sábado, 30 de abril de 2022

Em construção

Às vezes eu não gosto do que vejo em mim, mas procuro pensar se é algo que realmente merece ser cortado ou se é algo que pode ser bom e por consequência melhorado. Sempre fui disposto ao auto reflexo, a primeiramente eu ser o meu maior crítico e tirar dessa crítica um momento de mudança. Todos nós mudamos o tempo todo e muitas vezes vamos errar ao longo da vida, mas eu estou disposto ao erro e também ao perdão, afinal, se eu não me perdoar primeiro, quem o vai? Se eu sei quem sou, vou me perdoar, corrigir a rota e continuar o caminho, não vou desistir na primeira topada, no primeiro escorregão após a primeira curva, é escorregando. A primeira curva que a gente aprende a lidar com a estrada.


Aprendi com isso a me mostrar mais, mesmo sabendo que o que eu apresento muitas vezes não está do jeito que eu quero ou espero, mesmo sabendo que ainda pode ser melhor, mas eu aprendi a não ter medo de mostrar quem eu sou. Um ser filosófico, humano, cheio de distorções, mas com certezas que fogem a compreensão humana, que só com a a força, só com a inspiração da revelação divina é capaz de ir além, mostrando as virtudes no meio dos vícios, a tentativa de acertar além do tropeço no texto, a motivação de fazer ir além quem sempre achou estar aquém.


Nunca me achei fotogênico, tirava fotos que escondia minhas imperfeições, aprendi com o tempo a não me esconder, tirar as fotos com o melhor e o pior ângulo, afinal, quem me conhece de verdade, conhece o melhor e o pior de mim e eu nunca vou conseguir esconder as duas faces da moeda de ninguém se eu quiser me mostrar ao mundo. Nunca gostei de sorrir, não achava meu sorriso perfeito e não continuo achando, mas quando a risada te pega de jeito não tem como esconder a alegria de quem está próximo, o sorriso é o que é, não importa se seus dentes são brancos e perfeitos como o da propaganda, ou são meio amarelados como na vida real, não tem como esconder as suas imperfeições do mundo, em algum momento elas escancararão as portas, cabe a você se envergonhar e esconder ou se mostrar e ter uma lição a apresentar para quem quiser aprender.


Nunca gostei de ver meus vídeos, os primeiros vídeos que fiz nas redes sociais foram terríveis, eu nunca me imaginei tendo que me apresentar por uma tela de celular, mas aconteceu diversas vezes durante o contexto pandêmico. Foi aí que eu tive que abandonar o medo de mostrar o pior ângulo, o medo do sorriso incontido, de mostrar mais do que deveria, tive que me desnudar para ser eu mesmo, tive que rever fotos ruins, vídeos com mais de uma hora me apresentando, e quem conhecia o meu melhor passou a conhecer o melhor do meu pior, passou a conhecer o humano real dentro da minha criação imaginária, o mortal inacabado dentro do sonhador imortal. Aprendi que mesmo que eu mesmo não goste de algumas falas, alguns ângulos e pense ter a pior risada do mundo, o fato de me mostrar como sou, me mostrou que muitas vezes eu disse o certo, estava no ângulo correto, para que o meu exemplo fosse seguido por outras pessoas, e mais do que isso, todo o contexto serviu de exemplo para que eu assumisse o meu lugar de fala no mundo, porque se eu me recolhesse e me escondesse na primeira foto ruim, no primeiro vídeo inaudível, na primeira palavra atropelada, eu não assumiria meu espaço no mundo, não teria conquistado a voz que me levou a falar em momentos que nunca imaginei ter coragem de ter algo a dizer.


Pode parecer imaturo da minha parte, continuo não gostando de aparecer em algumas fotos, de assistir algumas falas em vídeos, mas o que eu falo não é para mim, não é só meu, o meu exemplo morre quando eu desisto por tão pouco, existe algo maior por trás disso tudo, existe uma voz maior sendo ecoada quando eu falo e é por isso que eu me entrego de corpo e alma quando eu tenho algo a dizer. Porque quando sou eu de verdade me apresentando, este sou um eu nu, vestido da coragem de ser quem eu sou, ousando descer uma corda até o fundo de um barranco para salvar quem me ouve e ao mesmo tempo me salvar um pouco mais a cada dia.


A cada dia eu busco ser minha melhor versão! Perdoe o transtorno, estamos em construção...


Pedro Garrido 

terça-feira, 19 de abril de 2022

Propósito

Se você olha o trabalho apenas como uma repetição sem sentido de atitudes que não vão dar em nada no final do dia, você desconhece o propósito da sua vida. Se você olha o seu trabalho e vê que por mais cansativo que seja, você está lidando com algo que move a vida de alguém e move o mundo, a partir daí, você enxerga que apesar de cansativo e momentâneo, existe um propósito, pois apesar de naquele momento você estar sozinho, existem vidas do outro lado daquela engrenagem, fazendo algo de igual tamanho, e lidar com vidas e tocá-las o mínimo imaginado através do que você faz, isso é um propósito.


Muitas vezes uma repetição sem sentido aparente pode levar a uma palavra diferente que pode mudar a vida de alguém e através disso mudar a sua própria vida e compreensão de mundo. Por mais que você seja apenas uma pequena peça dentro de uma pequena engrenagem em uma máquina gigante e isso não vai necessariamente te fazer uma máquina, mas mesmo sendo uma pequena engrenagem, se você conhece a si mesmo e o seu propósito, não importa o tamanho da máquina onde você está inserido, onde você estiver, você terá exercido seu propósito se tocar uma pessoa que seja, por aquilo que você acredita e se faz mover todos os dias sem desistir.


A vida inteira, muita gente passa sem descobrir seu propósito, apenas reclamando do que faz, não dando o melhor de si e não acreditando no poder de uma semente lançada. Muita gente abre mão de seu propósito quando abre mão de dar o melhor de si e toca o outro de qualquer maneira, seja através do seu trabalho, ou de simplesmente ter a gentileza de dar o lugar no ônibus em sua rotina diária. Tocar o outro é isso, na menor das atitude, na menor das suas atividades diárias, algo que qualquer um pode fazer, você faz e muda o dia inteiro de alguém sem que você perceba. Por isso o mundo muitas vezes se tornou tão violento, tocamos o outro com nosso pior e temos a mania de contagiar o outro com nosso sentimento em entendermos a realidade do que sentimos. Atitudes são poderosas, atitudes podem contaminar uma geração inteiro de pessoas, se eu quebro um padrão em mim, eu quero um padrão que poderia dominar toda uma geração de pessoas.


Por isso precisamos entender que o propósito da nossa vida vai além de uma atitude que repetimos o dia inteiro, está na qualidade que damos ao que fazemos, mesmo sem saber o resultado final do que realizamos, importa fazer parte do processo, importa ter um propósito que motive a ir além, independente das dificuldades, impossibilidades ou do desconhecimento sobre áreas da vida e trabalho que não temos acesso.


Propósito é mais que urgência de produção ou de manutenção de uma máquina de cunho capitalista ou de qualquer outro sistema vigente, propósito é saber que mesmo que você faça parte desta máquina e não saiba bem todas as nuances dela, você tocou uma vida que seja, quando usou daquele espaço para dar o melhor de si mesmo e para se tornar melhor nos outros setores de uma máquina que você pode administrar e enxergar sentido, a sua própria vida.


Pedro Garrido

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Falácia

Existe muita falácia travestida de inteligência no mundo. Por isso damos tanto ouvidos a coisas que podem parecer inteligentes, mas não passam de argumentos imaturos de gente que morreu sem aprender a viver. Porque queremos ouvir o que nos agrada, o que nos acaricia o ego, o que conforta nossas vontades, mas não queremos ouvir a verdade dolorida do autossacrifício em prol de um bem maior.


É fácil fazermos as coisas sem medirmos as consequências, é fácil arrumar um paliativo para desfazer as consequências de um ato impensado e seguir errando o mesmo erro. Difícil é repensar conceitos, reavaliar a própria vida, refletir sobre mudanças necessárias para se manter o rumo. É fácil fugir da responsabilidade de viver algo fora do compreensível, claro... Muito fácil! Às vezes somos como crianças, queremos dirigir um carro sem saber nem ligar a chave, queremos da mesma forma assumir um relacionamento sem entendermos que do outro lado existe uma outra cabeça pensante com os mesmos problemas que você, e se não dá certo, é porque o carro está com defeito ou a pessoa que não te compreende direito.


Por isso abortamos sonhos, realizamos tudo de qualquer maneira, queremos o benefício sem a responsabilidade, sem o sacrifício, sem a dor do trabalho exaustivo de se construir e reconstruir todos os dias em prol da própria evolução emocional. Tem muita fala motivacional por aí, vazia de exemplos, vazia de conteúdo, só emotividade e música de fundo. É isso que queremos para o futuro? É isso que queremos? Aplaudir uma fala burra de alguém que não sabe o que diz porque nunca aprendeu a viver? Que não soube lidar com as próprias demandas e quer dizer ao mundo como se faz para alcançar algo que ela mesmo não conseguiu?


Viver é caro demais! Exige renúncias, exige sacrifícios, exige disciplina, exige reflexão diária! Não é uma falácia bem pintadinha que vai fazer com que o quadro seja real, porque a vida é muito maior que um quadro, ela extrapola a moldura do ser. Antes de nos deixarmos levar pela emoção de palavras bonitas, que tal conhecermos um pouco mais profundamente sobre quem as diz e qual é o contexto em que aquela pessoa está inserida!?


Há muito mais a se dizer em uma única letra verdadeira, do que em todo um livro de histórias vazias.