terça-feira, 19 de julho de 2022

Paterna Idade

Era um dia comum de sol e eu seguia meu caminho, caminhando até o ponto de ônibus para ir cumprir a meta do dia, dar o meu melhor no trabalho para seguir mais um dia sendo produtivo e com sentido. Era para ser assim, com as ansiedades e reflexões que sempre surgem em minha mente, mas algo surgiu e mudou por alguns instantes ou horas o meu dia.


Pois bem, ao trilhar por aquele caminho diário, pessoas estavam fazendo suas ações diárias, levando suas rotinas de formas variadas, alguns comprando no sacolão, outros atravessando a rua, coisas normais e bem habituais em um cenário pré pandemia, mas que vem novamente retomando após algum tempo de isolamento e reclusão. Em meio essa multidão de pensamentos que já surgia ali, algo foi capaz de me chamar atenção mais do que o comum, e parece que o destino não satisfeito em me mostrar aquela cena, me fez tirar um breve sorriso, aparentemente sem motivo do rosto.


Sim, olhei aquela cena e comecei a sorrir, me achando um doido rindo e sorrindo por nada, mas dentro de mim era mais um turbilhão de sensações que aparentemente andavam adormecidas. Uma mãe tentando sair do ou entrar no sacolão, não sei ao certo, estava com seu filho, que teria em torno dos 4 ou 5 anos e ele brincava naquela calçada suja sem se importar muito com o que acontecia ao seu redor, até que ele pega algum objeto pelo qual se interessou no chão e põe na boca.


A mãe, meio atolada entre a máscara, sacolas e bolsas, tenta tirar o objeto da boca da criança, ao mesmo tempo que tenta a repreender... "Não pega isso do chão! Não! Tira isso da boca!!!" Mesmo com a sua repreensão a criança seguia feliz, rindo e nem ligando para as palavras da enrolada mãe.


A cena foi simples, foi breve, mas me levou em duas direções diferentes. A primeira direção foi a infância, porque eu voltei até a minha infância, lembrando que eu mesmo era assim, apesar de sempre me falarem que eu era cheio de frescura com o chão, a segunda direção foi o futuro incerto, me imaginando na condição de pai, levando o menino pra escola, ensinando a jogar bola, andar de bicicleta, comprando roupas iguais para usarmos, e por aí vai. Tudo isso em alguns segundos de sorriso e caminhada, até que tudo passou e eu atravessei a rua rumo ao ponto de ônibus.


Mas aí podem falar que a sociedade cobra que sejamos pais, que tenhamos sucesso, que consigamos o emprego dos sonhos e que tudo não passaria de uma projeção causada pelos julgamentos aos quais estamos expostos. Eu digo que não. Não se pode ser tão frio ou rebelde contra si mesmo, nem tudo é uma cobrança da sociedade, nem tudo é padrão imposto por algo ou alguém, às vezes é só um sonho que alguém tem e deixa transparecer em um sorriso bobo em um dia aparentemente normal.


Se a vida é tão curta, por que não se deixar sorrir no meio do caminho?


Pedro Garrido

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