de contar a história e todo o resto fica nas sombras. Prédios altos, garagens de vários andares surgem ao lado de casinhas antigas, varais que remontam os séculos passados, roupas penduradas de outrora, e assim a vida vai caminhando na rua do tempo.


A memória esquecida, desvanecida, dá lugar ao mato que consome o que restou, a mangueira de fundo que antes era rodeada por crianças e adultos que sentavam ao seu redor, agora é rodeada de folhas velhas, caídas despreocupadamente, sem imaginar o dia que será retirada de lá para dar lugar a um comércio ou mais um prédio.

O progresso chega, chega derrubando tudo, tirando do lugar tudo que fez sentido ou que marcou uma geração. O progresso é selvagem, voraz, cava um buraco no chão e enterra a memória junto com os cacos das telhas do passado distante, enquanto isso, quem segue a caminhada na rua, nem percebe, nem se admira em pensar que aquela casa também foi fruto de um progresso e nem reflete. A próxima onda de progresso vai dar lugar ao que quando o prédio for apenas memória?

Memória x progresso? Ou seria o progresso da memória? Tudo tende ao esquecimento, tudo tende a se tornar ultrapassado, mas enquanto não se torna, por que não valorizamos as bases do ontem, quem nos tornaram o que somos agora? 

Dizem que alguém só morre quando a última lembrança desse alguém desaparece. Eu acho que a gente nunca morre, sempre tem resquícios de nosso passado por aí. Os arqueólogos são a prova viva disso! Eles são especialistas em ressuscitação.

A vida é um lugar onde memória e progresso se confrontam o tempo todo, nós escolhemos se queremos apenas lembrar ou se queremos construir, mas independente do que se erga, no chão de nosso ser está marcada a nossa história. 

Pedro Garrido


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