quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Aprendizado

 Às vezes a gente aprende mais do que imagina.


Recentemente, comecei a trabalhar em algo novo para mim. Comecei a trabalhar em um call center de hospital e sem saber nada sobre eu me lancei ao desafio. No início deu vontade de desistir, de fugir, de fazer qualquer coisa que evitasse o novo ou que fosse mais difícil, mas percebi que não adianta fugir, não tem como desistir e não dá para evitar o novo ou o difícil na vida. Tudo que fazemos ou passamos nos traz lições importantes, cruciais para o nosso desenvolvimento pessoal.


Sabe, não dá para desistir quando você é quem luta pelos seus sonhos, quando é você que luta pela sua própria sobrevivência. Não dá para desistir e olhar para trás, achando que a zona de conforto é confortável de verdade. Não há nada na zona de conforto além de espinhos dolorosos, o que sentimos quando saímos da zona de conforto é esses espinhos saindo do nosso corpo. Não se pode desistir e achar que há outra forma menos dolorida de recomeçar. Se você desiste agora, não sabe o que pode acontecer depois, se você desiste na mínima dificuldade, não estará preparado para dificuldades maiores e é justamente lidando com a dificuldade que ficamos mais fortes, agregamos mais conhecimento em nossa bagagem e conhecimento não nos pode ser tirado.


Não dá para fugir, simplesmente fingindo que o problema não existe, que a solução do mesmo não depende de você, que outra pessoa pode fazer melhor. Outra pessoa já fez isso antes, outra pessoa talvez tenha fugido, mas você não pode fugir! Há situações na nossa vida que só enfrentando vamos resolver. É como diz na linguagem do futebol " matar no peito", assumir que você tem aquela responsabilidade e fazer acontecer, usar os meios possíveis e necessários para que haja solução, aprender o impossível, se colocar na posição do outro e ir em frente, enfrentando as dificuldades. Assim é, assim foi e assim será. Não se pode fugir da realidade, fechar os olhos para o que é urgente. Só assim seremos mais maduros e responsáveis conosco e com os outros.


Ah, mas dá para transferir responsabilidades, dá para fazer de qualquer jeito, dá para enrolar, esquecer. Não!!! Não dá! Não dá para fazer nada disso! Ou você assume as responsabilidades da vida ou a realidade te engole! Não se pode escapar das dificuldades sem que se as enfrente! Seja no trabalho, no amor, na vida sentimental, em qualquer área da vida. Não se pode criar obstáculos ou fingir algo, fugir do aprendizado, mesmo que dê dor de cabeça e você leia esse texto assim como eu, ao lado de um comprimido para dor.


Você pode chorar, pode se irritar, pode mudar de humor e não dormir bem enquanto o problema existe, isso tudo é natural, mas quando o problema passar, quando a dificuldade for superada, quando a situação se mostrar resolvida, surgirá um enorme aprendizado e se acontecer algo parecido você terá aprendido que foi e sempre será capaz de solucionar tantas quantas forem necessárias as vezes. Outras dificuldades surgirão, as coisas vão mudar de um dia para o outro, a vida vai trazer todo dia uma nova surpresa e vencer cada uma delas nos fará vencedores no final.


Nem sempre você será compreendido, muitas vezes será criticado, nem todo mundo está vendo a sua luta, mas não desista.


A sua vida só depende de você!


Pedro Garrido

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

O inconversável

 


Conversar sobre o inconversável é abrir as entranhas existenciais e descobrir que todos temos as mesmas dores, todos sofremos as mesmas perdas, todos já passamos por fases que pareciam nos devorar, dilemas que pareciam intransponíveis, feridas que pareciam mortais e muito mais... 


Quando nos fechamos em nós mesmos achamos que todas as mazelas do mundo só acontecem conosco e tudo aquilo que vemos nas redes sociais dos outros, as conquistas, realizações, sonhos, sorrisos não são dignos de serem nossos, só os outros possuem. As fotos de redes sociais são no mínimo mentirosas ou omissas, porque as fotos escondem parte da realidade, por isso só quando nos abrimos com alguém é que descobrimos que todos somos iguais, independente das fotos publicadas, todos sofremos igualmente.

Quando tomamos coragem para conversar sobre o inconversável, é como se um mundo de peso saísse das nossas costas, não porque resolvemos nosso problema, pelo contrário, nosso problema continua lá existindo, mas compartilhamos da solidariedade e da experiência que temos, aprendemos com o outro assim como o outro aprende conosco e só de ter essa troca de aprendizados já é um enorme alívio. Não é que eu queira que todos tenham problemas, mas é que quando nos aproximamos do problema do outro nos sentimos mais humanos, menos condicionados a correr em busca de resultados e assumir posturas de liderança ou segurança quando não estamos seguros de nós mesmos.

É verdade! As pessoas choram no banheiro, sentem as pressões da sociedade, gritam e se não aliviam isso, o corpo sente e nos avisa sobre o que precisamos fazer. Por isso consultórios andam cheios de gente que busca soluções tardias e remédios que curem anos em doses cavalares diárias que levam ao sono. Talvez chorar no banheiro, gritar, se isolar ou simplesmente escrever seja uma ponte ou uma porta para levar ao autoconhecimento, por isso, devemos nos abrir de nossas armaduras em alguns momentos, conversar o inconversável e descobrir que somos perfeitamente normais, apesar de tudo. 

O que não tem remédio, remediado está? Conversemos o inconversável!

Pedro Garrido


quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Já teve medo de ser feliz?

Já teve medo de ser feliz? Já teve medo de ver algo bom acontecendo e não ser real, ser passageiro ou você não ser merecedor? Acho que todo mundo já teve esse medo, mas nem todos compartilham suas fraquezas nas redes sociais, né? 


Pois então! Tantas coisas acontecem na nossa vida que em algum momento, depois de quedas, trombadas e acidentes, simplesmente acreditamos que não é bom ser feliz, ou que não é bom demonstrar felicidade por causa de algo bom que acontece. Como resultado, dá até vontade de comemorar uma novidade, um emprego, um relacionamento, um ganho extra, um aniversário, mas a sombra das quedas fica sempre lá martelando "Ah, mas lembra que você comemorou algo e não era aquilo que você pensava?", "Lembra que você se enganou e o resultado não foi o esperado?", "Lembra disso?", "Lembra daquilo outro?"


São tantas as situações que você vive que acaba se lembrando mais das quedas e tropeços do que dos momentos felizes, das conquistas e dos recomeços. Aí a gente até dá um sorriso amarelo, diminui o valor da própria conquista, se humilha na intenção de se dizer humilde e perde a oportunidade de comemorar mesmo os menores sucessos. Todos nós em algum momento já tivemos medo de exercer o direito de demonstrar a felicidade...


E mais questionamentos surgem: "E amanhã, como vai ser?", "Ah, mas você fica feliz por migalhas.", "É isso mesmo que você está comemorando?". As vozes interiores gritam porque as vozes exteriores muitas vezes te diminuíram, diminuíram o valor do seu suor, e por isso você se diminui até caber em um espaço minúsculo se julgando indigno, incapaz de alcançar a felicidade, que, por direito, deveria ser sua.


E quando você vê, já é tarde demais!


O que eu quero dizer com isso tudo é pra você não ter medo de ser feliz e comemorar cada pequena conquista, cada pequeno passinho dado, como se fosse um bebê aprendendo a engatinhar. Não importa o tamanho da sua conquista, só você é responsável pela felicidade, só você sabe o quanto você lutou para conquistar. Para de se diminuir, se conter, tentar caber em espaços ínfimos. Celebre, se regozije, pule, grite, não importa se quem está ao seu lado vai te recriminar, se você mesmo vai se sentir envergonhado depois. Curta o agora, viva cada segundo e centímetro conquistado na sua vida. Mesmo quando parecer passageiro, dúbio ou ridículo, valorize quem você é e o que você fez para chegar onde chegou. Não abra mão disso nunca na sua vida!


Antes de dormir e depois de acordar, seja feliz!


Pedro Garrido

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Da natureza do ser



É da natureza do ser o ver e o ouvir, calar e o falar, aprendemos isso desde o início de nossas vidas, através dos mais variados estímulos que somos expostos. Mas muitos dos nossos impulsos tidos e adquiridos com o tempo, acabem por nos impedir de ver a verdade com clareza, ou seja, de alcançarmos a realidade dos fatos com certeza de que estamos vendo o que vimos e tendo a conclusão mais lógica e esperada para o assunto.


Deixar pra lá ou como dizem por aí , "fingir demência" parece solução para não se exacerbar com dificuldades que sobrevém, pessoas que não atendem ao que precisamos ou pedimos, por isso é necessário saber se ponderar, entender o que é verdade e o que é excesso, o que eu quero do que realmente eu preciso, antes de me empoderar, de dar poder ao meu eu particular para assumir o comando.


Ações que tomam apenas emoções como base para serem realizadas, muitas vezes não nos levam a lugar algum, é apenas um monte de pressões que nos fazem ter inúmeras sensações antes de termos alguma certeza do que devemos fazer, e acabamos assim por não sairmos do lugar.


Tudo na vida tem seu risco, se eu quero estar certo no que falo antes de dizer para alguém, a forma como eu vou dizer é que vai me levar a alcançar o êxito necessário. Se eu digo armado eu serei respondido armado, se eu falo atacando, a defesa será outro ataque e assim ninguém consegue o que quer. Tudo depende da forma que fizemos o que queremos dizer para alcançarmos o objetivo proposto, isso se tivermos em mente que o que acreditamos é o certo para nós ou para o outro.


Relações harmônicas podem até ter brigas, discussões, discordâncias, mas isso não pesa na relação, ambos sabem administrar bem o que querem, sem que a própria vontade pese sobre o outro, ou a vontade do outro pese sobre a nossa, sem que haja anulação de um sobre o outro, sem que se perda a identidade em troca de agrados ou medo de estar só. Só o convívio harmônico onde ambos sabem quem são é que vai fazer com que ambos queiram o mesmo objetivo.


Muitas vezes achamos que podemos prever as nossas próprias ações com base em previsões meteorológicas, mas o tempo muda e assim como as previsões podem mudar e uma chuva cair quando se espera o sol, podemos perder o controle sobre nossos humores, e apesar dessa impresibilidade, ainda é possível tentar contornar um momento em que um caldeirão ou vulcão emocional está prestes a explodir e repensar as atitudes antes de deixar que o desastre aconteça. Por isso a necessidade de um outro auto olhar, de pensar e se colocar em posição de reflexão naquele momento e saber se o que está vivendo é realmente o que se quer viver ou se o melhor é recomeçar a caminhada.


Dói, a dor é parte do processo e ser da natureza, ser feito de carne e osso não é fácil para ninguém, porém dói e vai doer muito mais, colocar nos outros as expectativas de algo que nunca existiu, só existiu em você, expectativas que eram ou deveriam ser só suas. E expectativas são como espelhos turvos onde só vemos uma parte e a nossa mente se encarrega de criar o todo, dando um brilho exagerado a algo que está sujo, sem brilho e não vemos com clareza as marcas reais que fazem parte do todo.


Pedro Garrido

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

O determinismo do Bemmequer

Malmequer, bemmequer, malmequer... 


Assim se vai até as pétalas acabarem e a resposta ser revelada. A resposta está aos olhos de todos, mas somente na última pétala você vê o resultado que, aparentemente, era inesperado.


Como um resultado predeterminado ainda pode ser consultado sob a pena de uma flor ser despetalada? Jogo cruel, e assim é com alguns aspectos da nossa vida, estamos com o resultado lá na nossa frente, e despetalamos margaridas ou girassóis na expectativa de um resultado diferente.


Se brincarmos de malmequer com tudo, viveremos a falsa sensação de escolha, de livre arbítrio, mas na verdade estaremos tampando nossos olhos para uma resposta óbvia.  Malmequer.


Pois é, tudo pode conspirar contra você quando você aceita que as escolhas estão traçadas nas pétalas já contadas de simples flores. A única certeza da vida é a mudança, mudança de formas, de estações, de desejos, de humor. Tudo muda! Não dá para escolher o destino que já estava desenhado antes da flor brotar, desde o início ela já era determinada a ter aquela quantidade de pétalas.


Nós, ao contrário das flores, temos o poder de decidir onde queremos estar e assim só nós podemos decidir se queremos ser despetalados por nossas escolhas ou assumirmos o poder que temos de assumirmos caminhos, oportunidades, desejos, frustrações e ambições.


Não deixe para o malmequer a resposta que já está escrita na sua mente. 


Bemmequer, malmequer, bemmequer...


Com a última pétala caindo, será que a resposta vai ser o que você quer?


Pedro Garrido

sábado, 14 de agosto de 2021

O pior de cada um

O pior de cada um




Todo mundo tem dificuldades em alguma área, seja no ter, ser,  ver, todo mundo tem algo a se rever. O problema é que nosso pior está sempre escondido, poucos tem acesso aos nossos demônios, por isso idolatramos muita gente como se fosse perfeita, uma espécie de deus do controle emocional. 

O nosso pior está acessível a poucos. Por isso nos assustamos quando conhecemos o lado humano de alguém, porque achamos que não é o lado humano, mas é. Revelamos muito pouco uns aos outros, e quando permitimos algo a mais, revelamos somente o melhor do nosso pior, a ponta do iceberg existencial. Por isso nos adaptamos tão bem ao uso de máscaras sociais, convenientes ao momento em que estamos no convívio em sociedade.

Todo mundo tem seus medos, suas ansiedades, exageros, sua maneira de se esconder do mundo quando acha necessário. Todo mundo chora, grita, bate o pé no chão, joga objetos na parede, xinga o vizinho, chuta o balde. Todo mundo perde o controle em algum momento da vida, o problema é que não estamos preparados para ver isso acontecer ao nosso lado. Quando vemos apontamos julgando ou ridicularizando para nos esquivarmos das nossas próprias fraquezas, assim saímos do centro das atenções, não somos nós o alvo e isso nos tranquiliza. Imagina ser pego em flagrante tendo todos os medos e demônios expostos ao público!? Seria o fim, não é mesmo? Não, não é o fim. É só você sendo você igual qualquer um o é e não costuma admitir ao grande público.

A verdade é que todos sofrem, muitos escondem, poucos fazem algo para mudar, mas a maioria não está preparada para ser empática o suficiente para se ver no outro com medo de que o outro o descubra como sendo igual. Queremos sempre ser superiores, nunca inferiores, nunca nossas fraquezas podem ser reveladas. Em um mundo onde tudo é exposto o tempo todo, fica muito difícil esconder tudo, mas e daí? 

Aceite o pior que você tem como seu e entenda que todo mundo tem seus fantasmas, mas não seja um apontador de fantasmas alheios. Você tem, eu tenho, nós temos. Tudo muda ou passa a mudar quando compreendemos que temos nossas falhas e buscamos formas de mudar, seja falando sobre, seja enfrentando, seja mudando as atitudes que antes eram prejudiciais ao nosso convívio.

Pedro Garrido

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O tamboril e a dependência emocional

Nos mares profundos onde a vida é escassa, existe um peixe peculiar, o tamboril. Para copular, ao encontrar a fêmea, ele morde a barriga dela, e o preço dessa escassez é se fundir a ela ao mordê-la. Ele morde e se prende, e após o ato, ele é parte dela, seus vasos sanguíneos se ligam aos dela e eles passam a ser um só durante a vida inteira.


Mas existe um preço a ser pago por essa união tão selvagem, ele deixa de respirar por ele mesmo, ele deixa de ser ele mesmo e agora o seu sangue é o sangue dela, o que o mantém vivo é a fêmea, e ele está ali com apenas um objetivo, cumprir o papel de conceder o esperma para a reprodução quando a natureza julgar necessário acontecer. Ele deixa de ser importante para si e se torna importante apenas para o papel do outro, abandona tudo por apenas um propósito de vida, pertencer a alguém e proporcionar assim a manutenção da sua espécie.


Há algo de positivo em ser o escolhido, pois naquela região do mar há pouca vida, então uma oportunidade como essa precisa ser aproveitada se você for um tamboril e não quiser passar o resto da sua vida vagando pela escuridão e não ter sua espécie extinta por ficar escolhendo demais. 


Conosco não nos parece diferente, muitas pessoas agem como o tamboril, se agarram de tal forma ao parceiro, que é como se abandonasse a própria identidade para viver a vida do outro. Mudam de time, deixam de lado seus gostos pessoais, perdem as amizades, a vida inteira é abandonada em troca de uma união que é quase parasitária. Eu me prendo a ti, você me alimenta, me sustenta, me dá tudo que eu preciso para viver, eu me torno sua extensão e te dou tudo que você precisa para continuar vivendo sua vida. Assim são alguns relacionamentos abusivos, assim é quando ambos não percebem a gravidade da situação que é abrir mão de si mesmo para viver exclusivamente para alguém, como se não houvesse outro propósito de vida. Abandonar tudo, ter áreas da vida completamente desfuncionais porque o outro vai te suprir.


Quantas relações atualmente sobrevivem assim? Muitas! A pessoa abre mão de sua identidade para ser apenas extensão do outro ser e só não sai dessa vida parasitária porque tem medo de viver o novo, já não se conhece mais a si mesmo, já não sabe o que seria se estivesse só, o que resta é abandonar as próprias nadadeiras e deixar que o digam onde ir.



Não ser como um tamboril é um ato de coragem, que exige da pessoa autoconhecimento suficiente para compreender que relações humanas não devem ser parasitárias, cada um oferece o que tem, e se não tem nada para oferecer, você só deve permanecer se gostar e se houver entendimento suficiente para se compreende que ambos estão livres para ser quem são. O casamento é uma espécie de fusão, duas pessoas que se tornam uma só carne, com objetivos, sonhos, caminhos que são realizados em parceria, ninguém se anula, ninguém se desfaz, ambos se completam. Em relações onde um dos dois é um tamboril, a carroça tomba, ninguém segue em frente porque não são dois em busca das realizações, é um só, porque o outro se realizou no exato momento que descobriu alguém que comporte a sua ausência de sentido, é o chamado jugo desigual, citado na bíblia.


Quem você é quando está só? Um tamboril em busca de sentido na vida? Está apenas cumprindo seu papel de manutenção da espécie? Espero que não! A vida é muito mais que buscar um lugar comum que seja confortável. Primeiramente, como diz o filósofo, "Conheça-te a ti mesmo". Pensem bem que tipo de relação vocês querem viver, uma relação na escuridão profunda do mar, onde eu tenho medo de ficar só, ou uma relação na luz, onde eu sei quem eu sou e desejo alguém que me dê a mão sem abrir mão da individualidade e principalmente da identidade para continuarmos a caminhada.


Na dúvida segue a luz!


Pedro Garrido

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Dois vídeos e um soco no estômago

Tomei dois socos no estômago só por ter assistido vídeos. Claro, não foi soco literal, mas é como se fosse. Primeiro ao assistir o vídeo "Psiquiatra" do Whindersson Nunes, depois ao assistir o clipe da última música da Luísa Sonsa "Penhasco". Eu não sei vocês, mas o que eu vejo nesses dois vídeos é a dor real, imanipulável, indescritível. Eu me vejo na dor dos dois, não sei explicar, eu não vivi o que eles viveram juntos, nem vivi de forma separada o que eles colocaram em forma de arte, mas me tocou como se eu tivesse sentido.


Já pensaram sobre o poder da arte na nossa vida? Nos gritos de socorro que um pintor coloca na sua tela? Nós gritos escritos do poeta? No humor que usa da própria tragédia para nos trazer reflexões sobre quem somos? Pois é, o pior é que vivemos numa sociedade que julga o livro pela capa e nem o lê, julga uma gota de tinta sem imaginar quem deu os traços ao resto da pintura, julga uma cantora por uma atitude que é humana.


Ver estes dois vídeos é como se fosse um soco no estômago, mais que isso, um soco na alma. Nos tornamos uma geração de seres superficiais que não pensam no que há por trás das telas, querem tudo rapidamente e levam tudo que trouxeram com a mesma velocidade, geração de tiranos que ao menor sinal de discordância "cancelam" seus desafetos, fazem comentários no estilo "quinta série" nos perfis de artistas que tem grandes trabalhos realizados, e no dia seguinte, nem lembram o que fizeram.


A palavra que falta é empatia. Investimos no ego e esquecemos de ser empáticos. Eu me vi em cada vídeo como se fosse eu, mas e se fosse? Se fosse... Fui eu! Fui eu que senti várias dores que muitos outros não sentiram, fui eu que me estremeci diante do desconhecido, diante da perda, diante da dor, dor minha e de muitos que eu conhecia. Eu também tenho bagagem, assim como você, e pense, não doeu também? 


Esses dois vídeos nos trazem lições. Cada luto tem seu tempo, cada dor precisa ser sentida, cada sentimento não pode ser escondido, precisa ser vivido. Não tenha vergonha de sentir, não tente adiar ou adiantar o processo. Somos todos humanos, com seguidores ou não e mesmo tendo seguidores, eles não podem sentir por você o que só você sente. Só você é você mesmo, mais ninguém.


Pedro Garrido

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Memória x Progresso

 



E assim caminha a vida, o progresso vai tomando o lugar da memória, vai nos tirando o direito de contar a história e todo o resto fica nas sombras. Prédios altos, garagens de vários andares surgem ao lado de casinhas antigas, varais que remontam os séculos passados, roupas penduradas de outrora, e assim a vida vai caminhando na rua do tempo.


A memória esquecida, desvanecida, dá lugar ao mato que consome o que restou, a mangueira de fundo que antes era rodeada por crianças e adultos que sentavam ao seu redor, agora é rodeada de folhas velhas, caídas despreocupadamente, sem imaginar o dia que será retirada de lá para dar lugar a um comércio ou mais um prédio.

O progresso chega, chega derrubando tudo, tirando do lugar tudo que fez sentido ou que marcou uma geração. O progresso é selvagem, voraz, cava um buraco no chão e enterra a memória junto com os cacos das telhas do passado distante, enquanto isso, quem segue a caminhada na rua, nem percebe, nem se admira em pensar que aquela casa também foi fruto de um progresso e nem reflete. A próxima onda de progresso vai dar lugar ao que quando o prédio for apenas memória?

Memória x progresso? Ou seria o progresso da memória? Tudo tende ao esquecimento, tudo tende a se tornar ultrapassado, mas enquanto não se torna, por que não valorizamos as bases do ontem, quem nos tornaram o que somos agora? 

Dizem que alguém só morre quando a última lembrança desse alguém desaparece. Eu acho que a gente nunca morre, sempre tem resquícios de nosso passado por aí. Os arqueólogos são a prova viva disso! Eles são especialistas em ressuscitação.

A vida é um lugar onde memória e progresso se confrontam o tempo todo, nós escolhemos se queremos apenas lembrar ou se queremos construir, mas independente do que se erga, no chão de nosso ser está marcada a nossa história. 

Pedro Garrido


terça-feira, 6 de julho de 2021

Se eu pudesse escolher, teria vindo passarinho...

Ah, se eu pudesse escolher... Teria vindo passarinho. Imagina só, no começo do dia eles acordam e começam aquela conversa matinal. Todo mundo piando sem parar, imagino que estejam planejando como será o dia, talvez dizendo onde vão pousar e procurar alimento, falando do frio ou do calor que está fazendo ao amanhecer, do tipo de alimento que os faz melhor, enfim... No fim do dia, eles voltam alegres para seus lares em galhos e ninhos e dormem "com as galinhas", par ano outro dia repetir a rotina.

Seria muito melhor vir como pássaro, talvez como abelha, ou formiga, que vivem em sociedades que não mudam e você não vê uma abelha ou uma formiga questionar a autoridade se sua rainha. O máximo que você vai ver é uma delas se separar acidentalmente por conta das intempéries e acabar formando um novo reino...

Já viu como são as sociedades animais? Bem estruturadas, cada um com a sua função, todos ou a maioria respeitam seus limites hierárquicos, e a vida segue caminhando, sem se questionarem muito sobre quem quer tomar o poder, sobre uma guerra, uma pandemia ou um familiar que causa embaraço com os amigos.

Ser humano é muito complicado, você precisa se defender de tudo, esperar o pior das pessoas, questionar autoridades, superar dilemas, tudo para se manter de pé sem que ninguém te domine, derrube, tente impor uma religião, um prato preferido ou um emprego sem uma boa renda, e ainda tem a possibilidade de te matarem por discordar disso tudo. Sabe, ser humano é muito complicado. A gente não sabe a diferença entre amor, apego, dependência ou carência, tudo vem, tudo vai e tá tudo bem, ou não, ninguém sabe. 

A gente nem tem hora pra dormir, alguns dormem cedo, outros tarde, outros trocam o dia pela noite, como se tudo fosse normal. Acordamos uns querendo conversa, outros precisando de silêncio até depois do almoço, chegamos calados, cansados de um trabalho que não faz sentido ter, um trabalho de manter a imagem bem produzida, o nome mantido por trás de uma série de máscaras, comidas processadas e assuntos sem sentido.

Seres humanos possuem reis que não reinam, ministros que não governam, presidentes que não sabem o que estão fazendo e no meio disso tudo nós brigamos por eles achando que eles são os melhores e no fim, uma cervejinha num bar resolve uma briga.. Ou não!? Nunca se sabe!

Estou cansado de me defender de gaviões que se mostram como canários, lobos em pele de cordeiros, gente que finge ser do bem ou finge ser do mau, gente que eu não sei se é gente ou um espectro que resistiu ao tempo. Cansado de me impor em um mundo onde quem não se impõe é atropelado pela falta de limites dos outros.

Eu só queria o silêncio de um ninho confortável, dormir com as galinhas, acordar piando, voar sem destino, sem me preocupar se preciso voltar no fim do dia, volto e pronto!

Se eu pudesse escolher, teria vindo como passarinho...


Pedro Garrido

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Ferro

Muita gente feita de ferro, hoje é apenas sucata jogada na esquina. Reflitamos. Ser de ferro não é ser forte, ser forte mesmo é se adaptar as mudanças, não se deixar corroer pelo passar do tempo, e buscar sempre ser melhor para si mesmo.


Não adianta nada querer parecer forte para uma sociedade fraca, parecer impecável para uma sociedade julgadora, e no fim terminar como um carro velho jogado na esquina, com apenas lixo e mato acumulado, e seus maiores valores roubados.


Não se orgulhe de ser de ferro, ninguém na verdade o é. Todos nós temos dores e fraquezas que uma hora ou outra vão sair do fundo da alma e vão nos mostrar quem realmente somos.


Seja de barro, por mais que o barro se quebre, sempre poderá ser moldado melhor e melhor novamente! Não tenha medo de se reinventar quando necessário, mudar a forma de ser, agir, sentir e pensar. Tudo muda, você também pode mudar, pode se sentir fraco, pode reconhecer incapacidades ou inabilidades. Não tenha vergonha de mudar de ideia ou reconhecer estar errado.


Afinal, ninguém é de ferro mesmo, né?


Pedro Garrido

terça-feira, 27 de abril de 2021

Amadurecimento

A gente só amadurece quando deixa de perder tempo vivendo fantasias temporárias para se dedicar ao que é real e duradouro. Algumas ilusões podem até ser boas por alguns momentos, mas quando a realidade vem a tona, a gente descobre que perdeu tempo demais se dedicando a castelos de areia que nunca tiveram forma e foram levados pelas ondas. 


A gente precisa de momentos em que nada é levado à sério se quisermos não enlouquecer. É gostoso falar bobagens, brincar de polícia e ladrão, perdermos horas criando uma vida paralela onde somos casados com uma condessa dos confins da Europa medieval, mas chega uma hora que é necessário ter os pés no chão e investirmos naquilo que temos disponível nas mãos.


Chega um tempo em que não queremos ser iludidos por um papo adolescente de ganhar dinheiro fácil ou ser popular num círculo social qualquer. Queremos estabilidade moral, emocional e financeira para nos jogarmos no sofá de uma noite qualquer e assistirmos nossa série preferida sem pensar em quem vai ligar ou vai nos questionar sobre um fato ocorrido na época de escola.


Não sei se amadureci, mas cada dia menos me deixo levar por coisas que não vão me trazer valor ao pensamento. 


Pedro Garrido

Poder das palavras

A gente se importa tanto com o que é dito sobre nós que nos esquecemos de tudo que nós somos, do contexto em que algo foi dito e da pessoa que disse. Nem tudo que é dito é na intenção de agredir ou se defender, nem tudo é desespero, urgência, ou é para nos atingir. 


Como já diz o filósofo, o que a pessoa diz sobre mim não revela quem eu sou, mas revela quem ela é, revela sua visão parcial dos fatos ou de si mesma. Às vezes não é o que é dito que assusta, mas a forma como dizem. Não temos o controle das palavras dos outros, muito menos da entonação e do sentimento do momento em que a palavra é dita, por isso muitos mal entendidos surgem e muitas pessoas ficam anos sem se falarem até que tudo seja finalmente compreendido. 


A gente se importa demais porque isso fere muita coisa em nós, nossa vaidade, nossa noção de ser e de espaço, nossa dificuldade em lidar com o inesperado e um julgamento que vem de onde menos se espera pode sim nos colocar de joelhos no chão. Palavras tem poder, sentimentos mal empregados nas palavras podem ser facas afiadas nas mãos de guerreiros ou de lutadores inexperientes. 


Nos culpamos facilmente pelos sentimentos dos outros sobre nós e esquecemos de avaliarmos quem somos de verdade, por isso palavras inocentes nos ferem, por isso ferimos quem gostamos, por isso causamos tanta dor sem percebermos. Usamos a palavra de acordo com o que sentimos sem abrirmos mão da sensação do momento para avaliar o que é verdade ou não no que vamos dizer. 


Palavras tem poder! 


Pedro Garrido

Sobre estar consigo


Às vezes é bom estar sozinho, ficar no seu universo paralelo fazendo reflexões, ouvindo o som do silêncio, procrastinando e olhando o teto. Eu gosto de ter companhia, de estar no meio das pessoas que admiro, mas não abro mão dos meus momentos de solidão. Algumas respostas só surgem quando eu estou em estado contemplativo, as minhas orações mais verdadeiras só surgem quando eu sinto que estou em paz comigo mesmo.


Até mesmo nos momentos de conversa entre amigos, quando todos estão rindo, brincando, se divertindo, eu tiro alguns momentos para ter meu afastamento, observar como é cada ato de cada um, o que cada um está sentindo, a história de cada um até aquele momento. É quase uma leitura de um livro, uma biografia sendo editada naquele exato momento. Por isso, ficar de fora pra mim nem sempre vai ser ficar de fora, eu continuo ali, mas em um estado de catarse, absorvendo, sentindo, visualizando e ao mesmo tempo agradecendo por estar lá, desfrutando de viver aquilo tudo, vivendo cada segundo ao lado dos meus, transformando tudo em algo maior ou menor, redimensionando minha própria vida é minha sensação de pertencimento.


Eu valorizo a solidão porque eu sorrio de cada bom momento, avalio cada erro e acerto que já tive na vida, repenso prioridades, relembro de pessoas, faço planos que nem sempre vão acontecer, aquela hora é a minha hora de sonhar acordado e de fazer o que estou fazendo neste exato momento. Escrever sobre algo que sinto, que surge, que explode, para que nada em mim venha a se implodir. É quase como se eu tivesse em uma viagem astral, mesmo que eu mal consiga sair de mim. Estar em mim talvez seja um dos meus maiores prazeres em um mundo em que todos estão tão conectados em tudo.


Se me ver sozinho por aí, não se preocupe, eu não estou só!


Pedro Garrido

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Renovação

A nossa vida é permeada por datas que simbolizam a renovação, ano novo, natal, aniversário, as estações se renovam, entre outras coisas, como se todos os dias estivéssemos morrendo e renascendo, trilhando uma nova maneira de enxergar o mundo, uma nova identidade, um novo apelo a viver a novidade e deixar o velho para trás.


Com a renovação tanto de nós fica para trás que se nós compararmos com o nosso eu do ano passado, muitos dos nossos desejos e sonhos mais infantis acabam se perdendo no caminho, é como se fossemos uma cebola e ano após anos fossemos perdendo uma camada dessa cebola, ao mesmo tempo que vamos ganhando camadas como as grandes árvores que a cada ano ganham uma camada a mais em seus troncos, facilitando a contagem de sua idade no processo final de sua vida.


A vida é uma constante troca, vamos perdendo camadas, partes de nós no caminho, e vamos ganhando marcas que simbolizam a maturidade do ser que somos, o que nos mostra como chegamos onde chegamos. As marcas que definem a idade da árvore são as mesmas que mostram o quanto o tronco é grosso e quantas intempéries ele foi capaz de vencer e resistir até chegar naquela idade.


Não quero fazer uma comparação entre ser uma cebola ou uma grande árvore nem estou oferecendo um lado vencedor, só mostrando que tudo no processo de renovação envolve a perda ou o ganho de uma camada, hipotética ou não. A perda de algumas dessas camadas pode nos causar algumas lágrimas como ao cortar a cebola, mas cortar a cebola é só parte de um processo que leva ao preto principal, muitas vezes não estamos percebendo onde estamos querendo ir porque estamos presos pensando ao corte da cebola, o corte somente pelo corte, a lágrima somente pela lágrima, quando tem todo o processo de vida, tem toda uma cosmovisão ao redor.


Filosofia, poesia, religião, ciência, quase tudo no mundo vai tentar propor algo sobre a renovação. Uma poesia que case com outra e mais outra, conceitos de infinitude dentro da própria finitude do ser, vida eterna, deuses, teoria do Big Bang. Tudo no mundo está em busca de um caminho de renovação, onde o que pareça ter acabado tem sua oportunidade de recomeçar. Algumas pessoas preferem acreditar que depois do fim só tem o fim e nada mais, pra mim isso é moribundo demais de se imaginar.


Desde o início da civilização acreditamos em processos de renovação e fazemos deles marcos que nos prendem ao oceano imortal das incertezas, talvez isso que nos dê a sensação de que estamos presos a algum lugar no chão, como uma árvore plantada na beira de um riacho, porque se não fosse essa certeza. O que seria de nós, vagando pelo espaço, sem um rumo conhecido, dentro de uma "bolinha de gude", procurando nosso próprio sentido?


Talvez seja mais fácil e melhor acreditar que haja mesmo uma renovação diária em nossas camadas e que perdas e ganhos são partes dessas camadas que ganhamos. Se somos feitos para sonhar e acreditar em recomeços: Por que não recomeçar agora?


Um brinde aos ciclos que se encerram aos que começam, a tudo que nos cerca, as camadas que ganhamos e perdemos com o tempo, a todos os eus que surgiram antes de mim e me proporcionaram ser o eu de hoje, e que talvez já não seja amanhã esse mesmo eu. Não tem como conter o fluir do tempo que nutre a raiz da árvore da vida, o que temos é que viver e aprender com as marcas que nos são dadas.


A renovação é o nosso próprio abrigo, nossa maneira de nos mostrarmos vivos diante e dentro do nosso próprio eu cósmico em constante morte e (re)nascimento. Em constante transformação, sólido, líquido, gasoso. 4 elementos gerados e moldados por uma quintessência. Um fio que sempre ilumina o pavio, sem se apagar ainda que não se veja sua luz.


Pedro Garrido

Sobre buscas

Todos nós estamos em busca de oportunidades, mostrando diariamente nossos currículos nas redes sociais, postando fotos, feitos, livros lidos, músicas ouvidas, viagens, sonhos e tudo que pode ser visto. O problema é que fazemos o que fazemos e ainda estamos insatisfeitos, estamos cansados, doloridos, esperando um oasis de visibilidade no meio do deserto onde tudo é feito de placas de "Me veja", "me leia", "consuma minha ideia", "faça igual a mim", "Seja como eu"...


Cansa o tempo todo estar em busca de uma vida de fama e reconhecimento, uma vida onde todos os títulos façam sentido, onde toda a pompa de uma vida de glórias tenha de fato algum propósito. Onde palavras sejam ditas realmente com intenção, onde somos todos gratos de verdade, independente do que o outro pode nos proporcionar, realizar e por aí vai...


Estamos todos em busca de um lugar ao sol, querendo ser seres intocáveis, quase deuses, onde tudo que sabem sobre nós é que nos tornamos famosos por algum motivo que já nem lembramos mais e na primeira esquina nos perguntamos: Onde nos perdemos de nós mesmos nessa busca incessante por algo que nem sabemos exatamente o que é?


Todos os dias tentamos iniciar uma nova caminhada, nos esforçamos para alcançar novos degraus, algo que mostre que estamos avançando na vida, melhoramos nosso armário, nossa cama, nosso vocabulário para impressionar quem nos conheceu quando não éramos ninguém... Mas... Podemos até ser alguém, porém será que nos convencemos disso tentando provar algo a alguém? Qual será realmente a marca que vamos deixar na nossa geração ou na geração futura?


Como queremos ser vistos e lembrados? Qual o nível de esforço que devemos dispensar para alcançar o que de fato queremos? Somos ansiosos demais e queremos ter controle de tudo e de todos para que a nossa criança interior finalmente se sinta realizada, para que ninguém perceba o que nos falta e quanto mais fazemos, mais tentamos esconder a falta que está lá no cantinho do lugar de memória da nossa vida. 


Todo excesso esconde uma falta e parece que todos nós temos uma falta muito mal escondida, porque muitas vezes cometemos exageros verborrágicos em busca de esconder a falta do que parece simples de dizer. Exageramos nos sorrisos para esconder a lágrima que teima em descer na madrugada. Queremos dar conta de carregar o mundo nas costas porque temos medo de sermos carregados justamente pelos outros medos que nos consomem. Somos diariamente combatentes e combatidos por nós mesmos e ganhamos inimigos sem percebermos o tirano que nos tornamos tentando governar algo que nem nosso é.


Desconfie daquela fala muito eloquente, daquela gente com cara de bem resolvida que vive dando conselhos, do cara bem arrumadinho que está sempre de bem com a vida, expressando seus troféus com um olhar. Não tema a crítica de quem nem sabe o que está fazendo ou já fez tanto que se perdeu tentando provar os próprios méritos.


Para de fazer a parte dos outros, para de tentar se igualar a heróis que nunca tiveram fracassos, pare de acreditar 

em testemunhos que escondem as quedas antes de alcançar a tão sonhada vitória.


Um dia de cada vez, um sucesso por dia, uma queda, um fracasso, um dia improdutivo, alguns dias se recuperando de uma doença inesperada, assim é a vida. Não se renda aos artifícios de artificialidade que pintaram sobre alcançar a fama, o sucesso ou dinheiro.


Pedro Garrido

sábado, 3 de abril de 2021

O sabor das coisas

 


Doce, salgado, azedo, amargo... Sabores muito comuns na nossa vida e que nem sempre a gente dá a devida atenção. O cheiro de café quente de manhã que faz a gente acordar num estalar de dedos pra comer um pãozinho com presunto e queijo, o sabor do chocolate entre os dedos na nossa tenra infância, o suco de maracujá com gostinho de roça, os sabores que vão dando saudade, ditando experiências e nos cercando de lembranças.

Há quem diga que existe um tipo de sabor chamado umami, uma mistura de todos em um, ou algo que não é nem um nem outro, é estranho, mas dizem que é só mais um sabor agradável, quem saberá definir o que é ou não agradável ao paladar alheio?

O paladar refinado ou não, vamos sentir os mesmos sabores em tudo, mas a experiência é única e subjetiva, isso não pode ser tirado do ser humano. Mas pensemos, e se de uma hora para outra todos os prazeres mais saborosos humanos fossem retirados do nosso paladar? Como seria o nosso café da manhã? Como seria aquela sessão de cinema onde o primeiro beijo inocente aconteceu? Como seria a sensação de andar no parque sem aquela pipoca doce toda grudada de manteiga?

Às vezes é como se a vida perdesse sentido, perder todos os sabores é uma agressão a nossa memória, é parte de nós se perdendo em um vazio de imagens e formas desconexas, e é aí que olhamos e percebemos que a mesma coisa acontece quando a tristeza ou sentimentos ruins tiram nossa vontade de estar junto, tudo perde o sabor, metaforicamente falando e não adianta comer, beber, brindar, jogar conversa fora, tudo tem a mesma aparência disforme, sem qualquer beleza que nós faça querer admirar um lugar, uma pessoa ou um objeto como se fosse um alimento.

Um dos sintomas da Covid é a perda do paladar e do olfato, mas não é preciso ter a doença para perceber que muitas vezes deixamos de lado o sabor das coisas, deixamos e desvalorizamos aquilo que não parece saboroso aos nossos olhos, e a dificuldade com que avançamos na vida profissional, ou em qualquer outro aspecto que nos sobrevenha, faz com que olhemos nossos avanços mais significativos como uma substância disforme e estranha, como se não merecessemos sentir o sabor de uma vitória ou o cheiro de café que nos leva a sentir o dia de outra maneira, ou nos privamos de lambuzar nossos dedos com chocolate, porque tudo é tão cinza que não nos damos o prazer de desfrutar de um sabor novo.

Na iminência ou na possibilidade de perdermos os sentidos, parece que damos mais valor a eles, como se fossemos degustadores de vinho, querendo aproveitar o máximo daquela sensação até que ela se esvaia em um gole, uma mordida, um sorriso, um choro... A sensação de perder algum desses sentidos nos leva a querer sentí-los como se nunca tívessemos sentido nada igual. O doce fica mais doce, o ácido arde na língua, o salgado se prova mais saboroso, e vamos degustando cada sabor da vida como se a própria vida tivesse por se findar. Queremos viver e sentir tudo como se nunca tívessemos vivido ou sentido antes, o sabor das coisas nunca mais é igual a antes quando se acredita que pode ser perdido a qualquer momento, o sabor da vida parece amargo, mas a iminência de perder até o amargo nos faz valorizar até o jiló que tanto odiamos, talvez você não, mas muitos odeiam, e mesmo não tendo perdido meus sentidos, tiro para mim esse momento de reflexão.

É preciso sentir todos os sentidos para se sentir vivo, é preciso saber lidar com todos os sabores, mesmo o mais amargo se não quiser viver uma vida em parte, é preciso dar valor ao doce momentâneo de um perfume ou de uma bala, é preciso sentir os sabores nos cheiros, nas notas musicais, no raio de sol que nos ilumina mais um dia, é preciso sentir os sabores das coisas que tocam nossa boca e das que tocam nossa alma, o céu da boca pode ser um limite para o paladar, mas o céu não é um limite para quem ousa ter sonhos e deseja realizá-los. 

Que a gente não precise perder o que é nosso para valorizar o que sempre tivemos de bom e possamos assim como o degustador sente o sabor de forma refinada, possamos compreender melhor o sabor das nossas emoções e de cada conquista que é posta em nossa mesa como um café da manhã.

Pedro Garrido


segunda-feira, 22 de março de 2021

Fotografia


Eu olho para esta foto e é assim que eu imagino como enxergamos o universo e a eternidade. A gente vê tudo através de lentes e nossos olhos precisam de lentes cada vez mais potentes para enxergarmos o que não está ao nosso alcance. Muitas vezes é como se estivéssemos fazendo como no exemplo dado por Platão, procurando formas nas luzes para determinarmos o que pode vir a ser a sombra que passa por ela.


A janela é a uma das saídas da caverna moderna. Quando a fechamos, podemos apenas ter uma noção parcial do que acontece lá fora, mas nem sempre saberemos por completo, veremos apenas luzes, cores e espectros, ouviremos apenas sons e vamos presumir baseado em experiências anteriores o que pode estar acontecendo, mas nunca teremos pleno conhecimento se a janela estiver fechada.


A eternidade é mais ou menos isso, sabemos muito pouco ou talvez nada sobre o futuro, o que temos é uma imagem de toda a história condensada de um passado imemorial até o dia de hoje, a partir daí tudo passa a ser sombra ou cálculos baseados em probabilidades ou repetições.


É quando o anoitecer chega que um pouco mais do universo se revela a nós, é aí que os vislumbres acontecem, de acordo com a história, a medida que o tempo passa vamos tendo um pouco mais de conhecimento do que pode vir, mas mesmo com todos os dados e conhecimentos tidos até aqui, ainda assim é apenas um vislumbre meramente filosófico.


A foto tirada no momento certo pode esconder e revelar muitas coisas. Ela pode trazer peso e leveza ao mesmo tempo, dúvidas e certezas, respostas e perguntas, sons e silêncio, e a medida que precisamos de lentes para irmos mais longe nas nossas buscas, mas sabemos que não sabemos nada sobre o o outro lado da janela, estamos apenas admirando, cogitando, esperando dias melhores, lentes maiores, certezas concretas em um mar azul de gotas cintilantes.


Tudo o que vejo é que não tenho certeza do que vejo, mas admiro como se já tivesse ultrapassado a barreira vítrea que se estabelece entre o ontem e o amanhã, navegando escuridão adentro pelo espírito que paira sobre as águas.


Texto e foto por: Pedro Garrido

 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Sinais

 Você pode escolher 3 maneiras de viver a vida


- Fazer de tudo que acontece no universo um "sinal" para determinar seus atos e atribuir ao próprio universo a culpa e a responsabilidade pelos resultados;

- Fazendo tudo sem avaliar prós e contras como se nada fosse "sinal" e não se importar se vai dar certo ou errado;

- Fazer as coisas estudando os passos e avaliando com medidas concretas o que pode ser um sinal para tomar ou não uma atitude, tornando cada sucesso ou fracasso um aprendizado para oportunidades futuras.


Nem sempre algo vai ser um sinal, porém sinais não podem ser ignorados. Nem tudo é culpa nossa, mas precisamos admitir nossos erros. Nem todo aprendizado vai ser usado em todos os momentos, mas é necessário tirar uma lição de todo aprendizado. Na vida, nem tudo pode valer a pena, nem toda oportunidade vai servir para nosso momento, nem sempre desistir vai ser a solução, mas algumas respostas só vão surgir se arriscarmos. Às vezes vai ser necessário voltar atrás, às vezes avançar rumo ao desconhecido, às vezes reconhecer que precisa ficar onde está e assim todos os nossos dias serão melhores, reconhecendo nossa força e nossa fraqueza, abrindo mão do que não nos cabe mais ter, e assumindo a importância daquilo que temos ou queremos voltar a ter.


Talvez esse texto seja um sinal, ou não, cabe a você a interpretação e a leitura. Faça de hoje um dia para vencer obstáculos, rever conceitos, criar ou restaurar laços, olhar para o céu e ver estrelas, olhar para si e ver qualidades, olhar para fora e orar silenciosamente, olhar para dentro e refletir sobre os próprios sons.


Pare, olhe, escute!


Pedro Garrido

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

De volta para o futuro

E se tivéssemos a oportunidade de voltar no tempo? Consertaríamos o que saiu do nosso controle ou usaríamos como aprendizado a experiência adquirida? Não podemos nem temos o controle de tudo, mas diante de nossa ansiedade por termos tudo dentro das nossas expectativas sempre imaginamos como seria se mudássemos aqui e ali algo que nos foi doloroso ou preveniríamos de acidentes ao evitar passar por lugares em que nos ferimos.


A verdade é que o passado e o futuro sempre nos causam impacto ao pensarmos sobre e a possibilidade de mudar algum dos lados nos leva a incríveis pensamentos do que poderia ser ou do que poderemos fazer se tomarmos uma atitude que mude nosso presente. Sempre imaginamos o que evitaríamos se não tivéssemos sofrido uma perda, se tivéssemos aceitado um emprego ou uma oferta quase irrecusável.


Mas diante de tudo, quem seríamos nós se tivéssemos evitado perdas, frustrações, dores e até mesmo a recusa de oportunidades aparentemente salvadoras? Acho que não poder mudar o passado pode parecer uma maldição, mas é uma benção, pois é com tudo que vivemos que aprendemos a superar nossos limites, viver outros caminhos, obter novas oportunidades, além de toda a maturidade que ganhamos ao encontrarmos em nós mesmos a suficiência que achamos não existir quando faltava o que parecia mais primordial para nosso ser.


Eu não mudaria nada do meu passado, mas se no presente eu tivesse a oportunidade de lidar com todas as situações que me foram dramáticas, estar próximo novamente de pessoas das quais hoje talvez não haja possibilidade, certamente olharia com maturidade e não culparia nada e ninguém pelos acontecimentos que tiveram de acontecer 5, 10 ou 15 anos atrás. Tudo tem um motivo, causa, razão ou circunstância, quase tudo está fora do nosso controle, nem tudo pode ser revertido, e o que nos cabe é viver e aprender.


Se hoje você deu um passo, amanhã dê 10, depois dê mais 10 e em breve você vai perceber que foi capaz de caminhar tão longe quando se poderia esperar e por lugares que você nunca imaginaria voltar ou entrar, tudo começa com 1 passo, mesmo que todos os passos anteriores tenham dado errado, andar rumo o que se deseja é fundamental para não deixar de sonhar.


O não é certo, todo o resto é fruto do que você plantar e arriscar viver.


Será que em alguma linha temporal existe alguma versão sua comemorando o que você já perdeu as esperanças? Seja você essa a versão que comemora hoje! 


Pedro Garrido

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Sobre desistir

 


"Não desista! Pode ter alguém se inspirando em você. Será?"


Mas se em algum momento você desistir, não se esforce pelo que os outros pensam, se esforce por você me mesmo. Reconheça seus próprios limites, crie seus próprios caminhos, carregue só aquilo que te pertence. Não caia na ilusão de que você deve persistir em tudo na vida achando que alguém vai se inspirar em tudo que você não desistiu. A vida é feita de residência, persistência, mas algumas vezes vai ser feita de desistências. Desista se for necessário sim, sem medo de dizerem que você foi fraco. Que mal há em ser fraco? Todo mundo é fraco, todo mundo é humano, não existem pessoas perfeitas.


Desistiu? Ok! Tenta de novo de outra forma, vive outras coisas, olhe para o outro lado. Repense as circunstâncias, reveja as prioridades, mas não se deixe levar por frases de efeito ou se deixe carregar por um peso maior do que lhe foi dado na caminhada. 


Desistir de algo é um ato tão corajoso quanto o de continuar tentando! Se alguém se inspira em você, ótimo! Esse alguém sabe que você também é feito de defeitos, erros, e que às vezes desistir é o melhor caminho para evitar algo pior no futuro.


Se for necessário, desista sim e invista no que for melhor para você e sua saúde mental.


Nem todas as pedras podem ser movidas, nem todas as águas poderão ser navegadas. Invista, mas não quebre a cabeça tentando abrir portas onde só existem paredes.


Pedro Garrido

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Olhar

Olhar

Sempre tive a sensação de descobrir no olhar o sentimento de alguém, tudo de alguma maneira está no olhar, mas não estou "metáforando" ninguém. Apenas tenho a sensação de conhecer a alma quando vejo o olhar mais distante ou mais brilhante. É como se eu olhasse para os confins do universo e fosse capaz de ver a alma de Deus, o espírito que paira sobre as águas.

Quanto mais distante vou, mais me aproximo de mim, mais me aproximo da eternidade, mais eu vejo que o óbvio não é tão óbvio assim para todo mundo. Sim, às vezes eu me engano, viajo além das fronteiras e me equivoco, mas de tanto fazer de meu próprio mundo uma armadura de autodefesa, quando enxergo que outras pessoas também a usam então sei com exatidão quem elas são, como elas estão e como podem mudar.

Muitas vezes eu já vi olhares extremamente apaixonados, outras eu vi que alguns olhares não olhavam de fato, algumas pessoas eram cegas mesmo que enxergassem o mundo, outras com certa miopia enxergavam bem o mundo ao seu redor. Alguns olhares ardiam, outros doíam demais, alguns olhares vieram acompanhados de mudança de postura corporal e isso é fantástico, saber que um olhar muda completamente a postura de alguém. Se soubermos ler um olhar, todo o restante terá sido lido.

Quantas vezes o meu próprio olhar transmitia dor, inferioridade, incapacidade e eu nem percebi. Tudo muda de acordo com as nossas próprias atitudes, quem enxerga a alma é capaz de transformá-la, seja dominando, seja libertando, e o meu desejo é libertar almas, mesmo que em alguns momentos a minha própria alma pareça incapaz de se libertar de alguns fantasmas.

É ai que a poesia me liberta, ela me dá um novo olhar, uma nova alma, uma nova forma de vencer meu mundo, sem impunhar uma arma, mas trazendo para fora todo o sentimento que ficava apenas preso no olhar quando eu não sabia bem o que escrever. Ou seja, escrever liberta minha alma, cura minhas feridas e me dá uma nova postura. Podem tirar tudo de mim, mas não me tirem a possibilidade de me rasgar em palavras e logo em seguida me costurar sem deixar marcas.

Tem olhares que até hoje eu não quero lembrar, olhares que eu lembro e soaram como julgamento, olhares de desprezo, olhares de rostos que se viraram contra mim, por isso, deixei de olhar nos olhos algumas vezes, por isso abaixei a cabeça e mudei meu caminho, mas não será mais assim, vou enfrentar de cabeça erguida todos os desafios, todos os olhares do mundo e o meu próprio olhar que teima em brigar comigo, dizendo que toda mudança é passageira. Eu me olhei agora e vi, vi alguém pronto para voar, voarei e quando aterrissar novamente saberei que valeu a pena olhar para o alto, mudar minha postura e recomeçar.

Um olhar fala mais que mil palavras, mas mesmo assim palavras se fazem necessárias e enquanto eu puder gritar as palavras, farei delas parte do meu propósito e hei de ver novamente aquilo que até hoje só ousei sonhar.

Pedro Garrido