terça-feira, 28 de abril de 2020

Sobre a (ins)piração

Sobre a (ins)piração

Não sei se é assim com vocês, mas comigo a inspiração tem surgido assim: Eu esqueço que tudo ao meu redor existe, a atenção foca única e exclusivamente no que surge em minha mente. Eu abandono tudo que estou fazendo, deixo de ouvir todas as vozes e passo a escrever com o que flui do rio das palavras. Ela vem e eu obedeço, eu escrevo e ela se derrama, quase terapeuticamente eu vou pontuando e criando o mundo dentro de mim enquanto o mundo fora de mim pode estar desabando.

Eu me direiciono para onde o vento leva e aí de mim de querer tentar fluir em outra direção. Nada funciona até que eu tenha terminado de fluir rumo ao mar, só quando chegar ao mar que consigo navegar novamente até a terra firme. Chegar em terra firme pode demorar apenas alguns minutos ou horas absorto sobre o texto, imaginando detalhes, colhendo e plantando estrelas, vendo as luzes do sol da meia noite enquanto fora de mim são 10 da manhã.

Não tente me tirar de mim enquanto escrevo, interromper o rio pode ser tão mortal quanto a famosa lenda de acordar alguém de seu sono. Me deixe sonambular poesia enquanto sou capaz de escrever, quando o rio é interrompido, me torno ninguém, como quem é acordado no melhor do sonho esperado.

Eu me inspiro e respiro, o sopro de vida, o fôlego está em dar som e tom ao que escrevo. Vim, vi, não sei se venci, mas descrevi tudo no caminho e se puder voltar ao alto mar, só saio de lá com o tesouro perdido dos oceanos abissais do universo.

(Ins)pirei