sábado, 12 de fevereiro de 2022

Vai passar

Tudo passa, tudo é momentâneo, os momentos ruins vão passar, essa é a esperança de quem vive dias ruins, mas o texto de hoje não é sobre dias ruins que vão passar, mas sobre tudo que passa, porque tudo nesse mundo é passageiro e isso talvez soe óbvio demais, mas não é.


Sabe aquela foto de infância da  rua onde você morava e hoje não tem mais nada igual? Passou! Sabe aquela vizinhança que vivia conversando na esquina até o anoitecer? Passou! Sabe aquela picuinha de família com aquela piada que tem todo ano na mesa? Também passou... Muitos momentos como esse passaram e estão passando tão rápido que não esperamos, apenas seguimos vendo na memória todas as lembranças como se fossem um vídeo lento de despedida de alguém que se já se foi.


Em momentos de introspecção eu acabo por me ver dentro desse vídeo, como se fosse espectador da minha própria vida e analiso algo que talvez muita gente ainda não tenha parado para analisar. Muitas vezes brigamos com parentes, passamos anos sem visitar algum familiar por discordâncias que com o tempo não fazem mais sentido, vimos muitas coisas ao nosso redor mudar, crianças que já se tornaram adultos, forçando nosso olhar a mudar e amadurecer. 


Foi nesse momento que eu percebi, que por mais que eu tenha discordâncias familiares, por mais conflitos que uma família tenha, por mais que hajam momentos de saia justas que possamos passar, vendo cenas repetidas todos os anos acontecendo, chega um momento que a percepção muda. Não torcemos mais para nos livrarmos daquele momento que nos causaria algum rubor e vergonha, olhamos com um leve sorriso e guardamos na memória como um daqueles momentos que ainda temos por perto pessoas que nos ajudaram a ser quem somos, mesmo que do jeito delas. O rubor dá um lugar ao sorriso de agradecimento, porque temos aquele momento tão simplório e tão grandioso ao mesmo tempo sendo registrado, a família reunida, uma distração, uma brincadeira, uma atitude desmedida, que naquele momento você quer guardar porque sabe que vai passar. Você deixa de lado todas as diferenças porque percebe que não faz mais sentido ter o coração endurecido, porque assim como aquelas pessoas você também tem diferenças, dificuldades, motivações, complexos e piadas ruins também.


Subitamente fui levado a compreender naquele momento, que tudo passa, e enquanto não passar, eu quero viver com plenitude e reflexão cada momento bom ou ruim que se mostre visível na minha frente, porque amanhã, a pessoa que te viu nascer, a conversa na esquina, aquela foto desbotada, pode não existir mais e tudo que você pode dizer sobre, é que passou. A conclusão que posso tirar desse momento é: Enquanto não passar, ria da piada sem graça, seja paciente com aqueles que não alcançaram a maturidade esperada por você, não se importe com a mesma situação repetida com alguma frequência todos os anos.


Tudo está passando, bom ou ruim, tudo passa. Não espere passar para viver.


Pedro Garrido

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Conexão suprema

Já se pegou perguntando em como seria a relação amorosa perfeita? Aquela que combina a leveza da amizade descompromissada com resultados e a profundidade de um amor maduro? Será que essa relação existe de verdade ou é ilusão de gente perfeccionista? 


No nosso mundo, na sociedade em que estamos enquadrados queremos tudo pronto e o que diverge do que queremos é rapidamente eliminado em troca de algo melhor ou que se adeque ao que achamos ser necessário, mas assim estamos caminhando para que direção?


O título do texto parece meio exagerado, mas ao mesmo tempo mostra algo que tem inexistido nos tempos atuais. Que conexão suprema seria essa que uniria duas pessoas em um único espaço tempo para buscarem o mesmo propósito?


Sem muitos rodeios, uma conexão suprema é uma simples conexão, que às vezes é infantil, boba, mas ao mesmo tempo madura o suficiente para lidar com as responsabilidades diárias. É uma relação saudável, sustentável em si mesma, em que você se entrega e se mantém em si mesmo, você se doa sem medo de perder o que dá, você não espera troca porque a troca é natural ao convívio e é muito mais que isso.


A conexão suprema é uma relação em que você não precisa se preocupar com o que vai fazer ou dizer, com para onde você vai ou se fica, com a forma que você anda ou se veste, porque o teu parceiro te conhece o suficiente para você não ter medo de ser surpreendido com o que diz ou deixa de dizer, você não precisa pisar em ovos para ser você para ele e ele para você, porque tudo em vocês respira liberdade, e essa liberdade é o que gera em ambos o sentimento de amizade e amor. Ambos sendo amigos e namorados, amigos e amantes, amigos e casados, naturalmente, sem convenções, regras, leis inquebráveis, apenas duas pessoas que se amam, independente de suas loucuras mais internas.


É andar de mãos dadas na rua sem receio de que amanhã essas mãos não estejam mais juntas, porque a segurança é tanta que ambos sabem que podem contar um com o outro. É se vestir de mendigo em casa, a pessoa rir de você e logo depois ambos rirem juntos, é relaxar o corpo, a mente e o coração na presença dessa pessoa e não achar que qualquer coisa pode acabar com o clima no minuto seguinte. É saber que o outro não é sua extensão, que ele é um indivíduo com vontades e desejos únicos, e que mesmo vocês sendo duas pessoas diferentes, essa pessoa escolheu estar com você e confiar em você, não deixando de ser quem ela é para dividir uma vida.


Conexão suprema é uma conexão real, um amor que não é impossível, é a realidade que nossa miopia deixou de enxergar, quando saiu em busca de perfeição inalcançável, é o amor real, tão simples que esquecemos de sua existência.


Talvez a conexão suprema seja apenas simples relações que foram deixadas de lado por nossa geração, uma conexão que ao mesmo tempo te une a alguém e te faz voar.


Porque onde a amizade e o amor caminham juntos, há conexão.