Eu olho para esta foto e é assim que eu imagino como enxergamos o universo e a eternidade. A gente vê tudo através de lentes e nossos olhos precisam de lentes cada vez mais potentes para enxergarmos o que não está ao nosso alcance. Muitas vezes é como se estivéssemos fazendo como no exemplo dado por Platão, procurando formas nas luzes para determinarmos o que pode vir a ser a sombra que passa por ela.
A janela é a uma das saídas da caverna moderna. Quando a fechamos, podemos apenas ter uma noção parcial do que acontece lá fora, mas nem sempre saberemos por completo, veremos apenas luzes, cores e espectros, ouviremos apenas sons e vamos presumir baseado em experiências anteriores o que pode estar acontecendo, mas nunca teremos pleno conhecimento se a janela estiver fechada.
A eternidade é mais ou menos isso, sabemos muito pouco ou talvez nada sobre o futuro, o que temos é uma imagem de toda a história condensada de um passado imemorial até o dia de hoje, a partir daí tudo passa a ser sombra ou cálculos baseados em probabilidades ou repetições.
É quando o anoitecer chega que um pouco mais do universo se revela a nós, é aí que os vislumbres acontecem, de acordo com a história, a medida que o tempo passa vamos tendo um pouco mais de conhecimento do que pode vir, mas mesmo com todos os dados e conhecimentos tidos até aqui, ainda assim é apenas um vislumbre meramente filosófico.
A foto tirada no momento certo pode esconder e revelar muitas coisas. Ela pode trazer peso e leveza ao mesmo tempo, dúvidas e certezas, respostas e perguntas, sons e silêncio, e a medida que precisamos de lentes para irmos mais longe nas nossas buscas, mas sabemos que não sabemos nada sobre o o outro lado da janela, estamos apenas admirando, cogitando, esperando dias melhores, lentes maiores, certezas concretas em um mar azul de gotas cintilantes.
Tudo o que vejo é que não tenho certeza do que vejo, mas admiro como se já tivesse ultrapassado a barreira vítrea que se estabelece entre o ontem e o amanhã, navegando escuridão adentro pelo espírito que paira sobre as águas.
Texto e foto por: Pedro Garrido