Nada é tão nosso quanto o nosso sonho, já dizia o filósofo existencialista.
Estranho um existencialista dizer que algo tão profundo quanto nossos sonhos serem nossos, visto que ao que parece, somos um nada no meio de um vasto universo sem destino. O que eu quero dizer com isso é que até o mais desacreditado filósofo, poeta ou estudioso da matéria humana, tem esperanças de quem mesmo sendo poeira cósmica, ainda temos algo que é nosso.
É como dizem sobre a memória, que existimos até o momento que a última pessoa viva na terra tenha uma última lembrança sobre nós, mesmo que seja uma lembrança mórbida, bem distante, ainda existimos se na mente de alguém estamos vivos. Somos nossos e somos uns dos outros, somos individuais e somos do coletivo, não existimos se não sairmos da caverna de Platão, dentro da caverna somos só ideias, sombras de algo que na luz é a realidade.
Mas voltando a questão do sonho, o que é o sonho senão um conjunto de idealismos baseados em nossas experiências e conquistas vividas em algum bom momento? Se não somos nada além de poeira cósmica por que, ao contrário dos outros animais temos idealismo tão fortes com relação ao nosso próprio eu? Se sonhamos é porque alguém sonhou primeiro, acredito eu... É como se alguém tivesse dito a primeira palavra no mundo pela primeira vez e outra pessoa também quisesse dizer essa palavra, só que a partir dessa primeira palavra, descobrimos outras e formamos frases, até que exista um conjunto completo de textos e números. Parece, ao meu ver, que sonhar é isso, tomar experiências de outras pessoas e aprender, aumentar, dar novos rumos, formar um alfabeto inteiro de novas possibilidades.
Nosso sonho é nosso, mas já pode ter sido o sonho de alguém, pode vir a ser o sonho de um filho, o sonho de um pai, então memórias e sonhos parecem que permeando a história da existência é o que nos mantém vivos antes e depois do inevitável fim.
Até o mais existencialista quer se manter vivo por mais que a própria existência se resuma a ser um amontoado de células e átomos vagando a esmo em um universo sem propósito. Meu sonho é de que no fim do caminho, mesmo que um dia meus átomos não pertençam mais a mim, meus sonhos não morram na memória de uma outra pessoa, eu sonho com um fim que se faz em eternidade, onde tudo que vivemos faz total sentido, diante da incredulidade de quem morreu em vida por causa do alfabeto que não soube criar.
Nada é tão nosso quanto nossos sonhos, espero que nós nunca possamos deixar de sonhar.
Pedro Garrido
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