sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Camadas

Estrelas perdem suas camadas quando estão morrendo, quando estão perdendo o combustível que mantém em volta os planetas e o sistema ao seu redor. Estrelas perdem partes de si quando não conseguem se manter no mesmo padrão e ritmo de antes. O caos de sua longa vida faz com que ela vá queimando o que há em si mesma até que não haja nada suficiente para queimar ou que ela se transforme em um imenso buraco negro que suga toda a matéria ao seu redor.


Nós seres humanos, ao longo da nossa vida vamos ganhando camadas, camadas essas que surgem como proteção para os traumas e experiências que permeiam nossa estrada. O interessante dessas camadas é que muitas dessas camadas de nada servem e acabam tirando a nossa possibilidade de brilhar diante do sistema ao qual estamos enquadrados.


Toda estrela pertence a um sistema maior, uma galáxia, todos os seres humanos pertencem a vários sistemas coexistentes, o seio familiar, o local de trabalho, as instituições religiosas, e esses vários sistemas podem nos fazer brilhar como sóis, iluminando os locais onde estamos, ou podem nos fechar em camadas cada vez mais sólidas de falsos entendimentos e argumentos sobre quem nós somos, elas não apagam nossa essência, mas encobrem boa parte do que somos, nos incapacitando a fazer o que fomos criados originalmente para fazer, sermos luz em meio aos lugares escuros, ou iluminarmos nossos próprios passos diante dos desafios que surgem no nosso espaço sideral interior.


Não somos estrelas, mas é como se fôssemos, somos feitos de seu material, e a medida que vamos vivendo e experienciando, o combustível que nos move pode ir acabando, pode ser que por dentro a gente até brilhe, mas as inúmeras camadas que se apoderaram de nós acabam impedindo que vejamos o nosso brilho da forma correta, acabam impedindo que a gente continue o nosso caminho no universo e faz com que a vida ao nosso redor se torne menos colorida.


Para que algumas estrelas durem mais tempo, é necessário que ela se livre dessas camadas exteriores, e muitas vezes objetos celestes mais próximos vão ser afetados por essa inquietante busca por sobrevida. Para que nós possamos viver com plenitude precisamos realcançar o nosso estado de essência, a forma real de quem somos quando abandonamos as camadas mais duras que ficaram em nós e para isso muitas vezes as pessoas ao nosso redor vão ser afetadas pelo resultado da nossa explosão, explosão essa que ao contrário das estrelas, vai significar não que estamos abrindo parte de nós para nós mantermos estáveis, mas que por algum momento vamos ter que abrir mão da possível estabilidade que temos para alcançarmos algo maior que deixamos de lado, porque acreditamos ser somente aquela camada dura que nos colocaram sem que percebêssemos ou que percebemos e acreditamos ser nossa por direito, algumas estrelas quando eliminam todo o combustível que tinham, implodem em si mesmas e geram esse buraco negro, muitas vezes incompreendido e absolutamente sem luz. Pessoas buraco negro fizeram o contrário, eliminaram tudo que tinham de si, abriram mão de sua essência, expulsaram tudo que tinham de melhor e implodiram sobre suas camadas mais externas, por isso é tão difícil lidar com quem já esqueceu quem é de verdade e já se deixou levar pelo caos e destruição que a circundam.


É muito importante em nossa estadia celeste, sabermos reconhecer quais são as camadas necessárias para nossa existência, o que de fato é nossa essência e o que são as falsas crenças sobre nós que outros anexaram pesadamente em nossa estrutura.


A estrela brilha mais quando perde as camadas e mesmo sem as camadas mais exteriores ela ainda pode gerar vida ao seu redor. Que possamos eliminar as camadas confusas do nosso eu para que dentro de nós possamos brilhar ainda mais a vida que existe em nosso ser, que possamos ser imensas galáxias criando e gerando vida por onde passarmos. Que possamos explodir em vida e reconhecermos que não somos candidatos a buraco negros com passados mortos, mas sim uma estrela prestes a renascer das cinzas de um eu antigo. 


Quais são as camadas que estão presentes em nós atualmente? O que nos impede hoje de viver com plenitude? Quem somos nós em nossa essência? Descubra o seu eu verdadeiro dentro de suas histórias e vivências, dentro de suas camadas mais interiores e se liberte, liberte todo o seu potencial! 


Não é hora de morrer!!!


Pedro Garrido