terça-feira, 28 de março de 2017

Somos todos obsoletos?

Buscamos no outro que já está pronto em nós, mas esquecemos que não nascemos prontos.
Buscamos no outro excelência onde temos nossas carências, mas não nos perguntamos qual é a excelência ou a carência do outro.
Buscamos alguém que faça tudo exatamente da forma que queremos, mas não mudamos essa forma pelo outro.
Buscamos alguém que nos agrade no primeiro encontro, sem dar possibilidade ao erro, se não nos agrada, tornamos o último.
Buscamos envolvimento de carnes, mas esquecemos de envolver nossas almas.
Sempre com pressa, queremos resultados avassaladores e esquecemos que a brisa também é resultado.
Queremos mergulhar, sair inebriados, tontos, desconexos, mas esquecemos de curtir os momentos leves, a caminhada de mãos dadas, a conversa de portão, o brilho no olhar, da ansiedade daquela conquista, o prazer de ter uma conversa diferente, olhar para o céu e ver o formato das nuvens.
Se a pessoa transpira nas mãos, se a pessoa não avançou o sinal, não levou para a cama no primeiro encontro, não tem uma forma de fugir da realidade, não serve.
Se o primeiro beijo foi ruim, a gente procura quem beije bem, sem ter dado a oportunidade de tentar um jeito diferente de beijar. Se sua posição política é outra, nem começa a conversar.
Somos tão seletivos que testamos um após outro, sem dar a ninguém a oportunidade de conhecermos por dentro o que estamos vendo por fora.
E dessa forma, ninguém acaba servindo para ninguém, ficamos pelo meio do caminho, pois analisamos superficialmente e jogamos fora o que antes consertávamos ou levávamos mais tempo para deixar que o próprio tempo se encarregasse de dar o devido rumo.
Tudo passa tão rápido, tudo é tão obsoleto e tão "trocável", descartável, que temo encontrar em algum lugar no meio desse caminho, em uma pilha de livros, que julgados pela capa não foram lidos ou lidos parcialmente, pessoas profundas e com um imenso potencial transformador, transformadas pela superficialidade de um mundo tão raso.

(Pedro Garrido)

quarta-feira, 22 de março de 2017

Horizonte (20/03/2016)

Eu sempre olhei para lugares distantes, sempre imaginei o que eu poderia enxergar no limite do horizonte, sempre olhei o mar e lá imaginava o futuro distante, aquela linha do tempo bem desenhada, o balançar das ondas, a esperança de realizar aquela caminhada conforme o previsto.

O tempo passou e vi que meu coração foi enganoso, os horizontes eram distantes e nuvens sempre obscureciam minha visão, o mar era bravio, as tempestades balançavam o barco, causando ansiedade, uma dor por não poder prever o futuro, dor maior por conhecer o presente ao qual eu pertencia e lutava para mudar e os imprevistos que teimavam em acontecer.

O tempo passa como a areia em uma ampulheta, a água corre do rio para o mar e encontra o caminho esvaindo pelas mãos, não controlamos nada, perdemos as coisas, perdemos os sentidos, perdemos e ganhamos o que nunca foi nosso sem saber quando ou como.

Muito do que eu vi ficou, passou, mas não deixei de olhar o horizonte, passei a olhar as estrelas e as incontáveis histórias que ainda posso contar, aprendi que eu posso suportar variadas dores, posso fazer de mim um daqueles pontos de luz que estão bem além do nosso horizonte, aprendi que, apesar de olhar para longe, eu tenho visto em mim o fundamental para continuar, independente do terreno que eu passe, existe um horizonte em expansão, um universo que cresce, à medida que se aprende a lidar com as mudanças, tudo dentro de mim pode ser maior que era antes, quando tudo ainda era medo do desconhecido.

Tudo é horizonte, tudo é universo.