sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Estranho

Feliz é quem caminhou comigo e permaneceu mesmo durante os meus "estranhismos". Sim, tem dias em que eu sou e pareço muito estranho, talvez seja pela minha timidez ou por ser introvertido, o que pode ser a mesma coisa, mas quem nunca se sentiu estranho, que atire a primeira pedra, né!?

Já tive épocas na minha vida em que me afastei, outras em que me aproximei, dias em que eu não tinha nada inteligente para falar, já tive dias em que desativei a falar, dei conselhos, recitei poesias, mas teve dias em que eu me recolhi e nada me tirava do meu canto, me fazendo pensar em qual era o meu propósito neste mundo.

Não sei, até hoje eu não sei. Não sei meu propósito nesse mundo, mas as vezes eu finjo saber, finjo bem, finjo até saber o que estou fazendo, mas parece que apesar de fingir, tenho algumas certezas. Tenho certeza de que tudo isso que vemos é passageiro, mas pode ser pleno se nós fizermos tudo que fazemos de coração puro e voltado para o momento, o plantio é isso, fazer hoje, plantar amanhã e descobrir no final que tudo mesmo que feito utopicamente, valeu a pena.

Às vezes eu olho para o meu redor e me questiono. Será que eu soube chegar até a idade adulta como um adulto? A sensação que tenho é que não só em mim, mas em todos nós existem aqueles momentos em que só queríamos ser criança e a criança dentro de nós grita como se ainda não tivéssemos crescido, é muita responsabilidade, muita certeza pra se ter sobre muitos assuntos diferentes, é muita regra pra seguir, muito bom comportamento pra se ter, e o adulto aqui, às vezes não quer seguir em frente, só quer tentar entender o motivo de tantas coisas sem sentido.

Pareço estranho, talvez eu seja mesmo estranho, ou acho que sou normal e essa sensação pertence a todo mundo. Sei lá! Às vezes a gente só precisa se abrir e dizer em forma de texto, em forma de prosa ou poesia, o que não consegue em uma conversa comum. Feliz é quem escolhe caminhar comigo, mesmo sabendo que algumas vezes eu não sei pra onde estou indo, só sei que vou, em busca de um tesouro perdido em arco-íris feitos à mão.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Camadas

Estrelas perdem suas camadas quando estão morrendo, quando estão perdendo o combustível que mantém em volta os planetas e o sistema ao seu redor. Estrelas perdem partes de si quando não conseguem se manter no mesmo padrão e ritmo de antes. O caos de sua longa vida faz com que ela vá queimando o que há em si mesma até que não haja nada suficiente para queimar ou que ela se transforme em um imenso buraco negro que suga toda a matéria ao seu redor.


Nós seres humanos, ao longo da nossa vida vamos ganhando camadas, camadas essas que surgem como proteção para os traumas e experiências que permeiam nossa estrada. O interessante dessas camadas é que muitas dessas camadas de nada servem e acabam tirando a nossa possibilidade de brilhar diante do sistema ao qual estamos enquadrados.


Toda estrela pertence a um sistema maior, uma galáxia, todos os seres humanos pertencem a vários sistemas coexistentes, o seio familiar, o local de trabalho, as instituições religiosas, e esses vários sistemas podem nos fazer brilhar como sóis, iluminando os locais onde estamos, ou podem nos fechar em camadas cada vez mais sólidas de falsos entendimentos e argumentos sobre quem nós somos, elas não apagam nossa essência, mas encobrem boa parte do que somos, nos incapacitando a fazer o que fomos criados originalmente para fazer, sermos luz em meio aos lugares escuros, ou iluminarmos nossos próprios passos diante dos desafios que surgem no nosso espaço sideral interior.


Não somos estrelas, mas é como se fôssemos, somos feitos de seu material, e a medida que vamos vivendo e experienciando, o combustível que nos move pode ir acabando, pode ser que por dentro a gente até brilhe, mas as inúmeras camadas que se apoderaram de nós acabam impedindo que vejamos o nosso brilho da forma correta, acabam impedindo que a gente continue o nosso caminho no universo e faz com que a vida ao nosso redor se torne menos colorida.


Para que algumas estrelas durem mais tempo, é necessário que ela se livre dessas camadas exteriores, e muitas vezes objetos celestes mais próximos vão ser afetados por essa inquietante busca por sobrevida. Para que nós possamos viver com plenitude precisamos realcançar o nosso estado de essência, a forma real de quem somos quando abandonamos as camadas mais duras que ficaram em nós e para isso muitas vezes as pessoas ao nosso redor vão ser afetadas pelo resultado da nossa explosão, explosão essa que ao contrário das estrelas, vai significar não que estamos abrindo parte de nós para nós mantermos estáveis, mas que por algum momento vamos ter que abrir mão da possível estabilidade que temos para alcançarmos algo maior que deixamos de lado, porque acreditamos ser somente aquela camada dura que nos colocaram sem que percebêssemos ou que percebemos e acreditamos ser nossa por direito, algumas estrelas quando eliminam todo o combustível que tinham, implodem em si mesmas e geram esse buraco negro, muitas vezes incompreendido e absolutamente sem luz. Pessoas buraco negro fizeram o contrário, eliminaram tudo que tinham de si, abriram mão de sua essência, expulsaram tudo que tinham de melhor e implodiram sobre suas camadas mais externas, por isso é tão difícil lidar com quem já esqueceu quem é de verdade e já se deixou levar pelo caos e destruição que a circundam.


É muito importante em nossa estadia celeste, sabermos reconhecer quais são as camadas necessárias para nossa existência, o que de fato é nossa essência e o que são as falsas crenças sobre nós que outros anexaram pesadamente em nossa estrutura.


A estrela brilha mais quando perde as camadas e mesmo sem as camadas mais exteriores ela ainda pode gerar vida ao seu redor. Que possamos eliminar as camadas confusas do nosso eu para que dentro de nós possamos brilhar ainda mais a vida que existe em nosso ser, que possamos ser imensas galáxias criando e gerando vida por onde passarmos. Que possamos explodir em vida e reconhecermos que não somos candidatos a buraco negros com passados mortos, mas sim uma estrela prestes a renascer das cinzas de um eu antigo. 


Quais são as camadas que estão presentes em nós atualmente? O que nos impede hoje de viver com plenitude? Quem somos nós em nossa essência? Descubra o seu eu verdadeiro dentro de suas histórias e vivências, dentro de suas camadas mais interiores e se liberte, liberte todo o seu potencial! 


Não é hora de morrer!!!


Pedro Garrido

sábado, 11 de julho de 2020

Dark

Dark

(Alerta: Contém spoiler)

Era tudo sobre o amor e sobre a ausência dele. Era tudo sobre luz e escuridão, sobre o quanto somos capazes de nós entregarmos por uma causa maior ou só olharmos nos nossos umbigos, causas e efeitos, motivações, tudo que nos leva a escolher a luz ou a escuridão, isso é Dark.

Até onde somos capazes de abrir mão de um amor por algo maior? Será que somos capazes de abrir mão de nossos mundos e de nossas existências em troca de nossa própria inexistibilidade? Ou somos egoístas ao ponto de usarmos pessoas para uma finalidade sem fim, permanecer mantendo mundos doentes para que estejamos frente a frente com um amor impossível, indo e voltando no tempo para que a geração seguinte do próprio eu se mantenha seguindo o mesmo destino egoísta de amar e odiar, para que no fim termine de novo e de novo da mesma forma.

Tudo fora do amor é escuridão, tudo fora da luz é trevas, tudo que nos negamos a abrir mão em prol de algo infinitamente maior é mesquinho. Dark nos ensina isso em suas 3 temporadas, nos faz voltar inúmeras vezes ao futuro, conhecer outras épocas e mundos em busca de uma solução que não vem, um desejo tão forte por amor que torna todo o restante mera peça em um jogo, onde terminando igual, nada pode mudar no ciclo seguinte e todos acreditam que com isso terão sucesso em sua nova empreitada, mas se enganam profundamente e com isso carregam marcas físicas e mentais notáveis, como se todo o ciclo fosse necessário para se manter dois mundos unidos, dois mundos que nunca deveriam ter existido, assim se vive e morre inúmeras vezes na busca de um paraíso que naquele mundo não pode existir e de um inferno que é constante na vida de cada um que tenta consertar os erros do passado, criando alternativas para o futuro.

É tudo sobre o amor e sobre o que o amor é capaz de fazer. O amor é paciente, benevolente, o amor sabe esperar, o amor tudo suporta, mas o amor é capaz de renunciar a existência de seu próprio mundo? Esse é o segredo do amor verdadeiro, ele vai onde a paixão não consegue ir, ele se doa onde as pessoas só buscam receber, ele se entrega a uma cruz quando se é o próprio Deus, o amor tudo suporta e se legítima quando se faz um sacrifício por uma causa maior.

Dark fala de uma forma diferente sobre o amor, ele usa todos os elementos humanos, desejos, sentimentos, vontades, angústias e coloca tudo misturado com ficção científica, viagens no tempo, máquinas surreais, e com isso nos leva a uma viagem muito maior, nos leva a fazer a reflexão do quão egoístas somos ao lidar com nossos próprios pesos. Nós mesmos faríamos as mesmas coisas se tivéssemos a possibilidade de mudar os rumos das nossas vidas, só que uma lição fica com essa série. Não se pode viver o novo tentando mudar o antigo, ou se vive o hoje, ou não se vive nunca mais. Ou abrimos mão de nós mesmos e da existência por um amor que vai além do nosso alcance ou só sobreviveremos com a escuridão, a escuridão das decisões erradas, a escuridão da manipulação e do egoísmo, no fim nada muda, porque fizemos tudo exatamente igual, perpetuando os mesmos fracassos porque não enxergamos o que realmente precisamos mudar em nosso próprio mundo.

Na série existem 3 possibilidades, 3 mundos, 3 versões das mesmas pessoas o tempo todo e todos fazendo tudo igual na expectativa de alcançar um resultado diferente, mas na vida só existe uma escolha, uma versão de si mesmo, um só mundo, então ame e se entregue ao amor, viva o presente, não procure por possibilidades que nunca existiram e nunca vão existir.

O começo é o fim e o fim é o começo.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Fraqueza

A verdade é que por mais forte que possamos parecer, temos fragilidades que escondemos para que possamos parecer melhores nos nossos espelhos mentais. Nem sempre somos seguros de nós, não somos completamente maduros em muitas áreas da nossa vida, mas seguimos tentando melhorar a cada dia, por mais que nossas fraquezas gritem em dizer que somos piores do que acreditamos.

Somos seres em construção, é natural que guardemos um pouco de nós por um ato de autopreservação, não somos os piores seres do mundo quando acreditamos ser por causa das vozes alheias, na verdade, as vozes alheias também escondem muitas incapacidades e para que isso também seja escondido vivem de atacar a fragilidade do outro para se sentirem melhores do que realmente são.

Qual a solução? Aceitar as próprias fragilidades e trabalhar para que mesmo frágeis possamos ser fortes no que somos, reconhecendo a necessidade constante de transformação e buscando meios de se aprimorar naquilo que ainda não está pronto ou que não se teve oportunidade de ser melhor até então.

No convívio com outras pessoas, sempre vão surgir questionamentos sobre nossas próprias capacidades, mas não somos o outro, somos nós, seres únicos, dotados de personalidade e individualidade, e muitas vezes vamos nos confrontar com os mais próximos por causa dessa individualidade, buscando liberdade para exercer de forma autônoma o nosso próprio eu ou tentando nos blindar de influências negativas que possam acabar nos permeando, parecendo algumas vezes que somos carrascos para o outro ou para nós mesmos.

Não estamos mascarados de boas intenções, as boas intenções estão em nós, mas muitas vezes as situações de confronto nos fazem imaginar que não somos merecedores de ter a paz que sonhamos para o nosso eu. Não duvidemos de que somos bons por causa dos momentos ruins que acabam nos pegando de surpresa em nossa vida.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

O teste

Às vezes eu acho que estou passando por um imenso teste de merecimento, a sensação é de que estou prestes a receber a aprovação ou desaprovação de forma repentina, como se eu tivesse vencido desafios e respondido corretamente a perguntas que eu nunca ouvi, como se uma impressão psicológica ao meu respeito estivesse sendo construída para me darem um diagnóstico complementar a esse teste.

Se em algum momento eu estiver passando por esse teste e quem estiver me testando me achar inapto a tal coisa, indigno de pertencer ao outro lado, incapaz de corresponder a tais responsabilidades que vem com essa aprovação transcendental, digo que sou mesmo. Sou indigno, sou incapaz, sou improvável, sou tudo que qualquer ser humano mortal nega dizer que é. Sou falho, totalmente falho, cheio de paranóias, devaneios, contradições e desvios que só  ser humano é capaz de ter. Não quero ser divindade, não quero falsa santidade, não quero ter uma falsa identidade, não finjo ser quem eu sou em proveito de benefícios que não faço ideia que existam. Convivo com a minha realidade, com minhas inabilidades e fraquezas, existem dias em que estou melhor, outros dias eu quero sair de mim, dias em que sou um velho decrepto, outros em que sou uma criança ansiando um abraço de mãe.

Jamais pleiteei uma vaga entre os santos, entre os maiores e melhores filósofos e poetas atemporais, não me vejo sendo referência para quem deseja me seguir e não quero que me sigam se acharem que não mereço ser seguido. Quero ser referência de que mesmo falhando e inapto, continuo acreditando que minhas motivações e ideais continuam fazendo sentido para mim, por mais que para o resto da humanidade o que eu digo não passe de mais uma loucura sem sentido, um ideal vazio feito se palavras e atitudes que não me levam a lugar algum, não quero vãs divagações sobre possibilidades distantes, de sonhos insonhados por serem sonhos sem final.

Não quero ser avaliado por algo que não sou, ser cogitado a algo que nunca fui capaz de ser, não quero que votem ao meu favor, pois não estou concorrendo a cargo nenhum na minha vida, o que tenho é o que já sou, esse ser sou eu e nenhuma análise psicológica vai me fazer descrer de mim mesmo e de meu propósito individual perante a minha própria consciência, aos meus familiares e a Deus. Sou o que sou, não escondo, não exagero, não modifico, não finjo. Quer votar em mim, vote!  Não faço questão de ser eleito, esse pleito não é meu, mas se quiserem acreditar em mim, junte-se a torcida.

Se julgarem-me merecedor, não vou me gloriar, levantar meu nariz ou fazer longos discursos. Se me julgarem inapto, eu nunca soube mesmo porque teria de ser provado, nunca soube qual seria o prêmio e muito menos as vantagens de tal vitória. Enfim, tudo isso é temporal e passageiro, a vida é um teste em que não sabemos todas as respostas e nunca teremos, qualquer outro teste que eu faça não terá valor maior que o de saber viver em meio a todas as tragédias e superar cada dia como se fosse o último. Todo o resto é efêmero, vaidade temporal, gotas de chuva.

domingo, 17 de maio de 2020

Barro Barreto

Barro Barreto

Barreto
Curioso nome
Nem sempre pensamos o que representa
Vamos ao significado?
Nascido em local caracterizado pela existência do barro
Viemos do pó da terra
O pó hoje é asfalto
Eu vim de lá
Próximo de uma fábrica de tecidos
Quase na divisa com Niterói
Ah, que saudade!
Da casa casa onde de início morei
Só lembro da minha foto de cabeceira
Me mudei, para outros lugares
Neves, Parada 40, Paraíso.
Mas o barro do Barreto ficou em mim.
Exatamente numa esquina
Na rua Câmara Coutinho
Eu estou lá até hoje
Sonho com cada detalhe
Da casa da minha avó
Se eu fosse arquiteto
Faria uma casa igual
Em mínimos detalhes
Para entrar novamente lá
Lembrar de quando subia pelas escadas
Via lá no alto
Uma cadela pretinha
E esse era o nome dela
Do alto do terraço eu via a Guanabara e a BR.
Lá do portão eu me apaixonava
Maiaras e Laíses viviam em minha imaginação
Do alto dos meus 8 anos
Eu sonhava com um olhar ou um sorriso
Doce ilusão, mas o que marcou
Foram os chás de carqueja
O cafezinho da tarde e o pão com queijo
Não pode faltar a farofa!
Do outro lado da rua, meu pediatra
Cristeo, o doutor, me salvava das minhas febres
Era auxílio nas horas incertas
Toda a vizinhança reunida
Várias fotos e lembranças
A igrejinha na esquina
Presbiteriana, bem simples.
Lembro dos lanchinhos
Dos peixes desenhados na parede
E da canção marcante ao fundo.

Barreto
O barro está no coração
Saudosismo de bons tempos
Das casas e pessoas simples
Da história que já era história faz tanto tempo
Que eu nem ousava me questionar
Cenários quase bucólicos
Pessoas e passos no chão
O jardim de infância logo ali
"Escolinha Criativa"
Ao lado da igreja batista de Neves
Hoje é só uma casa qualquer
A memória viva sempre me faz pensar
Quantas vidas passaram por esse lugar.
De mãos dadas com meus pais
Saía a correr desembestado
Uma curva e estava lá novamente
No sobrado de pedras
Num bairro feito de barro.

Hoje eu sonho sem parar
Com todas as nuances desse lugar
Sim, se eu pudesse meu universo seria lá
Vendo o rio desaguar no mar
Ouvindo ao longe o som constante
De um piano que se avizinhava
De passar pelos colegas de infância
Que já se mudaram a tempos de lá
Andar 3 ruas paralelas
E parar numa casa cheia de relógios
Onde o que se quebrava era logo consertado
E eu era um contente desbravador
Brincando de sonhar
Com o tic tac que soava sem parar.

Meu Barro, meu Barreto
Guardo-te no coração
Se eu esqueci de algo
Me conceda o perdão
Que um dia eu volte a entrar
Por aquele cinzento portão
De mundos imaginários
Dos cômodos que abrigavam meus tios
Meus primos
Quase irmãos.

Histórias contadas e vividas
O horto
O posto de saúde imenso
As vacinas
O barbeiro pronto a cortar meu cabelo
A fábrica da Coca-Cola
Que hoje abriga um conjunto de prédios
Sempre que eu vejo minha avó
O barro que mora em mim
Saúda o barro que mora nela
Mesmo no alto do 10° andar
É para o chão que eu estou a olhar
Para o passado recontado a cada gesto
A cada palavra
A cada minuto
Tudo transpira o ar de 30 ou 60 anos atrás
Quando a terra era sem forma e vazia
E do barro fomos feitos
Barreto.

sábado, 16 de maio de 2020

Saudades quarentenais

Saudade da presencialidade
Dos toques e abraços
Do aconchego inocente
De cafunés aleatórios
De abraços com terceiras intenções
Dos beijos no canto da boca
Da boa e velha paquera real
De segurar as mãos olhando nos olhos
Do conforto de um bom colo
Das conversas olhando o teto
Do braço dormente ao acordar
De apelidos e implicâncias
De fazer planos sem parar
Olhar para uma casa qualquer
E sonhar com filhos e cachorros
Saudade de olhar na janela e ver online
Só para perguntar como foi seu dia
Depois de já termos nos despedido
Ver um filme abraçados
Jogar pipoca um no outro
Comer brigadeiro na panela
Aprender um idioma imaginário
Criar um mundo só nosso
Dentro de um aquário.
Do sentir o cheiro do perfume
Brincar de pique pega
Escrever cartinha de amor
Fazer surpresas infinitas
Até das briguinhas bobas
Ciuminhos bestas
Risadas sem motivo
Olhares sacanas
De fingir que éramos desconhecidos
E nos conquistarmos novamente
Saudade do que não vivi
Ou do que já nem me lembro mais
Saudade de ter saudade
De algumas vidas atrás
Ou de um futuro hipotético
Onde existamos um nós
Que desate os nós
Dessa ausêncialidade
Fria e seca
Quase mórbida
Mortal e viral
Onde não nos conhecemos mais
Saudades quarentenais.


Saudades

S
        A
 U
D
            A
D
     E
                     S

Sem tempo definido para acabar
Que apenas continua
E escorre
Como as palavras em desordem
Descendo em uma ampulheta.

Saudade!

Pedro Garrido

terça-feira, 28 de abril de 2020

Sobre a (ins)piração

Sobre a (ins)piração

Não sei se é assim com vocês, mas comigo a inspiração tem surgido assim: Eu esqueço que tudo ao meu redor existe, a atenção foca única e exclusivamente no que surge em minha mente. Eu abandono tudo que estou fazendo, deixo de ouvir todas as vozes e passo a escrever com o que flui do rio das palavras. Ela vem e eu obedeço, eu escrevo e ela se derrama, quase terapeuticamente eu vou pontuando e criando o mundo dentro de mim enquanto o mundo fora de mim pode estar desabando.

Eu me direiciono para onde o vento leva e aí de mim de querer tentar fluir em outra direção. Nada funciona até que eu tenha terminado de fluir rumo ao mar, só quando chegar ao mar que consigo navegar novamente até a terra firme. Chegar em terra firme pode demorar apenas alguns minutos ou horas absorto sobre o texto, imaginando detalhes, colhendo e plantando estrelas, vendo as luzes do sol da meia noite enquanto fora de mim são 10 da manhã.

Não tente me tirar de mim enquanto escrevo, interromper o rio pode ser tão mortal quanto a famosa lenda de acordar alguém de seu sono. Me deixe sonambular poesia enquanto sou capaz de escrever, quando o rio é interrompido, me torno ninguém, como quem é acordado no melhor do sonho esperado.

Eu me inspiro e respiro, o sopro de vida, o fôlego está em dar som e tom ao que escrevo. Vim, vi, não sei se venci, mas descrevi tudo no caminho e se puder voltar ao alto mar, só saio de lá com o tesouro perdido dos oceanos abissais do universo.

(Ins)pirei

segunda-feira, 30 de março de 2020

Prioridade

Já pararam para pensar no que é realmente prioritário na vida? Pois é... Parece que estamos vivendo um tempo onde tudo que não é prioridade está sendo aos poucos deixado de lado e só o que é realmente importante esta se fazendo presente. Tudo na vida é passageiro, quase tudo é efêmero, então o que sobra de essencial é o que realmente estará presente quando não sobrar nada.

Pessoas vem e vão, mas o que cada pessoa representa na nossa vida de idas e vindas? Sentimentos, sensações, reações, precisamos parar de brincar com as atitudes e nos escondermos de dizer o que realmente queremos. Não temos que ser tímidos ao expor nossas dores, não precisamos ser egoístas para fingir que somos o que nunca fomos, não precisamos do orgulho nem do medo, porque quem se importa conosco vai continuar ao nosso lado sabendo todos os defeitos e qualidades que temos.

Em tempos de quarentena, não tenha medo de dar as mãos, mesmo que virtualmente, não tenha medo de deixar descer a lágrima, de pedir perdão, de perdoar a si mesmo e de rever sua vida para que daqui para frente ela seja melhor. Não tenha medo de se abrir mesmo que isso custe horas a fio de diálogos inesperados, não tenha medo de se aproximar de quem está de braços abertos.

Hoje temos diversas ferramentas que possibilitam reencontros, ligações, vídeos, mensageiros instantâneos. Quem hoje precisa de uma ligação? Quem hoje precisa se desafogar dessa confusão com uma mensagem de afeto? Mais do que nunca, hoje a demonstração de afeto se faz presentemente necessária para que possamos nos sentir queridos pelo nosso próximo mesmo que estejamos a quilômetros de distância.

Mate a saudade! Não tenha vergonha de sorrir lembrando de bons momentos, não tenha medo de se olhar no espelho e dizer que precisava só de uma atitude para mudar o seu mundo quando todo o mundo ao redor parou.

Tudo que é temporário pode e vai passar, vai embora e pode nunca mais voltar, mas se você puder ficar: fique! Fique de verdade! Para sempre! Como diz o poeta: "Que seja eterno enquanto dure!" Não perca a oportunidade de corrigir o seu trajeto até chegar no mar, no grande cosmo universal, na eternidade.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Idade

A idade vai chegando e com ela vem o peso de dar algumas respostas que até então não tinham sido dadas ou pensadas. 32 anos, beirando os 33 e aparecem perguntas que não se calam no meio da ansiedade por realizações: O que eu conquistei? Onde eu cheguei? Quais são as minhas medalhas de honra? Quais foram os méritos que eu tive?

Não plantei árvores, não escrevi um livro e não tive um filho. Dizem que é aos 30 que começa o sucesso pessoal e profissional de todo mundo que está em busca de um objetivo em questão, mas também dizem que nunca é tarde para se conquistar algo na vida e nessa balança eu fico sem saber se já estou na idade certa para ver as glórias do meu esforço ou se sou imediatista demais e talvez só enxergue a luz no fim do túnel lá pelos 50 anos de idade.

Muitos dos meus amigos hoje já são casados, estão no segundo ou terceiro filhos, estabeleceram a dinâmica de sua vida adulta pautada na rotina de se ver indo trabalhar e no fim do dia tendo o sorriso de uma criança e uma família o esperando, outros estão em carreiras sólidas, ditando regras em empresas, dando aula em escolas e faculdades, não que isso seja ruim para mim, eu até fico feliz que muitos dos meus amigos sejam bem-sucedidos e me orgulho de vê-los realizados, porém eu volto a repetir, sou ansioso e acho justo ter esses questionamentos. Quem nunca parou e se perguntou a mesma coisa quando olhou para trás?

Se eu for olhar para trás vou ver que eu só fui capaz de chegar aqui graças a Deus e a sua mão que me livrou diversas vezes da morte, que graças a Ele eu fui capaz de superar tantas coisas que se não fosse por Ele, eu nem sei se eu saberia quem eu sou. Sou uma história de superação ambulante, sou o improvável no meio dos impossíveis, e só sendo grato a Deus para perceber que mesmo eu sendo ansioso, Ele me acalma quando eu preciso.

Eu não sei onde vou chegar e acho que a maioria de nós também não sabe, eu sei que um dos meus objetivos de vida é ser relevante para as pessoas com o que eu aprendi no "vale da sombra da morte", aquele lugar onde todo mundo já passou em algum momento e que superou quando imaginava não existir solução. Depressão, ansiedade, assédios de todas as formas, jugos pesados que recaem sobre nossos ombros por causa de contextos familiares, econômicos e religiosos, tudo que todo mundo já passou em algum momento, eu quero extrair disso a minha lição de vida e poder ensinar que é possível vencer, mesmo que todos digam que você é o menor da sua casa, da sua região, do seu país.

Às vezes bate a dúvida se estou no "caminho certo", outras vezes eu acho que nem caminho existe, sou desse mundo, mas não queria estar nele e me questiono sobre o propósito de estar aqui neste exato momento. Se é tudo tão passageiro, porque dou fé a tantas coisas que faço como se fossem as mais importantes do dia? Tudo vai passar mesmo, então será que estou plantando algo que renda frutos no futuro?

A idade vai chegando, estou beirando os 33, dividindo espaço com muita gente muito maior e melhor que eu e que parece não ter nem chegado a metade da minha idade, pode parecer complexo de inferioridade, mas não é, todo mundo quer deixar sua marca em alguém, os mais ambiciosos querem marcar a sociedade e se você disser que nada disso importa, garanto que não é verdade. Temos essa tendência de querer mostrar reptesentatividade de ditar as leis e querer que tudo seja de acordo com a nossa vontade, alguns por causa de seus ideais, outros pela falta de uma identidade.

Eu não quero ser o Pedro de 15 anos atrás, sem dúvidas eu não sou nem mais o de 2 anos atrás, menos ainda o do ano passado, isso reflete que a mudança é a única coisa perene durante a vida, reflete também a maturidade a que somos conduzidos, mas será que mesmo assim ainda falta alguma coisa? Eu me cobro demais por resultados e um deles é a maturidade, porque a falta dela nos faz ser engolidos e punidos quando não dizemos a verdade e com isso faz da inocência uma grande maldade.

O texto é longo, porém explicita algo que pode não ser sentimento só meu, por isso escrevo essas palavras sinceras e deixo aberto o debate. Tudo tem o tempo perfeito, mas será que fizemos o suficiente? O mundo vai sempre dizer que não, talvez tudo isso seja mera vaidade. O que o espelho do tempo tem a nos dizer sobre nós? Espelho espelho meu, existe alguém mais realizado do que eu? Dependendo da resposta do espelho, vamos entrar em desespero ou só aceitar a caminhada?

segunda-feira, 9 de março de 2020

Perto do fim

O melhor protesto é o silêncio,
Quando não sabemos o que dizer.
Só cabe o sentir.
A minha prisão é ter o que dizer o tempo todo,
E não entender nada do que eu disse.
Gritar mais alto que todo mundo,
Contra aquilo que me disseram ser verdade.
Assumir um lado na guerra,
É estratégia e armadilha.
Dizer que sou contra me põe pra lá,
Favorável me põe pra cá.
Mas não é tão simples.
Posicionamento exige coragem,
Para morrer no lugar de alguém,
Ou morrer de vergonha em vida
Por acreditar na mentira bem dita,
Do argumento falacioso
Dói a alma ver a dor de uma família,
E me comover pela solidão,
Quando o mal maior é a crueldade,
Que nos mata todos os dias,
Assola uma nação,
E nos tira a visão,
Nos combatendo uns contra os outros
Enquanto fazem conosco experiências sem fim,
Para mostrar como é fácil nos dominar.
Não tem explicação,
Nem pontuação,
Somente a reflexão,
De que nossos dias estão no fim.
Nos viraram de ponta a cabeça,
Nos fizeram de loucos,
E disseram que isso era normal,
Lavagem cerebral.

domingo, 1 de março de 2020

Brilho nos olhos

Chegará o dia em que alguém vai olhar nos seus olhos e dizer que você é tudo na vida dela.  Essa pessoa não vai precisar abrir mão de seus sonhos nem vai querer que você abandone os seus, será um só sonho, não vai se iludir com propostas passageiras, não vai se deixar levar por ideologias contraditórias, não vai te demonizar pelos seus defeitos nem diminuir suas qualidades. A sua casa vai ser reflexo do amor que vocês dois sentem e na rua as mãos dadas vão refletir o que se sente em casa e as pessoas vão achar que tudo isso é impossível. As crianças correndo pela casa vão mostrar de onde vem a educação e a escola vai admirar o exemplo que vem de casa.

Quando esse dia chegar, todo mundo vai admirar o casal que vocês são, muitos vão invejar ter um amor tão profundo, quase surreal, muita gente vai dizer que é impossível ter uma cumplicidade tão grande em tempos tão líquidos, alguns vão até tentar atrapalhar a relação, mas o respeito entre vocês vai ser tão grande que ninguém irá duvidar da fidelidade um do outro.

Ela, independente do jeito que é, não vai se importar com a opinião dos outros, não vai aceitar que a sociedade dite quem deve ser o que dentro de casa, nem vai se incomodar com possíveis mal entendidos que possam surgir, ela sabe o que quer e quem ela é.

Você, seguro de quem vocês são, sabe que ao lado de um grande homem existe uma grande mulher, corre atrás, se esforça nos negócios e é bem sucedido em tudo o que faz, a sua casa reflete a sua empresa e todos os planos com ela sempre são conversados com sabedoria e colocados nas mãos de Deus.

Pode parecer idealismo demais, uma utopia acreditar em uma família tão forte e tão real, em um amor puro e isento de influências exteriores, mas não é. Um dia, você vai ver que mesmo com todas as falhas, estamos em busca de ideais impossíveis e utópicos, quando achamos que alguém que não conhece nada de nós é capaz de dar o que a gente quer. O mundo pode exigir de nós sabedoria que não temos, mas quando sabemos o que temos nas mãos, nada no mundo é capaz de nos desestabilizar.

Chegará esse dia, e você se vai se lembrar todos os dias daquele brilho no olhar, porque ele nunca vai se apagar. A luz estará com vocês e em vocês e uma palavra há de permear a vida de vocês: ETERNO

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

(Re)existir

Escrever foi a forma que eu encontrei para resistir, não falo de resistência política ou ideológica, mas falo de resistir a uma forma muito maior que costuma nos opor e nos censurar quase ditatorialmente. Eu escrevi para resistir a mim mesmo, resistir ao meu inconsciente que sempre ditava mentiras ao meu respeito, que alimentava medos e traumas que já não faziam sentido lembrar, que me aprisionava e me torturava em prisões sem grades ou grilhões, que me tornava escravo em busca de uma falsa liberdade que fugia de mim.

Escrever foi a verdadeira liberdade, pois além de libertar a mim mesmo de tudo que eu imaginava não ser capaz, me libertou dos meus terríveis monstros existenciais, morais, comportamentais e religiosos que existiam em mim. Me libertei dos demônios, Não demônios propriamente ditos, mas de sintomas psicológicos que me travavam e me faziam ser menor do que eu parecia ser, da falsa voz interior que sempre dizia para desconfiar das oportunidades, das ansiedades que diziam que todas as tragédias passadas se repetiriam se eu tentasse novamente.

Foi resistindo que eu encontrei não um "hobby", uma brincadeira, ou algum tipo de evolução imaterial sem retorno financeiro. Eu encontrei a cura para a ignorância, eu encontrei a luz no fim do túnel, Eu encontrei uma maneira de voltar a sonhar quando sonhar parecia ridículo. O presente já não me assusta como assustava antes e o futuro já não me desespera tanto. Aquela escrita infantil que permaneceu dormente durante muito tempo da minha vida, renasceu de uma forma que eu não esperava e Quando renasceu, começou a crescer de maneira que eu já não sou capaz de conter os imensos rios que fluem de mim quando uma caneta ou im.teclado virtual estão em minhas mãos.

Hoje eu não escrevo apenas para resistir, mas para expandir, expandir todo o terreno do quem eu sou e do que eu ainda posso ser, para aproveitar todas as oportunidades que me forem concedidas, para que outras pessoas resistam também e sigam acreditando que podem escrever da mesma maneira que eu acreditei que poderia mostrar meus pensamentos e reflexões. Eu escrevo porque eu sei que eu posso, você pode, todos nós podemos. Todos nós podemos dar as mãos e sabermos que não estamos sozinhos na vastidão do universo.

Hoje eu (re)existo. Existo novamente!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Espelhos

Muitas vezes não temos noção do que somos capazes e do poder que temos nas mãos! Só conseguimos enxergar a verdade quando abandonamos os reflexos tortuosos de espelhos mágicos, espelhos esses que não são mágicos no sentido bom, mas é como se uma bruxaria nos fizesse ver os lados ruins de quem somos. O problema desses espelhos é que além de sujos e enfeitiçados eles não refletem verdades passadas, eles refletem os nossos piores medos como se fossem verdades quase absolutas, nos paralisando quase completamente.

Geralmente o poder desses espelhos só é quebrado quando alguém que já passou pelo mesmo encanto já conseguiu o quebrar, esse alguém reconhece de longe os sintomas causados pelo espelho da desesperança, e por isso após a maldição ter sido quebrada, agora a missão da vida do liberto é quebrar o encanto das pessoas que passam pela vida dele, reforçando as qualidades de quem está nessa condição e mostrando as saídas para o fim do túnel em direção ao reflexo real da vida.

Pode parecer conto de fadas, Mas existem muitas pessoas que nos encantam negativamente, nos colocam diante de espelhos mentirosos, agridem nossas verdades e nos colocam em molduras defeituosas. Mas também existem pessoas que revelam a verdadeira face que temos, o outro lado da moeda, estimulam nosso potencial e reafirmam nossas qualidades. Pessoas assim a gente deve manter por perto e fazer com que pintem seu próprio quadro com tintas coloridas, se libertem das molduras frias de um destino mediano e liberte o poder de colocar em atitudes as palavras que são escritas nos livros de poesias.

Claro que a humildade deve fazer parte dos nossos caminhos como eternos caminhantes que somos, mas em momento nenhum devemos abandonar a humildade em troca de sentimentos inferiores, por causa da imagem tortuosa que outras pessoas igualmente tortas talvez tivessem construído sobre nós. A liberdade está no ato de voar pelos céus, mesmo sabendo que estamos com os pés no chão. Os verdadeiros espelhos mágicos dizem que somos muito melhores do que acreditamos, porque realmente somos melhores quando acreditamos que podemos voar em direção aos nossos sonhos, em vez de somente darmos passos miúdos em direção a um lugar qualquer.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Pontuações

Pontuações
Perdidas
Poesias
Partidas

Parti
Sem
Ponto
Final

Vírgulas
Curvaram
Meu
Caminho

Reticências
Devolveram
Minha
Respiração

Até
Onde
Vou
Por
Uma
Interrogação

Afirmativamente
Nego
Ordens
De
Despejo

Te
Desejo
No
Ensejo
Do
Texto
E
Fim

Gratidão

Gratidão é a palavra certa, tanto para os momentos bons quanto para os momentos mais difíceis. Independente da pressão diária por resultados, da falta de recursos para se manter um negócio, ou da loucura que vivemos para nos manter de pé, gratidão é o que deve nos mover a sermos melhores todos os dias.

Mesmo que falte o necessário, que sejam muitas as diferenças entre as pessoas, mesmo que naquele momento o que temos não seja o que esperamos ou o que sempre sonhamos, vivemos em um mundo de interdependências, onde se quisermos alcançar um objetivo de longo prazo, vamos precisar cumprir objetivos de curto prazo, vamos depender de ações de outras pessoas para que as nossas ações possam surtir efeito, nossas ações vão também interferir na vida de outras pessoas. Seja na vida pessoal, na vida profissional tudo isso vai fazer diferença.

Pode parecer bobagem falar de gratidão quando todo mundo ao nosso redor parece reclamar tanto. Sim, também tenho meus motivos para reclamar, não sou conformista e dou voz a quem discordar de algo ou alguém, vou compreender os motivos de cada um, mas mesmo no meio de tantas dificuldades, precisamos ser gratos pelo menor dos gestos, pela menor das atitudes, pela menor das conquistas em meio aos grandes desafios para nos mantermos de pé.

Eu oro a Deus para que em algum momento eu tenha condições de fazer algo que mude a vida de alguém, eu peço a Ele inúmeras coisas, eu sempre o busco em meio ao caos para que a paz se instaure dentro do meu barco, algumas vezes eu ando sobre as águas, outras eu me afogo nelas, mas mesmo diante dos momentos onde minha fé falhou, eu reconheço a necessidade de antes de qualquer coisa ser grato a Deus por tudo, até pelos momentos onde eu falhei e pensei em desistir.

Gratidão torna nossa vida melhor, gratidão nos possibilida a ver a luz no fim do túnel, mesmo que o túnel não apresente saída momentânea, mesmo que o mundo pareça desabar por alguns instantes, eu sei que ser grato vai me fazer vencer onde a maioria talvez desista por não ter fé suficiente e apenas reclamar.

Não é fazer o jogo do contente, mas sim enxergar que por mais que não exista um lado bom em tudo, existe sim um lado menos pior e que podemos acreditar em dias melhores. Não quero julgar as intenções de quem nos estimula a continuar, quero continuar por mim e por aqueles que também buscam uma forma de não desistir. Não precisamos ser como Polyana, só o que precisamos é de força para continuar, sendo gratos a Deus e aos amigos que nos dão as mãos na nossa escalada da vida.

Chapeleiro louco

O Chapeleiro Louco

Há algo interessante a se analisar quando falamos de um chapeleiro louco. O que o personagem de Alice no país das maravilhas pode nos oferecer para uma análise? A primeira conclusão é a histórica, pois chapeleiros, segundo informações usavam o mercúrio no processo de confecção dos chapéus e isso fazia com que eles tivessem distúrbios mentais e chegavam até a morte.

Agora filosoficamente talvez hajam lições a serem tiradas que vão além do processo de confecção de um chapéu, talvez haja algo maior sendo dito no meio de tão trágico fim para um chapeleiro. Será que nós mesmos não nos tornamos como um chapeleiro ao longo da vida? Não, não estou falando no sentido literal, de fazer chapéus e usar mercúrio neles.

Estou falando sobre o julgamento que fazemos das pessoas ao nosso redor. Mas como assim, julgamento? Pois bem, no nosso mundo, parece que vivemos tão divididos e perdidos no meio de nossas divisões, que para selecionarmos quem merece mais a nossa gratidão, nossos favores, medalhas ou honras, apontamos para o alto de seus egos, fazemos testes psicológicos baseados em impressões tiradas do bolso ou de um armário qualquer dentro do nosso ego surtado.

Baseado em nossas experiências e também nos nossos devaneios, acabamos por medir cabeças, como chapeleiros e tentamos adequa-las ao nosso propósito. Não é o chapéu que se molda ao couro cabeludo, mas a cabeça que deve caber no nosso ideal, caso contrário descartamos e passamos a odiar a cabeça, intitulando-a grande demais ou pequena para estar no meio de nosso convívio. Como resultado disso, nos tornamos loucos, débeis por limitamos nosso mundo e nosso círculo somente a um determinado padrão de gente.

Excêntricos, estranhos, fechados em círculos disformes, nos afastamos da realidade e tornamos todo o mundo um conjunto de estranhezas que rejeitamos e odiamos porque as inúmeras cabeças medidas, foram medidas segundo conceitos errôneos de alguém que usou mercúrio durante tempo demais na tentativa de fazer um chapéu ideológico perfeito para as mentes que pareciam insanas.

O chapeleiro tem muito a dizer sobre nós mesmos. Somos mórbidos, fraquejantes, discípulos de uma vaidade vazia, que nos leva ao óbito antes de percebermos que nos afastamos de nós mesmos quando nos afastamos de quem tem cabeças diferentes do padrão do nosso chapéu. Quem sabe não são nossos chapéus que são apertados demais para que possamos compreender o mundo do outro?

Estamos tontos, talvez de labirintite, talvez porque nossa cabeça esteja presa em fardos pesados de julgamento, talvez porque estejamos inebriados demais em nossas radicalizações voláteis para percebermos que dependemos uns dos outros, não importando o tamanho do chapéu ou da cabeça, que isso pouco importa para o convívio social, profissional e espiritual.

O chapeleiro é uma realidade dentro da fantasia, talvez ele seja eu, você e todos nós. Presos em um mundo onde tudo é um padrão louco, inacessível, utópico e surreal.

Jogue o chapéu para o alto!

Pedro Garrido

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Sonho e memória

Nada é tão nosso quanto o nosso sonho, já dizia o filósofo existencialista.

Estranho um existencialista dizer que algo tão profundo quanto nossos sonhos serem nossos, visto que ao que parece, somos um nada no meio de um vasto universo sem destino. O que eu quero dizer com isso é que até o mais desacreditado filósofo, poeta ou estudioso da matéria humana, tem esperanças de quem mesmo sendo poeira cósmica, ainda temos algo que é nosso.

É como dizem sobre a memória, que existimos até o momento que a última pessoa viva na terra tenha uma última lembrança sobre nós, mesmo que seja uma lembrança mórbida, bem distante, ainda existimos se na mente de alguém estamos vivos. Somos nossos e somos uns dos outros, somos individuais e somos do coletivo, não existimos se não sairmos da caverna de Platão, dentro da caverna somos só ideias, sombras de algo que na luz é a realidade.

Mas voltando a questão do sonho, o que é o sonho senão um conjunto de idealismos baseados em nossas experiências e conquistas vividas em algum bom momento? Se não somos nada além de poeira cósmica por que, ao contrário dos outros animais temos idealismo tão fortes com relação ao nosso próprio eu? Se sonhamos é porque alguém sonhou primeiro, acredito eu... É como se alguém tivesse dito a primeira palavra no mundo pela primeira vez e outra pessoa também quisesse dizer essa palavra, só que a partir dessa primeira palavra, descobrimos outras e formamos frases, até que exista um conjunto completo de textos e números. Parece, ao meu ver, que sonhar é isso, tomar experiências de outras pessoas e aprender, aumentar, dar novos rumos, formar um alfabeto inteiro de novas possibilidades.

Nosso sonho é nosso, mas já pode ter sido o sonho de alguém, pode vir a ser o sonho de um filho, o sonho de um pai, então memórias e sonhos parecem que permeando a história da existência é o que nos mantém vivos antes e depois do inevitável fim.

Até o mais existencialista quer se manter vivo por mais que a própria existência se resuma a ser um amontoado de células e átomos vagando a esmo em um universo sem propósito. Meu sonho é de que no fim do caminho, mesmo que um dia meus átomos não pertençam mais a mim, meus sonhos não morram na memória de uma outra pessoa, eu sonho com um fim que se faz em eternidade, onde tudo que vivemos faz total sentido, diante da incredulidade de quem morreu em vida por causa do alfabeto que não soube criar.

Nada é tão nosso quanto nossos sonhos, espero que nós nunca possamos deixar de sonhar.

Pedro Garrido

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Sobre click e Norbit

Não sei se vocês já repararam, mas alguns filmes de comédia não são comédia de verdade. 

Sobre Click e Norbit:

Click é um exemplo de filme que nos faz refletir sobre a ansiedade, apesar das risadas que nós acabamos dando, muitos de nós temos a mesma vontade de acelerar o tempo, parar em uma memória, rever a vida em modo filme e diversas outras coisas. Click nos mostra as maldades que cometeríamos se fôssemos egoístas a ponto de manipular a história ao nosso favor, a história da nossa vida seria anulada para vivermos as pressões que os outros nos colocam e para que cumprissemos as metas preestabelecidas de uma sociedade que busca o sucesso a qualquer custo, em troca de um prazer de curto prazo que no fim resulta em morte.

O personagem principal até consegue dinheiro, sucesso na carreira, uma casa, mas com que preço? Ele perde a presença dos filhos, esposa, o prazer, os momentos de lazer, ganha e perde peso radicalmente, quase enlouquece e se não fosse o final mágico em que ele recebe uma segunda oportunidade, ele teria jogado tudo água abaixo.

Já Norbit, teoricamente é para ser um filme engraçado sobre um cara que teve o azar de casar com uma mulher gorda e mandona, mas na verdade retrata uma coisa que passa muito despercebida por nós, o relacionamento abusivo. Um cara que foi abandonado ao nascer, o dono ao vê-lo já diz que ele era feio, viveu em um orfanato e sofria bullying dos colegas, e entre um abuso e outro, uma colega o defende das agressões destes garotos e o ordena como namorado, o tempo passa, ele é coagido pelos 3 irmãos dela a se manter fiel e sem força nenhuma para terminar a relação, ele se casa. Entre todos esses momentos ruins da infância, um único bom momento é retratado, quando ele é uma coleguinha de infância se casam de brincadeira e após ela se mudar, eles perdem o contato.

O pior está por vir quando depois de anos de casado, ele descobre uma traição da esposa e ela simplesmente tenta inventar uma história qualquer, fingir que não tinha acontecido nada ou jogar a culpa para ele e não há para onde fugir, até que sua antiga paixão de infância reaparece.

Ela aparece noiva de um cara abusivo que quer se casar com ela apenas por interesse, e por interesse ele e os irmãos da Rasputia, se unem para um objetivo maior, vender o orfanato antigo para fins obscuros.

Entre vários abusos de diversos lados, ele se reencontra com esse antigo amor, revive as inocência da infância e vê nela a esperança de sair desse mundo mórbido que era a vida dele, e após ameaças de morte realizadas ela esposa ele se vê obrigado a desistir do seu sonho.

Como todo filme que se preze, tem que haver um momento de superação e tudo se resolve quase milagrosamente no final e todo mundo que o assiste ri como se nada tivesse acontecido, mas pense bem:

Não é esse tipo de relacionamento que muitos vivem o tempo todo? O que faz de Norbit um filme engraçado? Na minha opinião o filme é de doer o coração, porque muitos vivem relações assim e não possuem coragem de contar, sobrevivem de migalhas até o fim da vida e se sujeitam a mandos e desmandos por causa da comodidade que aquela vida pode trazer ou por medo de ficarem sozinhos. 

Para mim, Norbit é um filme de dramático, tão doloroso de se ver que eu consideraria trágico, um filme de terror por causa do terror psicológico que os personagens centrais acabam causando um no outro e na sequência de abusos nos variados tipos de relações.

Click ainda traz uma boa reflexão, mas Norbit é um filme que deveria nos fazer chorar, nos condoer com a dor de um abuso emocional recorrente e de uma vida de experiências desastrosamente dolorosas.

- Pedro Garrido

domingo, 12 de janeiro de 2020

Mãos dadas

Ando sozinho pelas ruas onde antes andava de mãos dadas. Não reclamo disso, não é carência, solidão ou essas fraquezas que dizem ser vergonhosas, não é tristeza, memória vã ou sentimentos alcoólicos de um poeta trôpego, não é nada disso. Ando sozinho, porque sei que tudo é momento. Houve um momento em que precisava me segurar nas mãos de alguém, não porque minha estima fosse diminuta, mas porque qualquer um sabe que uma criança quando se livra das mãos dos pais é para correr sem destino definido.

Hoje eu sinto a mesma vontade, de largar as mãos do destino, correr em desatino, quem sabe poder voar, não rumo ao sol, com penas de cera e cair em qualquer lugar, eu quero me jogar de cabeça nas alturas dos planos que Deus tem reservado a mim. Mas cada dia reserva o seu devido momento, preciso ser paciente, perseverante e resiliente, entender que mãos vazias não significa solidão, passos no chão nunca são em vão, nada na vida é vazio de intenção, existe uma forma de retorno para cada ação.

Sim, mesmo que diga não, quem nunca se sentiu só? Hasteio a bandeira da minha verdade, apesar de saber que não estou só, muitas vezes o silêncio na caminhada me faz sentir saudade. Saudade de coisas que talvez nunca tenha vivido, saudade dos sonhos que ainda vou sonhar, saudades da poesia que ainda vou criar, saudades de viver uma vida ímpar! Tomar café da manhã com alguém especial, conhecer outros estados em estado de graça sorrindo para minha amada, ver crianças minhas largando a minha mão e correndo rumo ao mar, para brincar de castelos de areia que na mente delas nunca vão desabar.

Eu quero mais do que falar ao vento, eu quero falar ao mundo, eu quero mesmo tímido, ter o livro mais vendido de todos os tempos, eu quero entrevistas, quero ser visto em rede internacional, numa simples mesa no quintal, ter grandes lições para propagar. Ser lembrado como o velho/jovem/infante que mudou o mundo, se não conseguiu mudar por completo, pelo menos mudou o próprio mundo, quando ousou sonhar pela primeira vez. O garoto que tinha medo de pisar na areia do mar e não largava das mãos de quem quer que fosse pelo medo de nadar, agora mergulha tranquilo pois sabe onde quer chegar.

Ando de mãos dadas com Deus, eu sei que ele ouve minhas orações, faz deste texto uma delas e não me deixa desistir de amar, porque deixar de amar seria largar da mão suprema e correr pra longe de mim. Tão infantil quanto o medo do escuro, é ter medo da luz, por achar que um dia ela pode se apagar.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Sentido

Já se perguntou sobre o sentido de tudo? Não o sentido da vida, o universo e tudo mais, mas o sentido das coisas cotidianas, como caminhar na beira da praia, tirar foto do sol no horizonte, falar de amor para conhecidos e desconhecidos, o sentido da ida e da volta, o sentido que transmuta os nossos sentidos...?

Qual é o sentido de fazer o que fazemos? Às vezes parece que nada faz sentido, eu olho para tudo isso é penso: É isso mesmo que eu estou fazendo? O que eu faço é um meio ou uma finalidade? Uma causa ou consequência? É efêmero ou duradouro? Leva a algum lugar ou se encerra ao final do aplauso?

Parece que muitas coisas não fazem sentido nessa vida, coisas que nem uma conversa Socrática dá solução, parece que tudo se encaminha para um final fatal, ou que somos carregados por uma força misteriosa que nos leva a um lugar que com meros olhos humanos não conseguimos enxergar...

Qual o sentido desse texto? Qual o sentido desse pergunta? Qual o sentido de questionar o que estamos fazendo? Pra que tanto esforço pra ter uma resposta? Porque não sorrimos e simplesmente agradecemos pela oportunidade de fazer de bom grado o que fazemos sem nos importarmos se vai ser a última vez?

Tudo que eu quero é que não seja a última vez que amo, a última vez que escrevo, a última vez que sonho, a última vez que eu ouso sonhar com um futuro brilhante, a última vez que dou a mão a alguém fascinante. Mesmo que eu não saiba o sentido de tudo isso. Quero não me deixar levar pelo medo ou ansiedade, quero curtir cada minuto, cada beijo, cada aplauso, cada abraço, cada pingo de chuva, cada devaneio sincero em busca de ser o melhor de mim.

Quero gritar aos 4 cantos o poder do amor, quero não temer o que há de vir após uma curva no rumo da vida, quero ter a surpresa de em um dia qualquer  viver um momento qualquer que tenha um significado qualquer é que tudo neste dia seja gratificante e de satisfação constante.

Eu só queria um farol no meu caminho, uma luz no meio das ondas, uma certeza no mar de aflições que não me faça perder os sentidos quando ver que tudo ao meu redor parece sonho e que estou prestes a acordar.

domingo, 5 de janeiro de 2020

A criança, o mar e os barcos

Quantas são as realidades nesta foto? Quais são as bandeiras que podem ser levantadas? Muitas vezes as fotos são apenas fotos, as pessoas são apenas pessoas, os barcos são apenas barcos, mas criamos dentro disso tudo uma narrativa que talvez não tenha nada a ver com a realidade e a vida dos personagens em questão. 

A realidade nos choca, mas não estamos preocupados com a realidade, estamos preocupados com as aparências, os julgamentos, as análises históricas e esquecemos que a criança talvez só queira brincar e observar os barcos, barcos estes que são fonte de renda para uma população local, e que este local não é só essa criança, mas sim toda a família que está próxima, seja trabalhando, seja se divertindo.

Às vezes a imagem só quer transmitir a beleza, a crítica vem da experiência de cada um... Temos muito pelo que lutar sim, não discordo das bandeiras que são levantadas atualmente, mas que não esqueçamos que a criança nesta foto pode ser eu e você, olhando os barcos e pensando na grandeza por trás das águas, das nuvens e sonhando inocentemente com o céu de algodão doce daqueles que os vendedores passam oferecendo aos frequentadores dos bares e restaurantes que se instalaram.

A criança, o mar e os barcos somos nós.