sexta-feira, 30 de junho de 2017

Dois grãos de areia.

Uns tem tanto, outros tão pouco.
Alguns possuem tudo, mas não são donos do próprio eu.
Outros cheios de sí, possuem apenas o eu, egoísta e nada mais.
Vivemos divididos entre o ser e o ter, vivemos lutando para ter, acumulando de tudo para dizer que somos,
Somos o que? Se tivermos tanto, o que sobra para ser?
Nos mostramos fortes e imponentes, por medo de sermos reconhecidos em nossas fraquezas.
Somos o que não acumulamos, somos o que aprendemos a ser, o que temos, não temos e nunca tivemos.
O que temos é o que faz parte de nós quando estamos sós, nossa subjetividade em forma de sonho, em forma de sino, em forma de tudo que não sabemos dizer, mas nos torna tal, parte de um livro, parte do todo, o todo na parte.
Sabe o que é o cúmulo? O amor ser visto inútil por tantos e valorizado ao extremo, por quem vive o caos da  efêmera passagem do relógio, a dúvida da existência após a curva da estrada, a linha tênue entre o dia ensolarado e o temporal.
Todos somos um mundo, somos reis ou somos reinados, somos pequenos príncipes procurando significados.
Há quem fale com as rosas, há quem seja a rosa, há quem admire o sol no horizonte, há quem admire o dom sobrenatural de apenas ser, carregando em sí tudo que tem, mesmo sem saber até quando será.
Não somos imunes, nunca vamos sair impunes, todos temos nossas vãs imperfeições, nossa morte nos acompanha a cada quadro ou foto na estante, enquanto a vida é apenas o instante.
Somos instantes, momentâneos, passantes, buscando o que nos reflete, o que nos parece, o que nos compreende, o sentido do abraço apertado, a memória no passado.
Temos nossas abstinências, todos sofremos um dia, temos nossas ausências, não nos temos, nem temos quem queremos sempre, mas diante de toda dor, somos pilares de toda grande existência.
Você e eu, dois castelos, dois mundos, duas fortalezas.
Ninguém sabe que somos grão de areia, mas não deixe que os outros saibam, um grão de areia é único, dois grãos de areia são a perfeição.

terça-feira, 6 de junho de 2017

O sorriso...

Sorriso também é lágrima, sorriso também é líquido, sorriso é capa de invisibilidade, sorriso é bom, mas pode ser ruim, pode mostrar ou ocultar, pode pedir ajuda ou afastar, pode ser disfarce, fantasia, entorpecente, droga ou representar a transcendência do espírito.
Você pode sorrir de amor, pode sorrir para esconder a dor, sorrir de nervoso, ansiedade, ou por loucura, rir para não chorar, sorrir para o tempo que não vai passar, pássaros, passados, passeios, sorrisos sofridos, sorrisos nas fotos, sorrisos nas horas, viagens do tempo.
Sorriso é gasolina da alma, pode incendiar paixões, apagar as guerras, iludir nações, pavios de guerras, pátios e porões, gasolina que queima, que se acende, que movimenta, que explode e explora o terreno das emoções.
Sorriso, riso, só sorrio como o rio, que corre e vai, dentro e fora, de dentro para fora, fonte de sonho, fonte de razão, riso que escorre entre o olhar que dorme e o sol e a lua, no meio da rua, dentro de casa, percorre o sabor do beijo e vai do prazer ao desejo.
Sabor, amor, pavor, labor, catarse, epifania, epitáfio, emoção, tudo em um segundo, essa indefinição é que pode ser um mero sorriso.

O que eu digo ser amor.

Amor é quando o encanto inicial acaba e mesmo com todos os defeitos e qualidades do outro, você decide permanecer.
O amor é tudo que fica quando a empolgação da paixão acaba e você vê que o outro é feito de potenciais e deficiências.
O amor é quando você não projeta no outro o que falta em você, não o torna extensão dos seus projetos e egoísmos, mas dá as mãos independente dos resultados que seguirem.
O amor é tudo aquilo que você é, é identidade, é mistério, é personalidade, é atitude, é ser e estar, permanecer e continuar, eu e você, nós, nós atados, arados, terreno fértil, abraço, embarque.
O amor não pode se dar nome, mas sem tem um grande significado, é símbolo, é cruz, é redenção, é a via sacra, é a poesia, é a atenção.
O amor é sinapse, é hormônio, é humano, é espiritual, é genética, absoluto, cerebral, corporal, é alma, é âmago, é sonho, é real.
O amor é o além do que podemos ir, é estar exatamente alí, dentro do melhor abraço que se pode achar.
Não existe amor perfeito, não existem príncipes encantados, não existe princesa presa na torre, não existe "Felizes para sempre" o amor romantizado é mito, o amor de verdade é feito de altos e baixos, percalços da vida, passo a passo, descalço, a pé.
O amor é o que é, não precisa que digam o que precisa ser, não cabe em qualquer sentido, precisa apenas ser sentido, querido, bem-vindo, aceito, construído, vivido.
O amor é o que eu e você dizemos sentir quando damos sem esperar receber, é ser luz, caminho e caminhada, é manhã, tarde, noite e madrugada, sem relógio, atemporal, chuva de verão, frente e verso, prosa, rosa e tudo mais...
Texto infindável de palavras, mas que palavra nenhuma alcança o significado do que só a atitude pode pregar.