sábado, 29 de junho de 2019

Empoderar

O maior ato de empoderamento que qualquer ser humano pode ter é o ato de se conhecer. Conhecendo a si mesmo é que o ser, seja homem ou mulher, vai ser capaz de dizer quem ele é, quais são suas vontades, necessidades, gostos, virtudes e trivialidades.

Empoderar-se nada mais é que conquistar a autoestima necessária para tomar o lugar que é de fato seu, reconhecer o seu lugar no mundo, na sociedade e dentro de si mesmo. É renascimento de alma quando não se acreditava que a alma teria capacidade de subsistir, é afirmação de corpo e mente como senhores de suas ações, sem medo de falhar ou a imposição de sua certeza sobre outras pessoas.

Empoderar é reconhecer limites e superar, restaurar capacidades esquecidas e valorizar, é se lembrar de todas as qualidades e se reconquistar, saber que todos nós temos defeitos e aprender a lidar com eles de forma mais leve. Pouco a pouco, resgatando as emoções saudáveis, renomeando sentimentos, curando as feridas, aprendendo a se perdoar e perdoar o que parecia impossível.

Empoderar é assumir o seu próprio lugar, sem tomar o lugar de ninguém, saber que todos tem o seu próprio espaço e respeitar quem veio antes de você, mais que isso, empoderar é se curar das inferioridades e complexos que atravancam a caminhada. É ter uma personalidade, uma identidade, é ter um rosto novamente, ter total controle de si mesmo.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Camisa amarela

Camisa amarela

Quando era menino,
Com um cachorro fui brincar.
Bati a cabeça no chão,
E desatei a sangrar.

Uma camisa amarela,
Minha mãe usou para estancar.
A sangria desatada,
Enquanto eu estava a chorar.

A camisa foi guardada,
Para que eu sempre pudesse me lembrar,
Que mexer com quem está quieto,
Pode problema dar.

A camisa eu já não tenho mais,
O cachorro já não preciso temer.
Mas aprendi com a vida,
Que com alguns sentimentos não se deve mexer.

Muito, muito tempo atrás,
Fui atacado de forma mordaz,
Uma jovem amada,
Me feriu de palavras mortais.

Em silêncio me recolhi,
Guardei os prints dos "elogios" que recebi
Para nunca mais me esquecer,
Que existem várias formas de um ataque se proteger.

Você escolhe se deseja se recolher,
Se deixa o trauma te fazer tremer,
Ou como numa metamorfose,
Você não deixa aquilo te abater.

O print e a camisa podem nos ensinar duas coisas.
Ou a gente guarda algo até não lembrar mais o porquê,
Ou a gente perdoa os infortúnios da vida,
E aprende a perdoar, jogar fora o que não serve e aprende a esquecer.

É verdade que a dor desatina a doer,
A marca fica para que possamos aprender,
Mas a dor nesse caso é opcional,
Encontrar a curar é algo natural.

Como já minha mãe avisara,
Com qualquer cachorro não se pode brincar.
Eu outrora acrescentara,
Quando se trata de coração,
A gente pode muito enganar.

Mesmo com as dores não tenha medo de amar,
Eu hoje não tenho medo com animais de brincar,
Mas não brinque de com o coração amar,
Ame de verdade, amor é coiaa séria,
Mesmo que haja algum penar.

A camisa que veste nossos traumas,
Nem sempre vai ser amarela.
Podemos dar novas cores às nossas almas,
Transformado as dores em poesia
Com alegria em tons de aquarela.

sábado, 22 de junho de 2019

Saudades

Eu tenho saudades da saudade que eu tinha de você, saudade dos momentos que não existem mais, dos olhares e beijos inocentes, das conversas aleatórias, dos momentos infantis e adolescentes, e das caricias mais quentes e imprevistas. Tenho saudade de tudo que não existe mais em nós.

Eu tento fugir, eu tenho continuar, mas em meus sonhos você sempre está lá. Não faz sentido imaginar ou lembrar, tudo ficou para trás, agora eu fico não querendo mais acordar, porque sei que ao despertar vou sentir saudades da saudade que tinha de você.

Quando eu olho tudo que existiu, não vejo mais nada que me faça ter esperanças, quando me deparo com as peças, de roupas ou quebra-cabeças que ficaram perdidas no caminho, só jogo no lixo e continuo minha caminhada. Já não tenho mais lembranças que me estremeçam, mas quando apareces em meus sonhos, eu sinto saudade da saudade que tinha de você.

Nem sei mais quem é você, nem sei para quem escrevo estes versos, será que era você nas fotos mesmo? era real? Será que tudo isso existiu ou foi mero devaneio? Tenho saudades da saudade que tinha de você, porque quando tinha essa saudade ainda era possível te reconhecer. Hoje é tudo mero silêncio e tons escurecidos de ilusões que se confundem na multidão de pensamentos.

O que ficou foi a saudade da saudade que eu tinha de você. Como eu não sei mais o que é ter saudades, não lembro mais se o que vivemos foi sonho ou realidade.

Agora tanto faz, cansei de ter saudades, tudo que passou foi mera vaidade. De agora em diante eu sou consciente dos grandes momentos que ainda vou viver. É disso que quero lembrar quando um dia sentir saudades.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Pessoas mudam

Todas as pessoas mudam, muito do que fica em nós é só a saudade do que fomos e a falta do que algumas pessoas foram para nós antes delas mudarem. O que fomos ontem é sombra do que somos hoje e amanhã seremos provavelmente sombras do que fomos muito tempo atrás, em breve só restarão sombras e não haverá nada para lembrar.

O tempo tem dessas coisas, as nuvens que atravessamos nos transformam, parte do que nós éramos atravessa o tempo e outra parte fica no muro nebuloso da travessia da vida. O que você veria se olhasse na esquina da sua existência e todas as cenas dos acontecimentos se cruzassem no mesmo momento como um filme sobreposto? Todas as pessoas que te abraçaram e te deixaram, todas as vindas e despedidas, como se fosse um filme que dizem passar no final da nossa vida. Quais seriam as emoções ao ver todas cenas acontecendo de uma só vez?

Tudo mudou e está em constante mudança. Em uma dessas esquinas da vida podemos nos esbarrar novamente. A decisão de permanecer no passado ou viver o agora pertence a cada um de nós. Vamos lembrar e sorrir dos momentos felizes, vamos morrer carregando aquela dor antiga de uma conversa não terminada, vamos ter vergonha e atravessar a rua evitando aquela memória que já perdeu sentido?

As sombras não perdoam o que passou, somente na nossa realidade somos capazes de dar vida ao que antes era mero símbolo, somos capazes de iluminar as áreas escurecidas da nossa alma. Não precisamos ficar presos ao aspecto sombrio das imaturidades que vivemos. O que éramos agora é sombra, o que somos é a realidade!

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Amizades

As pessoas mais próximas de nós nem sempre serão nossos melhores amigos ou serão tão próximos como aparentam.

Algumas pessoas podemos ter visto duas ou três vezes na vida e a sintonia acaba fazendo esta amizade intensa e duradoura, outras podemos ver quase todos os dias, mas por haver pouco em comum, não há intensidade, não há o sentimento de quase exclusividade, não há aquela cumplicidade de dividir histórias e afetos. Existem aquelas amizades em que quase nada há em comum, onde em muitos pontos se discorda, em que os gostos são opostos, as experiências são outras, mas quando essas pessoas se encontram, a amizade aparece no sentido real de intensidade e vontade de partilhar momentos juntos.

Em uma era onde quase tudo acontece pelas redes sociais, é no terreno da realidade em que as nuvens da internet se desfazem e que a gente enxerga o que fica das curtidas, comentários e compartilhamentos. É na vida real em que se compartilham mais que momentos registrados em grandes textos, onde os conselhos são isentos da psicologia azul dos posts do Twitter, é lá em que olhamos nos olhos e não nas fotografias colocadas com filtros do Instagram. Sentados no banco verde da praça, sem que ninguém acompanhe a live da conversa no YouTube sem que haja nenhum propósito específico.

A amizade está por trás das camadas de filtros, vídeos, sorrisos e entrevistas que criamos para dizer quem somos e quem são os que nos "seguem", a amizade real está além de toda essa banalização de "status" e "stories" que queremos ou achamos que precisamos postar o tempo todo. Está nos momentos simples que são simples, e que por serem simples não precisam de maquiagem para comprovar que existiram.

Existem os amigos que frequentam a nossa casa e existem os que frequentam o nosso coração. Existem os amigos que dividem as páginas de suas redes sociais e existem os que dividem as páginas de suas vidas reais. Existem os amigos que apenas nos suportam em nossas limitações e existem aqueles que nos fazem avançar e ir além!

Há quem goste de mostrar o que faz, há quem goste de não se expor, há quem prefira a badalação e ter um milhão de amigos, assim como há também aquele que prefira a intimidade de ter aquele amigo mais chegado que irmão.

Tudo que ultrapassa a naturalidade, quase tudo que viraliza, muito do que se expõe sobre estar cercado de pessoas, rodeado de risadas, repleto de abraços, nem sempre é verdade. É importante sim valorizar momentos em que as risadas, os abraços e as conversas aconteçam, mas não devemos nos iludir que a amizade está só na comemoração propagada, gravada, marcada e fotografada. A amizade está no gesto comum, está no no sorriso amarelo, no abraço de despedida ou da chegada, na conversa aleatória, na lembrança do aniversário, na discussão sem motivo aparente.

Amizade é o que se conhece do outro na intimidade, os segredos, os vícios, as virtudes, os pequenos detalhes que ninguém mais saberia. Nada contra quem faz de pequenos encontros grandes eventos, só que muitos grandes eventos estão acontecendo agora, sem que ninguém se dê conta disso. A amizade é um grande evento e merece ser celebrado, portanto, não se importe com minhas palavras se elas te ofenderem, apenas seja feliz e tenha amigos!

Com ou sem câmeras, seja feliz!

Transformação

É assustador olhar para quem você é hoje e comparar com quem você era algum tempo atrás. Você olha as antigas amizades, as conversas por mensagens, as lembranças, fotos e tudo que rememorava alguma época no passado e se questiona: Como eu fui assim? Como eu me tornei quem eu sou agora? Por que eu mudei tanto?

A gente não percebe que mudou, mas quando olha de fora para o que já foi, para tudo que falou e todas as atitudes que teve, a mudança é realmente assustadora! Algumas daquelas atitudes parecem ridículas, algumas palavras ditas antigamente não parecem que seriam ditas da mesma forma hoje, o que causava riso ontem, hoje já não causa mais. A maturidade joga na cara onde estavam os erros, parabeniza pelos acertos, nos mostra onde fomos libertos e o que ainda precisamos nos libertar.

É tão bom ver que o tempo passa e que existem segundas chances. Por mais que as pessoas que passam por nós não tenham dado a oportunidade, nós somos capazes de nos dar o recomeço, nos reinventarmos e seguirmos mais fortes que antes.

É muito bom saber quem nos tornamos mesmo diante das adversidades, é melhor ainda saber que podemos ser seguros de quem podemos ser.

Perda ou livramento? Tanto faz, não importa! Não é sobre o que o outro me fez ou deixou de fazer! É sobre o que eu fui capaz de fazer a mim mesmo quando o resto do meu mundo se resumia em ausência e desolação. Com isso eu não faço nenhuma crítica, nenhum desdém, nenhuma vingança. Apenas agradeço por cada momento em que cada pessoa fez parte da minha vida e da forma que fez. Não cabe a mim me mostrar superior, tentar afirmação ou superação, cabe a mim apenas ser grato pelos momentos e pelos ciclos que se cumpriram da minha vida.

É bom saber quem nos tornamos, mesmo assim é assustador!

Emocional

Todo mundo precisa ter um momento na vida para gritar sem que os outros olhem e o chamem de louco. Aquele momento em que nada importa, em que é só você e você mesmo, em que todas energias são descarregadas no extase do sentimento. Onde a alegria se mistura com a ira, o sorriso e a lágrima escorrem ao mesmo tempo, onde a expressão não precisa fazer sentido, a comemoração não precisa ter motivo, a tristeza não precisa ser real, onde você se desfaz e refaz as pazes com o próprio ser.

Estamos todos muito comedidos, segurando as emoções diante do esperado e do com medo da reação ao inesperado, tudo muito controlado. A explosão quando ocorre é julgada pelos outros como sinal de descontrole emocional, a implosão é tida como fraqueza, e nessa vigilância completa todos nós vamos morro abaixo nas nossas crises existenciais, dominando a ansiedade e fingindo sintomas de normalidade diante da depressão.

As pálpebras tremem, o estômago ferve, o zumbido ensurdece, o coração dispara, todos os sintomas internos demonstram a ausência de uma atitude externa. As palavras não demonstram a dor e escondem o que o corpo tenta dizer, os pensamentos se tornam sombrios, as orações desprovidas de fé se tornam repetitivas, e assim tudo se consome em angústias dolorosas.

Não ter medo de surtar algumas vezes é algo fundamental, chorar não faz mal a ninguém, sentir a perda é normal e precisa ter seu tempo de luto, ao mesmo passo que precisamos comemorar como crianças os pequenos ou grandes passos que damos, a conquista que tanto lutamos. Que se dane se alguém tem inveja, tenha orgulho de si mesmo, pare de negar o mérito dos seus feitos, não se envergonhe de ter errado, não ignore a dor, nem diminua o valor de uma batalha vencida.

Para ser por completo é necessário sentir, conhecer e agir por inteiro. Nada de metades, contingências ou timidez!

sábado, 1 de junho de 2019

Poesia do fim do mundo

Quem dera meu mundo acabasse em poesia
Para a minha amada eu a declamaria
Até o fim dos meus dias sobre o amor
O último segundo seria o de maior valor.

Diante dos meus braços
O mundo se acaba nos nossos abraços
Estamos atados por laços
Nem o fogo atroz desfaz os embaraços.

Seu corpo nu agora evapora
Meus dedos em suas mãos me lembram outrora
Quando antes do início olhávamos a aurora
Acreditando que o dia nunca teria fim.

Agora tudo não passa de vento
O fim imediato parece invalidar o tempo
Os segundos do relógio passam despercebidos
Eu e você somos uma sopa cósmica de amores perdidos.

E agora? O que será da nossa história?
Como será contada a nossa vitória?
Dois átomos que persistiram bravamente
Até depois do último brilho pulsante.

Irradiantes ondas pelo universo ecoaram,
Tempo e espaço implodiram na colisão,
A última fagulha de luz se apagou na imensidão,
Dos restos poéticos de uma antiga civilização.

Ah se a poesia fizesse o tempo voltar,
Declamaria mil odes de amor eterno,
Um milhão de versos fariam o relógio parar,
No exato instante que nosso beijo se fez terno