sábado, 23 de novembro de 2019

Descolonizados

É preciso se descolonizar, deixar de ser guiado pelos medos e perigos, deixar de ser regido pelo além mar das limitações, declarar independência nas margens do rio da existência! É preciso ser forte e vivaz, lutar pelo que apraz, ter prazer sem se importar quanto vai custar, fazer as pazes com a vontade de sonhar!

Quebre as correntes que te prenderam em alguma escravidão, pode ter sido uma servidão mental, uma fraqueza espiritual ou um abuso relacional, não importa! Podem ter te escravizado, usado suas roupas, sua índole, seu caráter, desvirtuado sua cultura interna, desfeito sua personalidade, rasgado sua identidade. Mesmo dentro de um calabouço de silenciosos argumentos inquietos, ainda há oportunidade para se enxergar a luz do sol e vencer o que te desafia ou intimida.

Não troque ouro por espelhos, não deixe que suplantem sua terra, esgotem seus recursos espirituais, morais e dominem os vários aspectos que norteiam o seu eu! Não deixe que o abusivo chicote das palavras faça cortes profundos no seu coração, não deixe que usem sua imagem como escárnio, te coloquem como mais uma peça de museu, ou te coloquem como um uma raridade de zoológico. E se um dia tudo isso ainda tiver acontecido! Nunca deixe de abrir o sorriso e dizer como venceu e que sobreviveu para contar a história!

Um ser único com múltiplas características, assim somos nós como pessoa e como povo. Únicos e diversos ao mesmo tempo, indivíduo e nação. Temos dentro de nós um grande reino a ser protegido e um universo de autoconhecimento a ser desvendado

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Venci, a que custo?

Em algum momento da vida chegam até você e dizem que você não é capaz, você pega aquilo como se fosse a maior missão da sua vida e realiza. Satisfeito com o resultado, você joga na cara de todos que foi capaz de superar o desafio que lhe foi imposto. Após esse primeiro momento, a sensação de realização parece até boa, mas volátil ela desaparece e você descobre que disseram que você não seria capaz de cumprir um outro objetivo, e lá vai você de novo se desafiar e enfrentar os seus limites, novamente vence e novamente joga na cara de todos que foi capaz...

Objetivo concluído, porém com sucesso? Não, porque apontam inúmeros defeitos no que você faz e se desafia mais uma vez para provar que você consegue ser melhor e maior, até que motivado pela raiva, talvez buscando aceitação e segurança, você se impõe cargas cada vez maiores, tudo para se sentir alguém digno de respeito e reconhecimento, chega com todos os títulos e diplomas pendurados no pescoço como medalhas de honra ao mérito e dispara tiros de canhão em forma de palavras.

- Tudo aquilo que vocês me disseram que era impossível eu fiz!!! Sim, Eu fiz e fiz melhor do que esperavam!!!

Assim você esbraveja ao mundo a sua vitória, se declara vencedor de uma guerra e sem perceber o quanto perdeu buscando realizar o que os outros esperavam, deixou de realizar o que mais sonhava, deixou de ser quem você queria ser, deixou para trás alguém que seria muito importante para a construção do seu sucesso, deixou você mesmo de lado e foi em busca das realizações frustradas em expectativas pelos que não venceram como sonhavam, por aqueles que nem sequer lembraria de você no fim de tudo.

Palavras ao vento, tudo que disseram não passou de palavras ao sabor do vento e você carregou na bagagem o peso cada vez maior de conseguir ser maior e melhor do que cada um exigia que você fosse. Você conseguiu provar o que era improvável, e esqueceu de responder uma única questão: Era necessário?

Veja! O olhar cego, voltado para os desafios, fez um horizonte completo se fechar, diversas boas oportunidades podem ter passado sem que você percebesse, o seu sonho não era mais o seu sonho, era o sonho de um grupo, de uma família, ou simplesmente não ter sido o sonho de ninguém, apenas sua imaginação girando em círculos, como uma cobra em busca da própria calda.

A revolução que você esperava para o mundo, mudou quem? Viver uma vida em função dos desejos dos outros, resultou em que? Abrir mão dos próprios sonhos em busca de alucinações, gerou que tipo de frutos? Pois é, parece que muitos de nós não vivemos por nós mesmos, vivemos numa espécie de vingança, mostramos que somos capazes do que nunca precisamos mostrar e quando chegamos ao topo, descobrimos que vivemos metade de uma vida no automático, cumprindo obrigações desnecessárias, apenas nutrindo dor e mágoa, ressentimentos com motivos que provavelmente nem sabemos quais são. Estamos no topo, mas no topo do que? Estamos rodeados pela glória, fama e sucesso, estamos bem abastados, estáveis e... Insatisfeitos com a própria vida!

E agora??? De que adiantou isso tudo??? Só resta desfazer tudo o que foi feito, só que o tempo não volta, o que resta é abreviar a dor.

- Não!!! Não faça isso!!! Você já provou ser capaz de muito mais do que imaginava!!!

Até que à beira do fim, uma gota de chuva cai na palma da sua mão e te mostra que existe solução, que a vida é mais que o cumprimento de expectativas e que ainda existe oportunidade de fazer diferente. Não é possível voltar atrás, Mas não é necessário adiantar o relógio. A água que cai da chuva, lava a alma e transforma desertos.

Há tempo para todas as coisas, não se pode viver como se o cansaço fosse resultado de produtividade, também há tempo para descansar. Não se deixe levar pela pressão por resultados, expectativas e pela competitividade do mundo moderno. Quebre o ciclo das falsas motivações e veja a chuva cair e deslizar na janela.

Você é tão capaz quanto desejar, é capaz de realizar, de sonhar, capaz de ser autêntico em si mesmo. Não se jogue como dados em jogos de azar em busca do resultado perfeito, o resultado depende de quem joga, o resultado só depende de você viver o que é seu e de mais ninguém.

O Reencontro (Parte 2)

Naquela altura, no calor do momento, parecia que tínhamos assinado um tratado de paz, um armistício onde nenhum dos lados atacaria ou defenderia, o momento da bandeira branca hasteada, onde nos entregaríamos um ao outro, sem sabermos quem era colônia ou colonizado, numa espécie de guerra interiorizada. Harmonicamente soubemos um no abraço do outro, senti o corpo dela relaxar e nossos corações pulsavam como nunca tínhamos sentido antes, nossos olhos fechados se entŕegaram ao calor que emanava dos nossos corpos e a minha mão tocou a cintura dela, pele com pele, por onde a blusa tinha deixado um espaço aberto.

Sentir novamente minhas mãos passando pelo corpo dela, ainda que delicadamente, dava vontade de ir em frente, reconhecer como um viajante cada parte do corpo dela, mas me segurei e apertando o abraço, minhas mãos se entrelaçavam enquanto o mundo ao redor ritmava em outra velocidade e após alguns suspiros parecia que estávamos sintonizados em uma onda de rádio que só nós sabíamos qual era.

Naquele momento parecia difícil negar a vontade de estarmos juntos, minhas mãos acariciaram seus longos cabelos, sua nuca e seu rosto, como se nunca estivéssemos separados, levando a quase compreender o que se daria ali, naquele momento de quase paixão... Quase, porque como se tivéssemos levado um choque, a realidade voltou bruscamente em nossas memórias, e como um raio tudo mudou. Aquele longo ou rápido abraço cheio de detalhes acabou, temendo e tremendo nos soltamos, nos afastamos um do outro, não sei se centímetros, quilômetros, ou anos luz, mas a distância se tornou notável. Cada um com seu grito no peito, sua lágrima no olho e o perfume do outro na roupa. Escapamos um do outro, mas será que queríamos?