O Chapeleiro Louco
Há algo interessante a se analisar quando falamos de um chapeleiro louco. O que o personagem de Alice no país das maravilhas pode nos oferecer para uma análise? A primeira conclusão é a histórica, pois chapeleiros, segundo informações usavam o mercúrio no processo de confecção dos chapéus e isso fazia com que eles tivessem distúrbios mentais e chegavam até a morte.
Agora filosoficamente talvez hajam lições a serem tiradas que vão além do processo de confecção de um chapéu, talvez haja algo maior sendo dito no meio de tão trágico fim para um chapeleiro. Será que nós mesmos não nos tornamos como um chapeleiro ao longo da vida? Não, não estou falando no sentido literal, de fazer chapéus e usar mercúrio neles.
Estou falando sobre o julgamento que fazemos das pessoas ao nosso redor. Mas como assim, julgamento? Pois bem, no nosso mundo, parece que vivemos tão divididos e perdidos no meio de nossas divisões, que para selecionarmos quem merece mais a nossa gratidão, nossos favores, medalhas ou honras, apontamos para o alto de seus egos, fazemos testes psicológicos baseados em impressões tiradas do bolso ou de um armário qualquer dentro do nosso ego surtado.
Baseado em nossas experiências e também nos nossos devaneios, acabamos por medir cabeças, como chapeleiros e tentamos adequa-las ao nosso propósito. Não é o chapéu que se molda ao couro cabeludo, mas a cabeça que deve caber no nosso ideal, caso contrário descartamos e passamos a odiar a cabeça, intitulando-a grande demais ou pequena para estar no meio de nosso convívio. Como resultado disso, nos tornamos loucos, débeis por limitamos nosso mundo e nosso círculo somente a um determinado padrão de gente.
Excêntricos, estranhos, fechados em círculos disformes, nos afastamos da realidade e tornamos todo o mundo um conjunto de estranhezas que rejeitamos e odiamos porque as inúmeras cabeças medidas, foram medidas segundo conceitos errôneos de alguém que usou mercúrio durante tempo demais na tentativa de fazer um chapéu ideológico perfeito para as mentes que pareciam insanas.
O chapeleiro tem muito a dizer sobre nós mesmos. Somos mórbidos, fraquejantes, discípulos de uma vaidade vazia, que nos leva ao óbito antes de percebermos que nos afastamos de nós mesmos quando nos afastamos de quem tem cabeças diferentes do padrão do nosso chapéu. Quem sabe não são nossos chapéus que são apertados demais para que possamos compreender o mundo do outro?
Estamos tontos, talvez de labirintite, talvez porque nossa cabeça esteja presa em fardos pesados de julgamento, talvez porque estejamos inebriados demais em nossas radicalizações voláteis para percebermos que dependemos uns dos outros, não importando o tamanho do chapéu ou da cabeça, que isso pouco importa para o convívio social, profissional e espiritual.
O chapeleiro é uma realidade dentro da fantasia, talvez ele seja eu, você e todos nós. Presos em um mundo onde tudo é um padrão louco, inacessível, utópico e surreal.
Jogue o chapéu para o alto!
Pedro Garrido
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