sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Identidade e nossa parte no todo

Às vezes é preciso se retirar, para que então se volte com respostas. Às vezes é necessário se perder, mergulhar profundamente dentro de si mesmo, para que se lá se encontre um tesouro perdido, para que então o ar possa novamente seja respirado. Às vezes é necessário questionar se estamos sendo inovadores ou meros repetidores de fórmulas prontas de existência, às vezes é necessário deixar com que ideias se apresentem e se percam para que elas possam tomar a devida forma.


Quando eu olho para o céu, tenho certeza de que sou uma identidade individual, mas penso que coletivamente somos muitas partes divididas em uma só. Não nego a autenticidade de cada um, mas somos partes de algo muito maior. Somos filhos, somos netos, somos sobrinhos, primos, irmãos, e por aí vai. Temos uma digital que nos torna únicos, mas temos no DNA características que nos unem aos nossos ancestrais, temos um pouco das marcas da nossa família, de todos que vieram antes de nós, somos uma construção onde cada um que veio antes colocou um pouco de sua participação ali.


Como uma nuvem que passa e muitas vezes se separa em pedaços, muitos de nós nos separamos da nossa essência sem que percebamos, mas mesmo separados, os ventos acabam nos carregando na mesma direção. Nos separamos dos mais próximos, mais chegados, mas o tempo continua nos levando, nos fazendo trilhar caminhos no chão, enquanto lá no céu, algo nos aguarda. A chuva cai, a nuvem que era antes vapor, se torna água. Nós mudamos de forma, de foco, de atitudes, mas também nos renovamos assim como as nuvens no céu. 


Somos parte de um todo que muitas vezes não percebemos, somos uma identidade, personalidade, individualidade, mas somos um todo. Não podemos pensar o mundo sozinhos, não podemos sonhar com um futuro melhor sozinhos. Como diz uma breve frase no poema de John Donne: "Nenhum homem é uma ilha". Prossigo então dizendo que sozinhos só conseguimos a melancolia de um futuro inglório, um passado inóspito e um presente que teima em correr por entre as mãos, uma breve faísca de vida no meio de uma eternidade infinita.


Às vezes a gente se pega pensando que não sabe porque faz algo, uma mínima atividade que seja e se acha inútil no mundo, mas por menor que seja esta atividade hoje, há algo maior sendo construído e lá na frente quando você se unir ao grupo no fim da construção, terá visto que a sua atividade foi fundamental para que o todo funcionasse perfeitamente. Você pode ter sido fundamental para a construção de um transporte que ajudou a salvar vidas, pode ter atendido uma ligação que ajudou alguém a nascer, pode ter ensinado uma criança uma arte nova e a ajudado a se desenvolver.


Quando nada fizer sentido, olhe para dentro, olhe para si mesmo e pense o quanto você se esforçou para chegar até aqui. Pode não parecer nada, mas em algum momento você afetou a vida desse alguém positivamente. Como a nuvem que separada choveu, mas esteve unida pelo vento em uma mesma direção. 


Você, uno, dotado de individualidade e ao mesmo tempo parte de uma geração, de uma multidão de moléculas de histórias, que fizeram com que você fosse você e estivesse no momento certo, no lugar certo, quando foi necessário estar.


Pedro Garrido

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