quarta-feira, 28 de abril de 2021

Ferro

Muita gente feita de ferro, hoje é apenas sucata jogada na esquina. Reflitamos. Ser de ferro não é ser forte, ser forte mesmo é se adaptar as mudanças, não se deixar corroer pelo passar do tempo, e buscar sempre ser melhor para si mesmo.


Não adianta nada querer parecer forte para uma sociedade fraca, parecer impecável para uma sociedade julgadora, e no fim terminar como um carro velho jogado na esquina, com apenas lixo e mato acumulado, e seus maiores valores roubados.


Não se orgulhe de ser de ferro, ninguém na verdade o é. Todos nós temos dores e fraquezas que uma hora ou outra vão sair do fundo da alma e vão nos mostrar quem realmente somos.


Seja de barro, por mais que o barro se quebre, sempre poderá ser moldado melhor e melhor novamente! Não tenha medo de se reinventar quando necessário, mudar a forma de ser, agir, sentir e pensar. Tudo muda, você também pode mudar, pode se sentir fraco, pode reconhecer incapacidades ou inabilidades. Não tenha vergonha de mudar de ideia ou reconhecer estar errado.


Afinal, ninguém é de ferro mesmo, né?


Pedro Garrido

terça-feira, 27 de abril de 2021

Amadurecimento

A gente só amadurece quando deixa de perder tempo vivendo fantasias temporárias para se dedicar ao que é real e duradouro. Algumas ilusões podem até ser boas por alguns momentos, mas quando a realidade vem a tona, a gente descobre que perdeu tempo demais se dedicando a castelos de areia que nunca tiveram forma e foram levados pelas ondas. 


A gente precisa de momentos em que nada é levado à sério se quisermos não enlouquecer. É gostoso falar bobagens, brincar de polícia e ladrão, perdermos horas criando uma vida paralela onde somos casados com uma condessa dos confins da Europa medieval, mas chega uma hora que é necessário ter os pés no chão e investirmos naquilo que temos disponível nas mãos.


Chega um tempo em que não queremos ser iludidos por um papo adolescente de ganhar dinheiro fácil ou ser popular num círculo social qualquer. Queremos estabilidade moral, emocional e financeira para nos jogarmos no sofá de uma noite qualquer e assistirmos nossa série preferida sem pensar em quem vai ligar ou vai nos questionar sobre um fato ocorrido na época de escola.


Não sei se amadureci, mas cada dia menos me deixo levar por coisas que não vão me trazer valor ao pensamento. 


Pedro Garrido

Poder das palavras

A gente se importa tanto com o que é dito sobre nós que nos esquecemos de tudo que nós somos, do contexto em que algo foi dito e da pessoa que disse. Nem tudo que é dito é na intenção de agredir ou se defender, nem tudo é desespero, urgência, ou é para nos atingir. 


Como já diz o filósofo, o que a pessoa diz sobre mim não revela quem eu sou, mas revela quem ela é, revela sua visão parcial dos fatos ou de si mesma. Às vezes não é o que é dito que assusta, mas a forma como dizem. Não temos o controle das palavras dos outros, muito menos da entonação e do sentimento do momento em que a palavra é dita, por isso muitos mal entendidos surgem e muitas pessoas ficam anos sem se falarem até que tudo seja finalmente compreendido. 


A gente se importa demais porque isso fere muita coisa em nós, nossa vaidade, nossa noção de ser e de espaço, nossa dificuldade em lidar com o inesperado e um julgamento que vem de onde menos se espera pode sim nos colocar de joelhos no chão. Palavras tem poder, sentimentos mal empregados nas palavras podem ser facas afiadas nas mãos de guerreiros ou de lutadores inexperientes. 


Nos culpamos facilmente pelos sentimentos dos outros sobre nós e esquecemos de avaliarmos quem somos de verdade, por isso palavras inocentes nos ferem, por isso ferimos quem gostamos, por isso causamos tanta dor sem percebermos. Usamos a palavra de acordo com o que sentimos sem abrirmos mão da sensação do momento para avaliar o que é verdade ou não no que vamos dizer. 


Palavras tem poder! 


Pedro Garrido

Sobre estar consigo


Às vezes é bom estar sozinho, ficar no seu universo paralelo fazendo reflexões, ouvindo o som do silêncio, procrastinando e olhando o teto. Eu gosto de ter companhia, de estar no meio das pessoas que admiro, mas não abro mão dos meus momentos de solidão. Algumas respostas só surgem quando eu estou em estado contemplativo, as minhas orações mais verdadeiras só surgem quando eu sinto que estou em paz comigo mesmo.


Até mesmo nos momentos de conversa entre amigos, quando todos estão rindo, brincando, se divertindo, eu tiro alguns momentos para ter meu afastamento, observar como é cada ato de cada um, o que cada um está sentindo, a história de cada um até aquele momento. É quase uma leitura de um livro, uma biografia sendo editada naquele exato momento. Por isso, ficar de fora pra mim nem sempre vai ser ficar de fora, eu continuo ali, mas em um estado de catarse, absorvendo, sentindo, visualizando e ao mesmo tempo agradecendo por estar lá, desfrutando de viver aquilo tudo, vivendo cada segundo ao lado dos meus, transformando tudo em algo maior ou menor, redimensionando minha própria vida é minha sensação de pertencimento.


Eu valorizo a solidão porque eu sorrio de cada bom momento, avalio cada erro e acerto que já tive na vida, repenso prioridades, relembro de pessoas, faço planos que nem sempre vão acontecer, aquela hora é a minha hora de sonhar acordado e de fazer o que estou fazendo neste exato momento. Escrever sobre algo que sinto, que surge, que explode, para que nada em mim venha a se implodir. É quase como se eu tivesse em uma viagem astral, mesmo que eu mal consiga sair de mim. Estar em mim talvez seja um dos meus maiores prazeres em um mundo em que todos estão tão conectados em tudo.


Se me ver sozinho por aí, não se preocupe, eu não estou só!


Pedro Garrido

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Renovação

A nossa vida é permeada por datas que simbolizam a renovação, ano novo, natal, aniversário, as estações se renovam, entre outras coisas, como se todos os dias estivéssemos morrendo e renascendo, trilhando uma nova maneira de enxergar o mundo, uma nova identidade, um novo apelo a viver a novidade e deixar o velho para trás.


Com a renovação tanto de nós fica para trás que se nós compararmos com o nosso eu do ano passado, muitos dos nossos desejos e sonhos mais infantis acabam se perdendo no caminho, é como se fossemos uma cebola e ano após anos fossemos perdendo uma camada dessa cebola, ao mesmo tempo que vamos ganhando camadas como as grandes árvores que a cada ano ganham uma camada a mais em seus troncos, facilitando a contagem de sua idade no processo final de sua vida.


A vida é uma constante troca, vamos perdendo camadas, partes de nós no caminho, e vamos ganhando marcas que simbolizam a maturidade do ser que somos, o que nos mostra como chegamos onde chegamos. As marcas que definem a idade da árvore são as mesmas que mostram o quanto o tronco é grosso e quantas intempéries ele foi capaz de vencer e resistir até chegar naquela idade.


Não quero fazer uma comparação entre ser uma cebola ou uma grande árvore nem estou oferecendo um lado vencedor, só mostrando que tudo no processo de renovação envolve a perda ou o ganho de uma camada, hipotética ou não. A perda de algumas dessas camadas pode nos causar algumas lágrimas como ao cortar a cebola, mas cortar a cebola é só parte de um processo que leva ao preto principal, muitas vezes não estamos percebendo onde estamos querendo ir porque estamos presos pensando ao corte da cebola, o corte somente pelo corte, a lágrima somente pela lágrima, quando tem todo o processo de vida, tem toda uma cosmovisão ao redor.


Filosofia, poesia, religião, ciência, quase tudo no mundo vai tentar propor algo sobre a renovação. Uma poesia que case com outra e mais outra, conceitos de infinitude dentro da própria finitude do ser, vida eterna, deuses, teoria do Big Bang. Tudo no mundo está em busca de um caminho de renovação, onde o que pareça ter acabado tem sua oportunidade de recomeçar. Algumas pessoas preferem acreditar que depois do fim só tem o fim e nada mais, pra mim isso é moribundo demais de se imaginar.


Desde o início da civilização acreditamos em processos de renovação e fazemos deles marcos que nos prendem ao oceano imortal das incertezas, talvez isso que nos dê a sensação de que estamos presos a algum lugar no chão, como uma árvore plantada na beira de um riacho, porque se não fosse essa certeza. O que seria de nós, vagando pelo espaço, sem um rumo conhecido, dentro de uma "bolinha de gude", procurando nosso próprio sentido?


Talvez seja mais fácil e melhor acreditar que haja mesmo uma renovação diária em nossas camadas e que perdas e ganhos são partes dessas camadas que ganhamos. Se somos feitos para sonhar e acreditar em recomeços: Por que não recomeçar agora?


Um brinde aos ciclos que se encerram aos que começam, a tudo que nos cerca, as camadas que ganhamos e perdemos com o tempo, a todos os eus que surgiram antes de mim e me proporcionaram ser o eu de hoje, e que talvez já não seja amanhã esse mesmo eu. Não tem como conter o fluir do tempo que nutre a raiz da árvore da vida, o que temos é que viver e aprender com as marcas que nos são dadas.


A renovação é o nosso próprio abrigo, nossa maneira de nos mostrarmos vivos diante e dentro do nosso próprio eu cósmico em constante morte e (re)nascimento. Em constante transformação, sólido, líquido, gasoso. 4 elementos gerados e moldados por uma quintessência. Um fio que sempre ilumina o pavio, sem se apagar ainda que não se veja sua luz.


Pedro Garrido

Sobre buscas

Todos nós estamos em busca de oportunidades, mostrando diariamente nossos currículos nas redes sociais, postando fotos, feitos, livros lidos, músicas ouvidas, viagens, sonhos e tudo que pode ser visto. O problema é que fazemos o que fazemos e ainda estamos insatisfeitos, estamos cansados, doloridos, esperando um oasis de visibilidade no meio do deserto onde tudo é feito de placas de "Me veja", "me leia", "consuma minha ideia", "faça igual a mim", "Seja como eu"...


Cansa o tempo todo estar em busca de uma vida de fama e reconhecimento, uma vida onde todos os títulos façam sentido, onde toda a pompa de uma vida de glórias tenha de fato algum propósito. Onde palavras sejam ditas realmente com intenção, onde somos todos gratos de verdade, independente do que o outro pode nos proporcionar, realizar e por aí vai...


Estamos todos em busca de um lugar ao sol, querendo ser seres intocáveis, quase deuses, onde tudo que sabem sobre nós é que nos tornamos famosos por algum motivo que já nem lembramos mais e na primeira esquina nos perguntamos: Onde nos perdemos de nós mesmos nessa busca incessante por algo que nem sabemos exatamente o que é?


Todos os dias tentamos iniciar uma nova caminhada, nos esforçamos para alcançar novos degraus, algo que mostre que estamos avançando na vida, melhoramos nosso armário, nossa cama, nosso vocabulário para impressionar quem nos conheceu quando não éramos ninguém... Mas... Podemos até ser alguém, porém será que nos convencemos disso tentando provar algo a alguém? Qual será realmente a marca que vamos deixar na nossa geração ou na geração futura?


Como queremos ser vistos e lembrados? Qual o nível de esforço que devemos dispensar para alcançar o que de fato queremos? Somos ansiosos demais e queremos ter controle de tudo e de todos para que a nossa criança interior finalmente se sinta realizada, para que ninguém perceba o que nos falta e quanto mais fazemos, mais tentamos esconder a falta que está lá no cantinho do lugar de memória da nossa vida. 


Todo excesso esconde uma falta e parece que todos nós temos uma falta muito mal escondida, porque muitas vezes cometemos exageros verborrágicos em busca de esconder a falta do que parece simples de dizer. Exageramos nos sorrisos para esconder a lágrima que teima em descer na madrugada. Queremos dar conta de carregar o mundo nas costas porque temos medo de sermos carregados justamente pelos outros medos que nos consomem. Somos diariamente combatentes e combatidos por nós mesmos e ganhamos inimigos sem percebermos o tirano que nos tornamos tentando governar algo que nem nosso é.


Desconfie daquela fala muito eloquente, daquela gente com cara de bem resolvida que vive dando conselhos, do cara bem arrumadinho que está sempre de bem com a vida, expressando seus troféus com um olhar. Não tema a crítica de quem nem sabe o que está fazendo ou já fez tanto que se perdeu tentando provar os próprios méritos.


Para de fazer a parte dos outros, para de tentar se igualar a heróis que nunca tiveram fracassos, pare de acreditar 

em testemunhos que escondem as quedas antes de alcançar a tão sonhada vitória.


Um dia de cada vez, um sucesso por dia, uma queda, um fracasso, um dia improdutivo, alguns dias se recuperando de uma doença inesperada, assim é a vida. Não se renda aos artifícios de artificialidade que pintaram sobre alcançar a fama, o sucesso ou dinheiro.


Pedro Garrido

sábado, 3 de abril de 2021

O sabor das coisas

 


Doce, salgado, azedo, amargo... Sabores muito comuns na nossa vida e que nem sempre a gente dá a devida atenção. O cheiro de café quente de manhã que faz a gente acordar num estalar de dedos pra comer um pãozinho com presunto e queijo, o sabor do chocolate entre os dedos na nossa tenra infância, o suco de maracujá com gostinho de roça, os sabores que vão dando saudade, ditando experiências e nos cercando de lembranças.

Há quem diga que existe um tipo de sabor chamado umami, uma mistura de todos em um, ou algo que não é nem um nem outro, é estranho, mas dizem que é só mais um sabor agradável, quem saberá definir o que é ou não agradável ao paladar alheio?

O paladar refinado ou não, vamos sentir os mesmos sabores em tudo, mas a experiência é única e subjetiva, isso não pode ser tirado do ser humano. Mas pensemos, e se de uma hora para outra todos os prazeres mais saborosos humanos fossem retirados do nosso paladar? Como seria o nosso café da manhã? Como seria aquela sessão de cinema onde o primeiro beijo inocente aconteceu? Como seria a sensação de andar no parque sem aquela pipoca doce toda grudada de manteiga?

Às vezes é como se a vida perdesse sentido, perder todos os sabores é uma agressão a nossa memória, é parte de nós se perdendo em um vazio de imagens e formas desconexas, e é aí que olhamos e percebemos que a mesma coisa acontece quando a tristeza ou sentimentos ruins tiram nossa vontade de estar junto, tudo perde o sabor, metaforicamente falando e não adianta comer, beber, brindar, jogar conversa fora, tudo tem a mesma aparência disforme, sem qualquer beleza que nós faça querer admirar um lugar, uma pessoa ou um objeto como se fosse um alimento.

Um dos sintomas da Covid é a perda do paladar e do olfato, mas não é preciso ter a doença para perceber que muitas vezes deixamos de lado o sabor das coisas, deixamos e desvalorizamos aquilo que não parece saboroso aos nossos olhos, e a dificuldade com que avançamos na vida profissional, ou em qualquer outro aspecto que nos sobrevenha, faz com que olhemos nossos avanços mais significativos como uma substância disforme e estranha, como se não merecessemos sentir o sabor de uma vitória ou o cheiro de café que nos leva a sentir o dia de outra maneira, ou nos privamos de lambuzar nossos dedos com chocolate, porque tudo é tão cinza que não nos damos o prazer de desfrutar de um sabor novo.

Na iminência ou na possibilidade de perdermos os sentidos, parece que damos mais valor a eles, como se fossemos degustadores de vinho, querendo aproveitar o máximo daquela sensação até que ela se esvaia em um gole, uma mordida, um sorriso, um choro... A sensação de perder algum desses sentidos nos leva a querer sentí-los como se nunca tívessemos sentido nada igual. O doce fica mais doce, o ácido arde na língua, o salgado se prova mais saboroso, e vamos degustando cada sabor da vida como se a própria vida tivesse por se findar. Queremos viver e sentir tudo como se nunca tívessemos vivido ou sentido antes, o sabor das coisas nunca mais é igual a antes quando se acredita que pode ser perdido a qualquer momento, o sabor da vida parece amargo, mas a iminência de perder até o amargo nos faz valorizar até o jiló que tanto odiamos, talvez você não, mas muitos odeiam, e mesmo não tendo perdido meus sentidos, tiro para mim esse momento de reflexão.

É preciso sentir todos os sentidos para se sentir vivo, é preciso saber lidar com todos os sabores, mesmo o mais amargo se não quiser viver uma vida em parte, é preciso dar valor ao doce momentâneo de um perfume ou de uma bala, é preciso sentir os sabores nos cheiros, nas notas musicais, no raio de sol que nos ilumina mais um dia, é preciso sentir os sabores das coisas que tocam nossa boca e das que tocam nossa alma, o céu da boca pode ser um limite para o paladar, mas o céu não é um limite para quem ousa ter sonhos e deseja realizá-los. 

Que a gente não precise perder o que é nosso para valorizar o que sempre tivemos de bom e possamos assim como o degustador sente o sabor de forma refinada, possamos compreender melhor o sabor das nossas emoções e de cada conquista que é posta em nossa mesa como um café da manhã.

Pedro Garrido