quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Sobre click e Norbit

Não sei se vocês já repararam, mas alguns filmes de comédia não são comédia de verdade. 

Sobre Click e Norbit:

Click é um exemplo de filme que nos faz refletir sobre a ansiedade, apesar das risadas que nós acabamos dando, muitos de nós temos a mesma vontade de acelerar o tempo, parar em uma memória, rever a vida em modo filme e diversas outras coisas. Click nos mostra as maldades que cometeríamos se fôssemos egoístas a ponto de manipular a história ao nosso favor, a história da nossa vida seria anulada para vivermos as pressões que os outros nos colocam e para que cumprissemos as metas preestabelecidas de uma sociedade que busca o sucesso a qualquer custo, em troca de um prazer de curto prazo que no fim resulta em morte.

O personagem principal até consegue dinheiro, sucesso na carreira, uma casa, mas com que preço? Ele perde a presença dos filhos, esposa, o prazer, os momentos de lazer, ganha e perde peso radicalmente, quase enlouquece e se não fosse o final mágico em que ele recebe uma segunda oportunidade, ele teria jogado tudo água abaixo.

Já Norbit, teoricamente é para ser um filme engraçado sobre um cara que teve o azar de casar com uma mulher gorda e mandona, mas na verdade retrata uma coisa que passa muito despercebida por nós, o relacionamento abusivo. Um cara que foi abandonado ao nascer, o dono ao vê-lo já diz que ele era feio, viveu em um orfanato e sofria bullying dos colegas, e entre um abuso e outro, uma colega o defende das agressões destes garotos e o ordena como namorado, o tempo passa, ele é coagido pelos 3 irmãos dela a se manter fiel e sem força nenhuma para terminar a relação, ele se casa. Entre todos esses momentos ruins da infância, um único bom momento é retratado, quando ele é uma coleguinha de infância se casam de brincadeira e após ela se mudar, eles perdem o contato.

O pior está por vir quando depois de anos de casado, ele descobre uma traição da esposa e ela simplesmente tenta inventar uma história qualquer, fingir que não tinha acontecido nada ou jogar a culpa para ele e não há para onde fugir, até que sua antiga paixão de infância reaparece.

Ela aparece noiva de um cara abusivo que quer se casar com ela apenas por interesse, e por interesse ele e os irmãos da Rasputia, se unem para um objetivo maior, vender o orfanato antigo para fins obscuros.

Entre vários abusos de diversos lados, ele se reencontra com esse antigo amor, revive as inocência da infância e vê nela a esperança de sair desse mundo mórbido que era a vida dele, e após ameaças de morte realizadas ela esposa ele se vê obrigado a desistir do seu sonho.

Como todo filme que se preze, tem que haver um momento de superação e tudo se resolve quase milagrosamente no final e todo mundo que o assiste ri como se nada tivesse acontecido, mas pense bem:

Não é esse tipo de relacionamento que muitos vivem o tempo todo? O que faz de Norbit um filme engraçado? Na minha opinião o filme é de doer o coração, porque muitos vivem relações assim e não possuem coragem de contar, sobrevivem de migalhas até o fim da vida e se sujeitam a mandos e desmandos por causa da comodidade que aquela vida pode trazer ou por medo de ficarem sozinhos. 

Para mim, Norbit é um filme de dramático, tão doloroso de se ver que eu consideraria trágico, um filme de terror por causa do terror psicológico que os personagens centrais acabam causando um no outro e na sequência de abusos nos variados tipos de relações.

Click ainda traz uma boa reflexão, mas Norbit é um filme que deveria nos fazer chorar, nos condoer com a dor de um abuso emocional recorrente e de uma vida de experiências desastrosamente dolorosas.

- Pedro Garrido

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