sábado, 16 de setembro de 2017

Nuvens.

Sobre pessoas e nuvens

Pessoas são como nuvens, estranha comparação, mas nas entranhas faz todo sentido imaginar. Temos nuvens e pessoas de diversas formas, tamanhos, cores e sabores.

Todos somos passageiros, todos somos como nuvens ao sabor do vento, indo e vindo, mudando, transformando, chovendo, secando, atravessando montanhas, virando mares aéreos, algodão, solidão,  fantasia, imaginação.

Existem nuvens que passam tão rapidamente, que nem percebemos para onde foi. Existem aquelas nuvens, que mesmo com o vento teimam em permanecer, passam devagar como se nos observasse, como se quisessem ser contempladas.

Tem aquelas nuvens que passam baixas como névoa, como se te envolvessem e quisessem te levar com ela, algumas chegam cedo, outras ficam e se disfarçam esperando o fim do dia. As névoas gostam de manter o ambiente pouco visível, talvez queiram que você se perca dentro dela e desista de sair.

Nuvens altas que te deixam inebriado, te fazem olhar para o alto e imaginar a distância que estaria de você, o avião que passa lá no alto ainda está bem abaixo dela, nuvem de ares rarefeitos, fria, gélida, não é fácil de alcançar.

Tem aquelas nuvens em formato de algodão, que cortam o céu com ar de simplicidade, tomam conta de tudo e trazem consigo o ar de tranquilidade, dá gosto de ver o dia amanhecer e anoitecer com ela, dá vontade de ser como ela e ir rumo ao horizonte.

Tem nuvem que é tão pequena que some, se une com outras maiores, se desfaz no menor toque, nuvem delicada, dá vontade de guardar num pote e nunca mais mexer...

Tem nuvem que nem nuvem é, é fumaça, rastro de avião, explosão de fogos, é tudo, menos nuvem, você vê passar, não sabe como começou e nem como vai terminar, mas dali nem chuvisco sai.
Frente fria, é aquela que chega e vai, traz o frio que carrega em sí, leva frio por onde passa, a chuva cai incessantemente, é como o coração humano que já amou um dia, mas deixou de acreditar.

Algumas nuvens são avassaladoras, chegam breves, suaves, mas são indício de grandes tempestades, quando você acha que ficou tudo tranquilo, é que acaba de entrar no olho do furacão, no final, domina tudo por onde passa e quando termina, quase nada sobra de você, o furacão acaba e só resta contar os prejuízos.

Tem a chuva de verão, que se levanta com o calor do momento, grande, imponente, forte, delas saem raios e trovões com frequência, parece muito nervosa, mas no cair da tarde ela cai junto, desaba em chuva, granizo, uns 20 minutos e depois ela se revela nas cores do arco-íris, levando beleza e frescor ao final do dia.

Tem aquela nuvem de poeira, tempestade no deserto, tudo que é seco, permanecerá seco e assim será. Vento, apenas vento quente, que faz qualquer viajante sentir sede e ver miragens, talvez traga ilusões quase reais de que tem algo lá, mas te maltrata e mata.

Poluição urbana: Baixa como a névoa, porém tóxica,  perigosa, te deixa doente, traz chuvas que corroem o ferro, afaste-se do modo urbano dessas nuvens.

Somos todos pessoas, gerados em nuvens cósmicas de poeira, lá onde estrelas e planetas nascem, também nascemos nós, talvez por isso sejamos como nuvens, tão caóticos, tão passageiros, tão misteriosos, porque somos pessoas buscando por nuvens ou o contrário e não sabemos.

Deixe a luz entrar!

Deixe a luz entrar!

Abra a janela, deixe a luz entrar!

Que ela ilumine aquele cômodo mais escuro da casa.
Que ela ilumine aquele lado mais incômodo da alma.
Que ela chegue ao seu coração.

Abra as portas da alma, convide o sol a entrar, sirva um café quente, tenha uma boa conversa.

Aquele canto empoeirado vai ser revitalizado, aquela roupa antiga pode ser doada, aqueles livros esquecidos voltarão a ser lidos, sonhos engavetados serão realizados, mágoas guardadas no espelho serão apagadas.

Deixe a luz entrar, tire tudo do lugar, jogue fora o que não serve mais, muita coisa boa pode acontecer quando decidimos nos livrar do que não nos serve mais.

Dê o seu sorriso mais verdadeiro, derrame sua lágrima mais contida, arrebente as cordas que te aprisionam, quebre toda corrente que te limita!

Hoje é o seu dia de deixar a luz entrar!

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Alma em guerra.

Me enveredei em sua alma, mas ela estava tão cheia de multidões, que não sabia se aquela multidão era feita por várias versões inexistentes de mim ou versões exageradas de sí mesma.
Aquela cena deu medo e antes que minha alma se tornasse parte dessa multidão perdida, peguei o caminho de volta daquele imenso labirinto, busquei as partes de mim que quase se arderam nas chamas de suas insanidades e mesmos marcado pelas cinzas que voavam dessa guerra interior, busquei a luz que ainda se via pela janela antes que tal abertura se fechasse.
A dor de entrar em um espaço tão apertado ainda ecoava sobre o meu corpo, enquanto as chamas distantes que, mesmo que eu tentasse, não se apagavam e ameaçavam desmoronar aquela alma antes que eu saísse, a pressão e a temperatura me impediam de pensar em qualquer solução que não fosse correr, e embora aquela multidão estivesse vestida de construção, tudo que se via eram restos perdidos de algo que nunca saiu do desenho para a prática.
A sensação era de que se tal alma não tivesse tão ferida, ali haveria um grande espaço para estabelecer minha morada, mas o tempo era curto e eu não poderia experimentar as ilusões advindas de cacos de civilizações mortas.
A guerra por algum momento invadiu minha alma enquanto corria, minhas certezas foram derrubadas e saqueadas, quase me perdi dentro daquela guerra, suportei as dores daquela alma para não perder a minha, entreguei minhas riquezas para libertar quem não queria ser liberto, quem já estava acostumado ao terror interior, quem já tinha virado cúmplice do próprio sequestrador, então só me restava pular de uma alma em 150km por hora rumo ao precipício e me machucar o menos possível na fuga daquele terreno infértil na busca de paz.
Minha alma que já experimentara guerras e furtos anteriores, se assombrou diante da possibilidade de tamanho golpe, então entre momentos de silêncios, gritos e ensaios de retirada e combate, finalmente estava na porta de saída e olhava para tudo que acreditava que seria reconstruído, mas que por causa do desgoverno daquele território, não havia quem levantasse a ruína daquela alma, me lancei antes que o precipício fosse o fim de minha busca e decidi que mesmo que doesse, minha alma não deveria perder a própria essência para morrer em guerra inútil contra inimigos invisíveis.
Fraco, porem mais forte, venci as minhas batalhas, mesmo que com alma dolorida e saqueada, ainda com caminhos um pouco tortuosos, pude me jogar e buscar a cura que não pude proporcionar, entrei de volta em mim mesmo e voltei a me governar, uma alma cheia de espaços novos se revelou, novas construções se instalaram, novos aprendizados estavam nas marcas deixadas enquanto estive fora, tudo que tinha perdido estava lá, porque não deixei que as feridas me colocassem no mesmo nível daquele espectro de ideais fraudulentos.
Venci o que era pra ser vencido, antes que pudesse ser plenamente derrotado, encontrei a saída, mas desertei sabendo que deixei sementes, que mesmo vendo a vontade daquela alma e ver o precipício, em algum momento haverá renascimento, tardio ou não, aquela alma há de florescer de vida em plenitude.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Eu consegui ser o máximo de mim.

No começo eu achei que não conseguiria, na verdade achei que era pequeno e não cresceria, me diminui acreditando que o máximo de mim era ser breve e solitário, era ser médio, medíocre, apenas respirar fundo, com medo de dormir e ter pesadelos em vez de sonhar.

Aos poucos fui crescendo e vendo que poderia ser mais que isso, que poderia ser muito mais do que eu mesmo imaginava, só que crescer envolve ocupar espaços e nem todo mundo está preparado para ver outras pessoas ampliando suas fronteiras. Umas pessoas disseram que eu era pouco, outras que era louco, terceiras duvidaram que isso continuaria, com isso eu fui descobrindo que eu poderia dar o máximo de mim e superar os limites que eu conhecia.

Eu não estudei o suficiente, mas procurei aprender. Eu não trabalhei o suficiente, mas busquei conhecer.
Eu não amei o suficiente, nunca é, mas me doei ao extremo.
Não dei dinheiro aos pobres, mas dei parte de mim como riqueza.
Eu não subi montes e desci vales, mas fui aos confins do meu universo interior.

Na profissão eu não encontrei descanso, no amor eu não encontrei diversão, eu acreditei sempre no que era possível, eu me entreguei aos desamores, virei noites acordado, fui berço e colo, fui mar e solidão, fui desespero e serenidade, do carrossel para a montanha russa, voei e afundei, naveguei em águas de mares bravios, atravessei rios rasos e quase me afoguei em poças pequeninas de aprendizado sem fim.
Mesmo que não tenha sido o melhor, mesmo que não tenha sido o maior, mesmo em meio aos maiores confrontos internos e externos, ainda assim, com toda dificuldade em vencer, ainda que perdesse algumas batalhas, deixasse oportunidades passarem, não me entreguei, não me corrimpi, não joguei a toalha, não devolvi meus territórios conquistados, posso dizer que eu consegui ser o máximo de mim.