quarta-feira, 12 de julho de 2023

Extraordinário

Muita gente quer viver uma vida extraordinária acreditando que vão ter isso em livros com capas chamativas, títulos sensacionalistas, mas com conteúdo pobre e cheio de frases feitas óbvias. E se o extraordinário for justamente viver uma vida normal, um livro com uma capa comum, mas com um conteúdo realmente relevante?


Está cheio de coaching por aí querendo nos ensinar a viver de forma plena, ditando regras de como alcançar o sucesso, usando de palavras chulas para dizer que você pode ser melhor, ou até mesmo tirando versículos de livros sagrados para te convencer que você está parado no meio do caminho. Todos nós estamos em busca de algo que mude nossa vida, se não estamos, pelo menos queremos cumprir as metas diárias que nos tornem um melhores como pessoa, mas tem um problema nisso tudo.


O que é ter uma vida extraordinária de sucesso? Será mesmo que todos nós temos a mesma ideia de sucesso? Os grandes coachings da atualidade usam de ideias e estratégias mirabolantes para dizer que o jeito de pensar deles são a maneira certa de agir ou pensar para se alcançar um sonho, mas não te perguntam qual o seu sonho ou a dificuldade que você enfrenta para alcançar o que deseja. Vendem uma estratégia cara, vendem cursos, vendem palestras em que muitas vezes dizem o óbvio, enchem linguiça falando nada com nada e querem que dessa sopa de palavras vazias você tire motivação ou ativação para sair da procrastinação.


Não acredito que sejam eles nem os livros de autoajuda os detentores das respostas que buscamos. Muitas vezes somos levados a querer viver uma vida de sucesso nos moldes dos grandes testemunhos, mas não lemos as entrelinhas do livro, somente ficamos admirados pela capa chamativa dizendo indiretamente que você é um medíocre.


O que é ter uma vida extraordinária para você? Será que para muitos de nós uma vida extraordinária não seria uma vida normal? Uma vida em que a capa do livro não chama tanta atenção, mas o conteúdo realmente tem algo para ensinar? Não estou falando que você deve abandonar os seus sonhos, mas sim que deve saber pesar e diferenciar a realidade daquilo que você busca daquilo que os coachs querem fazer que você acredite e muitas vezes eles fazem você acreditar que você só pode ter sucesso se for da forma que ele ensina, lendo o livro até a última palavra ou fazendo o curso caro que ele vende na imersão gratuita ao tema que ele propõe ser transformador.


Conhecer a si mesmo talvez seja a coisa mais extraordinária que você possa fazer para alcançar o que sonha, reconhecendo seus limites, trabalhando eles e investindo no seu potencial. Nada mirabolante, apenas se conhecer e dar um passo para a próxima página do seu livro.


Extraordinário não?


Pedro Garrido

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Sobre o dia dos namorados

Sinceridade e afeto me interessam! Nada menos que isso, nada menos do que ofereço. Em uma relação amorosa eu sonho em ter aquelas grandes histórias de amor que duram 40, 50 anos mesmo que não seja mais tão possível na idade em que estou, e mesmo que não dure décadas como as grandes histórias, que seja como o poema "eterno enquanto dure", pois não rejeito e lembro com carinho as boas eternidades que já vivi. 


Estou farto dos falsos elogios de quem se interessa apenas pela casca das redes sociais, dos jogos de desinteresse e conquista que rolam a todo momento por aí entre os jovens atuais, da empolgação virtual que dura menos de 24 horas e depois cada um volta a ser um mero rosto desconhecido, um match em um app de relacionamento que mais parece uma prateleira de supermercado. Onde foi parar o esforço de olhar nos olhos? Para onde foram as borboletas no estômago? Aquela vontade de ver a pessoa em um momento inesperado do dia? Uma foto pra rever toda vez que lembrar que se é amado? 


É muito bom ver tantos casais se declarando, se amando, curtindo a felicidade recíproca no dia dos namorados, não sou contra que seja assim, mas sinto uma ponta de inveja justamente dos casais que completam uma boda de ouro e dizem com certeza que se amaram desde o primeiro olhar, sem que pensassem que poderia ser outra pessoa  ou tivessem dúvidas quanto aos próprios sentimentos, acho isso raro e valorizo histórias reais assim quase como se fossem minhas histórias.


A minha busca é por algo simples, uma grande história que comece pequena e cresça na medida que ambos cresçam de mãos dadas, acreditando no potencial um do outro, um apoiando o outro, ainda que impossibilidades, dificuldades e obstáculos se apresentem na caminhada, que seja amor, respeito, reciprocidade, carinho, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que... Até que a eternidade se encarregue de dar o caminho e mesmo que seja o último encontro, o último beijo, ainda haja um abraço como se fosse o primeiro, ainda haja um beijo desejante, ainda haja um Eu Te Amo.


Pedro Garrido

terça-feira, 9 de maio de 2023

No Escurinho do Cinema

Ao falar de Rita Lee várias músicas merecem ser lembradas, mas uma que me toca em especial é esta. Além de ser uma música que tocava e meus pais cantavam quando eu era criança, me traz forte memória afetiva da adolescência.


Quem nunca levou ao cinema aquela pessoa que gostava e queria paquerar e começar o relacionamento ou alguém que já tinha começado a namorar e queria dar uns beijinhos entre uma cena ou outra do filme? Confesso! Sou réu e admito que sempre fiz isso. Kkkkk. Era no escurinho do cinema que o clima esquentava, o medo de ser pego pelo guardinha, a ansiedade de dar o primeiro beijo, era tudo novo na juventude e era uma tremenda aventura quando os amassos aconteciam, coisa de adolescente talvez, mas era muito bom passar pela sensação da conquista daquela paquera (hoje crush) e de ser conquistado também, óbvio...


Eu lembro que a primeira vez que eu fui ao cinema foi aos 16 anos, um pouco tardiamente talvez, mas foi dessa forma, com a namorada que havia conhecido no curso de informática do Henrique Lage. Seria não só a minha primeira vez no cinema, mas a dela também, não se sabia se fazia frio ou não, se levava casaco ou não, nossos estranhos pais se preparavam e preocupavam com coisas desnecessárias talvez. Enfim... Fomos ao cinema e tudo correu normal, em meio a risadas e conversas rolou o beijo e assistimos ao filme. Se me perguntar o nome do filme eu não vou lembrar, mas garanto que assistimos até o fim.


E assim foi desde então. Quando queria levar alguém para dar uns beijos, era no cinema que eu levava. Algumas vezes ficando sós na sala de cinema, outras vezes levando um fora no primeiro encontro e aquele se tornava o último, e também já quase fui expulso da sala pelo guardinha, ou para comemorar o namoro e beijava com pipoca e refri. 


O tempo passa, a idade vai chegando e muitas vezes eu fui ao cinema sozinho, só para ver o filme mesmo, sem mais a ideia de levar para o escurinho, apenas pela diversão, distração. A memória afetiva é algo tão forte na vida da gente que a letra de uma música pode representar muito mais que uma experiência, mas transmuta sensações como se elas tivessem acabado de acontecer. Lembrar disso é muito bom, é parte da nossa trilha sonora da vida. Rita Lee fez parte de nosso repertório musical e memórias afetivas merecem estar na lembrança mesmo que hoje a gente ria e ache quase tudo da nossa adolescência meio tosco. Mas confesso, tenho alguma saudade das aventuras de uns bons beijos "no Escurinho do Cinema"...


Bons tempos.


Pedro Garrido