sexta-feira, 22 de junho de 2018

O direito ao choro

Chorar é um ato de coragem, seja onde e como for, chorar é um ato de humanidade, seja você quem for, chorar é um ato de dignidade, seja por qual motivo for!

Parem com essa de que chorar em público é ruim, de que uns merecem chorar menos que outros, de que o choro do outro é menos importante que o nosso, até parece que a nossa lágrima é única no mundo, mundo egoísta por assim se dizer, Porque todos nós queremos ver alguém chorando, porque quando esse alguém está sorrindo, nós também estamos criticando.

Criticamos a vida do casal no Facebook, criticamos a foto de comida no Instagram, criticamos a pessoa que procura por alguém no Tinder, criticamos toda e qualquer forma de pensamento que se distancie da nossa forma de ser, porque somos supremacistas e surrealistas quando queremos mostrar nossa identidade ao mundo! Queremos ser autores dos sorrisos e das nossa lágrimas e aquilo que foge do nosso controle é duramente atacado como não se fosse nosso e o egoísmo chega a tanto que nos cobrimos de defesas para os ataques inesperados que porventura possam vir até nós.

Por que chorar diante do mundo seria tão vergonhoso? Por que chorar em particular seria considerado sinal de fraqueza? Por que estamos sempre medindo nossas certezas diante da platéia? Por que buscamos tanto reconhecimento se estamos vivendo, não atuando em uma mera peça?

Temos o direito de chorar, não importa se por um resultado difícil em um esporte ou por uma batalha diária pela vida. Temos o dever de lavar nossa alma quando preciso, temos que aprender a expor nossas mazelas sem abrir mão de quem somos, temos que tirar nossas máscaras diante das câmeras, porque somos quem somos e se não choramos por quem gostamos ou pelo time que torcemos, ou somos fracos demais para reconhecer que pode haver motivo para sorrir, ou somos tão depressivos que o choro do outro nos traz inveja por não sabermos chorar como sempre queríamos.

Descontrole emocional? Descontrole emocional é sorrir com o sangue que escorre todos os dias pelas TVs e jornais, que é banalizado a ponto de virar piada, descontrole emocional é não chorar quando perdemos um familiar, um relacionamento, um emprego, por que não chorar quando se perde um gol ou por superar um desafio em meio a tanta crítica?

Chore o quanto quiser! Eu não estou aqui para julgar um choro, seja quem for o emissor das lágrimas, eu também me dou o direito de chorar.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Adesivo de Nicotina

Não gosto dessa história de sair de fininho, tirando aos poucos a importância daquilo que existiu ou do que poderia existir, se for para sair, que seja de uma vez e deixe tudo para trás.

Nem tudo na vida se resolve com tratamentos a base de adesivos na pele, tatuagens são a prova de que as marcas ficam, as feridas nos deixam cicatrizes e os fumantes vez ou outra sentem abstinência pelo cigarro, por causa de um adesivo ou uma foto o efeito pode parecer o mesmo, mas o tempo não apaga as marcas do prejuízo deixado.

Chegue como a brisa e saia como um furacão, leve tudo de si consigo, mas não tente fazer o contrário e achar que o normal é viver arrasado como um furacão por causa de uma brisa que passou.

Não existe tortura maior que sentir o sangue se esvaindo quando se pode curar a ferida apenas tirando o objeto do local onde se cortou.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Escadas

Existem escadas que nos levam ao nada porque lá só existia o passado.

Você pode até procurar, mas não vai encontrar nada, nenhuma passagem, nenhuma porta, janela, fenda, porque o que tinha lá não existe mais e por mais que você tente recriar, tudo não passa de lembrança.

Você acha que encontrou um caminho, que está subindo a escada, que pode reviver de novo tudo que já aconteceu, então se pega em um ciclo vicioso onde só o passado faz sentido pra você, porém reviver um passado que não existe mais pode ser um vício pior que o das drogas ilícitas em que vemos todos os dias pessoas como zumbis nas ruas.

Quando você dá por si mesmo, aquele zumbi andando sem direção, com a mão estendida para os outros, pedindo uma esmola ou um alimento, aquela pessoa roubando pra saciar um vício interminável, aquela pessoa morrendo na busca por um prazer que é cada vez menos suficiente, aquele viciado em drogas é você, que se viciou e se corta por dentro todos os dias por lembrar o passado querendo que fosse o agora e o depois.

Então aquela escada que você acredita estar subindo, é uma escada de descida, uma escada onde cada degrau te empurra "ladeira" abaixo e acaba diante de um precipício de morte interior, o que existe lá é pesado, é doloroso e ao mesmo tempo confortável e inebriante, os espinhos abaixo do precipício parecem confortantes, cheiram de longe como rosas que chamam por abelhas e aí a armadilha está feita.

Você morre com aquilo te ilude ou sobrevive fugindo da tentação de se jogar, o passado e o vício de sentir a dor te fazem constantemente estar diante desse precipício e assim como a droga, você vai mais e mais frequentemente visitar esse precipício, até que então você toma a atitude derradeira, ou você se ilude com falsas sensações e morre ou você aceita a realidade da abstinência, busca a vida e constrói novas escadas no presente.

Você pode relembrar o passado, mas não se condene por ele, você não pode viver dele para sempre.

Se dê o presente de viver o hoje!