terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Um sonho bom

Um dia me disseram que esquecer o fim de uma história era questão de tempo, uns 3 ou 4 meses talvez, não disseram que os meses poderiam durar anos, mas não é sobre isso que eu quero falar...

Sonhos podem ser bons, podem te fazer lembrar de tempos, pessoas e lugares que permanecem existindo intactos ou que existem apenas na nossa memória, alguns são rapidamente esquecidos, outros nos fazem perder o sono e são extremamente detalhados.

Quantas vezes sonhamos com nosso passado e os amores que passaram por nós, nas recaídas da madrugada, nos pegamos pensando tão fortemente que sonhamos com a dor que sentimos por perder alguém que fez parte de grande parte da nossa história, desejamos aquele reencontro digno de cinema mudo, desesperados, atravessamos a rua, corremos ao encontro daquela pessoa, mas acabamos nos dando conta de que aquela pessoa, ou nunca existiu, ou não existe mais da forma que conhecíamos.

Passa a primeira semana, o primeiro mês, o primeiro ano, você atravessa ruas imaginárias, entra em casas simuladas, tem diálogos inventados, sonha tudo em busca de uma solução para um problema que não tem resultado real, que a verdadeira solução é encarar a realidade e seguir o rumo, porque todas as realidades simuladas na sua mente tem o mesmo resultado.

Até que depois de meia década talvez, você esteja vivendo outro momento, tendo outras prioridades, buscando outros caminhos, outras realizações e você dorme.

...

Hoje você esteve em casa, dormiu aqui , mas estranhamente não falava comigo e eu tentava atrair sua atenção, fingia dormir, mas te observava, apesar de não fazer sentido você estar aqui.

- Como assim? - Pensei comigo.

Enquanto isso eu tentava entender o que eu teria feito pra saber o que deveria fazer, então via que outro dia tinha passado e você ainda estava aqui, e em algum momento eu passo em um cômodo e te vejo vendo nossas fotos no meio de tantas outras que eu ousara esconder de mim mesmo e você me pergunta sobre uma das fotos.

- Essa foto é da sua vozinha?

Aquela pergunta me estremece e me faz começar um diálogo completamente inesperado, me fazendo rever nossas fotos antigas e que de tão empoeiradas, precisaram de uma limpeza que eu me encarreguei de fazer, pouco antes de relembrarmos e conversarmos sobre aqueles momentos que passamos juntos, matando a saudade, sem medo de mostrar quem eu era naquele exato momento, deixando transparente por onde e por quem eu tinha passado depois de você.

Depois daquela conversa, eu me via feliz e esperançoso por ver você ao meu lado novamente, um sentimento bom percorria meu corpo com aquela experiência, depois de tanto tempo que havíamos nos afastado.

...

Quando você acorda, lembra que mesmo depois de tanto tempo, as coisas não mudaram, porém, diferentemente das ocasiões anteriores, você percebe que teve um sonho bom.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Desafogar


É tão fácil reclamar de tudo que parece ruim no nosso dia e apenas ver as coisas como se tudo fosse um conjunto de planos que deram errado, é tão fácil julgar, culpar o outro e nos vitimizarmos pelas coisas que saíram do controle, pelos projetos que não saem como o previsto, pelas resoluções que não se cumpriram e pelas desilusões diárias, é muito fácil tirar do próprio Eu a culpa, agir como se tudo viesse de fora e para fora, como se fôssemos deuses de nossos sentimentos e na hora que a chuva caisse essas lágrimas seriam destinadas aos pecadores que nos afligiram no momento de benignidade suprema, como se a nossa bondade dependesse do altruísmo alheio.

É fácil estando numa zona de conforto, se adequar e conformar com tudo que acontece, aguentar o peso da escuridão, guardar tudo dentro de malas de viagem e dizer que está tudo devidamente guardado para o momento oportuno, simplesmente porque sair da zona de conforto confere que Eu, você, todos percebam que tem um grande espaço vazio no lugar das reclamações, autopunições e mutilações diárias da subjetividade, e que jogar tudo isso fora é fazer com que abandonemos os vícios antigos em busca de algo novo que preencha essa sensação de que a mudança gera incerteza sobre quem você foi ou o que está para se tornar.

Usamos as redes sociais para nos fazer de coitadinhos, postamos frases de auto ajuda que não ajudam em nada, fazemos da nossa vida uma gaiola em que esperamos ter asas pra voar, mas não temos coragem de assumir o risco e esperamos o alimento vir até nossa boca, como se um milagre fosse transformar as cinzas em uma nova fênix ressurgida de dentro dos confins de um universo separado só para nossas gritarias mimadas por atenção.

A gente só se transforma quando somos capazes de enxergar que precisamos abandonar o peso de ser quem somos e deixar de dizer que não somos merecedores de um futuro melhor, quando reconhecemos manias, traumas e doenças e tomamos o remédio indicado para haver melhora, quando paramos de alimentar o poço dos desejos com moedas feitas dos nossos egoísmos, quando decidimos levantar e mudar a cena que estamos vivendo, dar um grito de "Acoooooorda!!!!!!" E bater no peito dizendo que é capaz de sair dessa existência tão rala e superficial.

Somos capazes sim de abandonar o vício da dor, de focar nossa atenção ao que vale a pena, de ressurgir das cinzas, jogar fora a depressão, ansiedade e transtornos mentais e usá-los ao nosso favor em prol de gente que está igual, ou até pior que nós, gente que já tentou dar um fim ao que você e eu sabemos que nunca tivemos coragem de fazer, por maior que tenham sido os abalos sofridos ao longo da vida.

Não estou dizendo aqui que é rápido, mas que recaídas acontecem, e constantemente vamos nos ver tendo que fazer escolhas absurdas, decidir entre guardar uma mágoa, prendendo a pessoa na nossa mente ou perdoar quem nos machucou e deixar ir embora, deixar a luz entrar ou se levar pela escuridão, entretanto não tenha medo de substituir o peso por algo totalmente novo que pode fazer da sua vida algo que você nunca esperou viver, abrir espaço para sorrisos, mesmo que isso demande tempo e comprimidos, mesmo que seja necessário terapia, muita oração e experiências que te levem a sair do casulo das emoções empoeiradas na gaveta e rever casa imagem esquecida.

Você, eu, todos nós somos capazes de encontrar um grande rio de águas transparentes fluindo de dentro de nós, do cosmo profundo, capaz de mudar completamente a estrutura do nosso ser, mas é preciso abandonar o apego ao que ficou pra trás, hoje mesmo podemos mudar nosso mundo, mesmo que não saibamos exatamente o que fazer no segundo seguinte, ter a certeza de que mesmo em meio aos espinhos, a semente é capaz de florescer e gerar vida dentro e fora de nossos egos.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Desgovernados

Da mesma forma que ninguém sai de um carro em movimento, não é possível, do lado de fora parar um carro desgovernado.

Só saímos de um automóvel quando paramos ele, em circunstâncias normais, e tão somente dentro de um carro desgovernado é que devemos retomar o controle do veículo, mesmo que a situação momentânea indique que uma tragédia possa acontecer, somente quem está dentro sabe o que pode fazer para se restabelecer e ninguém pode invadir um carro em movimento e fazer com que ele pare.

Algumas vezes vamos perder o nosso próprio controle, vamos tentar abandonar nosso carro descontrolado, vamos entrar em ônibus e caminhões desgovernados achando que podemos reassumir o controle de tudo, mas não existem super-heróis e não somos heróis de ferro que salvam o mundo da tragédia iminente.

Ao contrário do que estamos sujeitos a ver todos os dias no trânsito, muitos de nós somos ou estamos como carros, estamos desgovernados por dentro, mas por fora parece que demonstramos total controle da direção, até fazendo com que outras pessoas mantenham o seu controle, entramos e saímos das vidas de várias pessoas, sem perceber, estabelecendo uma margem de segurança na forma como dirigem ou causando colisões inesperadas que nos fazem ter que reparar danos que muitas vezes levam anos sendo tratados, nos fazendo trocar peças e perdendo o rendimento ideal para seguir em frente.

Se tivéssemos um curso de direção defensiva para lidar com pessoas no contexto geral , perceberíamos cada placa indicativa que o olhar do outro apresenta em seu modo de dirigir sua vida, quando estaríamos dirigindo uma estrada rumo ao nosso lugar de descanso ou parados no acostamento pedindo ajuda pra continuar.

Como não temos auxílio de placas ou do monitoramento de um órgão regulador, o que nos resta é aprender com as colisões e experiências, que somos fundamentais no processo de construção de um veículo sadio, que tudo que foi mencionado acima vai acontecer com muitos de nós, mas que a resiliência e a fé podem nos tornar maduros o suficiente para dirigir a própria mente e reconhecer que tipo de ajuda cada um vai precisar na estrada.

Que não sejamos negligentes ou impessoais com o próximo, mas que também saibamos não ser atropelados por mentes perversas e inconstantes, por relacionamentos falidos ou pelo medo de não ter o controle do destino no GPS.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Pequenos passos


Não nascemos sabendo tudo, não aprendemos a correr antes de andar, não aprendemos a falar sem antes balbuciar pequenas expressões, com o tempo é que vamos desenvolvendo nossas características que vão nos acompanhar ao longo de uma vida, mas muitos passos na nossa caminhada são dados repetidas vezes de forma errada até que um pequeno aprendizado que resulte em avanço de fato aconteça.

Com muitas quedas, às vezes nos machucamos e voltamos atrás para ter certeza do que queremos e estamos fazendo, acontece quando estamos engatinhando e acontece na vida adulta, estamos sempre em processos de aprendizados, estamos sempre engatinhando em alguma área da nossa vida, mas o importante é comemorar cada pequeno sucesso, por menor que seja, sem que a gente se deixe levar pelo novo conforto e sem nos pressionarmos a ir mais rápido.

Com tanto desafio na vida, a gente se pega pensando muitas vezes nas coisas que acabaram ficando para trás ou nos avanços que não aconteceram, muitas vezes vamos acabar estagnando em alguma área e priorizando outra, talvez por uma crise ou porque o vento mudou nossa direção, não podemos nos culpar também pela mudança que sobrevém nossas vidas em algum momento, sempre que pudermos fazer um balanço é importante avaliar o que cada experiência nos trouxe e o que ganhamos mesmo com uma perda, a nossa postura vai determinar o nosso ritmo frente ao futuro.

É certo que muitas vezes vamos ser bem diferentes daquilo que pensamos anos atrás, vamos precisar engatinhar, aprender a andar, mudar sonhos, ideais, pretensões, e talvez a mudança seja tanta que a gente nem se reconheça no futuro, mas o importante mesmo é não ter medo nunca de recomeçar.

Comemore cada pequeno passo, cada pequeno avanço!