sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Identidade e nossa parte no todo

Às vezes é preciso se retirar, para que então se volte com respostas. Às vezes é necessário se perder, mergulhar profundamente dentro de si mesmo, para que se lá se encontre um tesouro perdido, para que então o ar possa novamente seja respirado. Às vezes é necessário questionar se estamos sendo inovadores ou meros repetidores de fórmulas prontas de existência, às vezes é necessário deixar com que ideias se apresentem e se percam para que elas possam tomar a devida forma.


Quando eu olho para o céu, tenho certeza de que sou uma identidade individual, mas penso que coletivamente somos muitas partes divididas em uma só. Não nego a autenticidade de cada um, mas somos partes de algo muito maior. Somos filhos, somos netos, somos sobrinhos, primos, irmãos, e por aí vai. Temos uma digital que nos torna únicos, mas temos no DNA características que nos unem aos nossos ancestrais, temos um pouco das marcas da nossa família, de todos que vieram antes de nós, somos uma construção onde cada um que veio antes colocou um pouco de sua participação ali.


Como uma nuvem que passa e muitas vezes se separa em pedaços, muitos de nós nos separamos da nossa essência sem que percebamos, mas mesmo separados, os ventos acabam nos carregando na mesma direção. Nos separamos dos mais próximos, mais chegados, mas o tempo continua nos levando, nos fazendo trilhar caminhos no chão, enquanto lá no céu, algo nos aguarda. A chuva cai, a nuvem que era antes vapor, se torna água. Nós mudamos de forma, de foco, de atitudes, mas também nos renovamos assim como as nuvens no céu. 


Somos parte de um todo que muitas vezes não percebemos, somos uma identidade, personalidade, individualidade, mas somos um todo. Não podemos pensar o mundo sozinhos, não podemos sonhar com um futuro melhor sozinhos. Como diz uma breve frase no poema de John Donne: "Nenhum homem é uma ilha". Prossigo então dizendo que sozinhos só conseguimos a melancolia de um futuro inglório, um passado inóspito e um presente que teima em correr por entre as mãos, uma breve faísca de vida no meio de uma eternidade infinita.


Às vezes a gente se pega pensando que não sabe porque faz algo, uma mínima atividade que seja e se acha inútil no mundo, mas por menor que seja esta atividade hoje, há algo maior sendo construído e lá na frente quando você se unir ao grupo no fim da construção, terá visto que a sua atividade foi fundamental para que o todo funcionasse perfeitamente. Você pode ter sido fundamental para a construção de um transporte que ajudou a salvar vidas, pode ter atendido uma ligação que ajudou alguém a nascer, pode ter ensinado uma criança uma arte nova e a ajudado a se desenvolver.


Quando nada fizer sentido, olhe para dentro, olhe para si mesmo e pense o quanto você se esforçou para chegar até aqui. Pode não parecer nada, mas em algum momento você afetou a vida desse alguém positivamente. Como a nuvem que separada choveu, mas esteve unida pelo vento em uma mesma direção. 


Você, uno, dotado de individualidade e ao mesmo tempo parte de uma geração, de uma multidão de moléculas de histórias, que fizeram com que você fosse você e estivesse no momento certo, no lugar certo, quando foi necessário estar.


Pedro Garrido

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dia de vento

Quando éramos crianças não reprimiamos os sentimentos. A dor vinha e choravamos, não gostávamos de alguma atitude do colega e brigávamos, gritávamos ao menor dos motivos. Com o tempo e a educação dada por nossos pais evoluímos e aprendemos a lidar com os sentimentos, entendemos que nem todo choro poderia ser chorado, nem todo grito deveria ser gritado, brigar com alguém era desnecessário, que o diálogo era essencial, 


Mas nem sempre aprendemos da forma certa ou a forma mais adequada. Às vezes o grito acaba ficando preso na garganta, engolimos sapos com medo de brigar, chorar se torna sinônimo de debilidade. Parece que temos que demonstrar o tempo todo que estamos bem, não importa o quanto nosso espaço é invadido, o quanto as palavras nos agridem sem que se perceba, o quanto nosso passado nos condicionou e o quanto o futuro nos assusta.


Às vezes a vontade é de ficar só no meu canto, quieto, ressignificando os sentimentos até me sentir pronto novamente a lidar com o mundo, mas o tempo não para, o trabalho exige que estejamos prontos para assumirmos nossa posição na máquina industrial que move a economia, as pessoas querem respostas rápidas ao que nós mesmos não sabemos traduzir, a cobrança surge de dentro como se estivéssemos prestes a sermos atropelados se pararmos no caminho.


Engolir as dores, ceder espaços, fingir sorrisos ao choro iminente, ter de falar quando o silêncio grita, tudo para cumprir metas de vida, tudo isso acompanhado de cumprimento de regras sociais, às vezes não dá. A gente até tenta não culpar o outro por algo que ele disse e relevar, a gente tenta entender as necessidades dos outros ao custo das nossas, a gente tenta parecer empático com a dor do outro, simpático com o alheio e assim se vai uma vida fingindo o que não se pode ser, porque ao menor sinal de espinhos podemos ser considerados egoístas.


Podemos até dizer que isso não acontece conosco, mas isso é mentira! Ninguém está imune, todo mundo mente e esconde os sentimentos porque nesse mundo cão alguém pode passar por cima de você se demonstrar fraqueza.


Confesso que queria ser como aquela criança, que às vezes esperneava no mercado pedindo algo que nunca ia ter, que mesmo sabendo que não adiantaria de nada ela lutou com as forças que tinha, da maneira que sabia, para ter o que queria. Hoje parece que deixamos de querer e simplesmente aceitamos que na volta a "gente não vai comprar".


Hoje foi um dia de vento e eu não soube lidar com as folhas que voaram, talvez seja saudade de quando éramos crianças e sentíamos o vento sem medo de sermos levados pelo fluxo corrente de tantos sentimentos.


Pedro Garrido

terça-feira, 19 de julho de 2022

Paterna Idade

Era um dia comum de sol e eu seguia meu caminho, caminhando até o ponto de ônibus para ir cumprir a meta do dia, dar o meu melhor no trabalho para seguir mais um dia sendo produtivo e com sentido. Era para ser assim, com as ansiedades e reflexões que sempre surgem em minha mente, mas algo surgiu e mudou por alguns instantes ou horas o meu dia.


Pois bem, ao trilhar por aquele caminho diário, pessoas estavam fazendo suas ações diárias, levando suas rotinas de formas variadas, alguns comprando no sacolão, outros atravessando a rua, coisas normais e bem habituais em um cenário pré pandemia, mas que vem novamente retomando após algum tempo de isolamento e reclusão. Em meio essa multidão de pensamentos que já surgia ali, algo foi capaz de me chamar atenção mais do que o comum, e parece que o destino não satisfeito em me mostrar aquela cena, me fez tirar um breve sorriso, aparentemente sem motivo do rosto.


Sim, olhei aquela cena e comecei a sorrir, me achando um doido rindo e sorrindo por nada, mas dentro de mim era mais um turbilhão de sensações que aparentemente andavam adormecidas. Uma mãe tentando sair do ou entrar no sacolão, não sei ao certo, estava com seu filho, que teria em torno dos 4 ou 5 anos e ele brincava naquela calçada suja sem se importar muito com o que acontecia ao seu redor, até que ele pega algum objeto pelo qual se interessou no chão e põe na boca.


A mãe, meio atolada entre a máscara, sacolas e bolsas, tenta tirar o objeto da boca da criança, ao mesmo tempo que tenta a repreender... "Não pega isso do chão! Não! Tira isso da boca!!!" Mesmo com a sua repreensão a criança seguia feliz, rindo e nem ligando para as palavras da enrolada mãe.


A cena foi simples, foi breve, mas me levou em duas direções diferentes. A primeira direção foi a infância, porque eu voltei até a minha infância, lembrando que eu mesmo era assim, apesar de sempre me falarem que eu era cheio de frescura com o chão, a segunda direção foi o futuro incerto, me imaginando na condição de pai, levando o menino pra escola, ensinando a jogar bola, andar de bicicleta, comprando roupas iguais para usarmos, e por aí vai. Tudo isso em alguns segundos de sorriso e caminhada, até que tudo passou e eu atravessei a rua rumo ao ponto de ônibus.


Mas aí podem falar que a sociedade cobra que sejamos pais, que tenhamos sucesso, que consigamos o emprego dos sonhos e que tudo não passaria de uma projeção causada pelos julgamentos aos quais estamos expostos. Eu digo que não. Não se pode ser tão frio ou rebelde contra si mesmo, nem tudo é uma cobrança da sociedade, nem tudo é padrão imposto por algo ou alguém, às vezes é só um sonho que alguém tem e deixa transparecer em um sorriso bobo em um dia aparentemente normal.


Se a vida é tão curta, por que não se deixar sorrir no meio do caminho?


Pedro Garrido

domingo, 19 de junho de 2022

Desamores líquidos

Eu entendo a liquidez dos relacionamentos atuais, eu entendo essa coisa de amor líquido, o ficar, as relações casuais, o descomprometimento. Entendo porque hoje as pessoas vivem sem escolher, as escolhas são difíceis e escolher algo é abrir mão de inúmeras possibilidades, se comprometer com alguém é abrir mão de inúmeras outras pessoas que poderiam estar com você, tomar uma decisão é não tomar nenhuma outra e nessa era de fluidez decidimos ser muitas coisas porque se escolhermos ser apenas um vamos deixar uma série de possibilidades para trás.


Com essa liquidez onde temos tudo, somos tudo, fazemos tudo e tudo está ao nosso alcance, realmente temos inúmeras possibilidades, mas nunca estaremos inteiros em nenhuma delas. Temos tudo em parte, somos tudo e perdemos a identidade, fazemos tudo pela metade e nenhuma dessas possibilidade é exercida com completude. Temos medo de nós machucar, temos medo de não termos vivido o suficiente, temos medo de não termos feito tudo que podíamos, temos medo de ter medo, medo de não ser correspondido, de não sermos aceitos pela sociedade, então abrimos mão da nossa solidez e nos diluímos. Morremos sem saber quem de fato seríamos se tivéssemos a coragem de assumir nossa condição mortal, de seres humanos com emoções, sentimentos e que em algum momento nos machucaremos.


Eu não faço parte desta geração, já me machuquei muito, já quis ser e fazer muitas coisas, mas aprendi que renunciar inúmeras escolhas é ter o prazer de fazer apenas uma delas e ser quem eu sou sem precisar ser tudo que todos querem. Nossa identidade nos torna únicos, tanto quanto nossa digital. Eu entendo quem vive relações aparentemente livres, porque a liberdade dá a sensação de imunidade, mas não somos imunes. Em algum momento vamos querer a reciprocidade, o afeto, a exclusividade, algo que só pertença a nós e a mais ninguém. E com medo de que feridas emocionais se abram, nos fechamos ao (co)modismo que não percebemos ser padrão da realidade atual. Seres frágeis e machucados em busca de anestesia para as feridas abertas na geração de nossos pais.


Vivemos uma era de desamores líquidos, sentimos tudo, menos amor e quando é amor fingimos não sentir.


Pedro Garrido


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"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."


Charles Bukowski

O que é o amor?

Todos estamos em busca de respostas, mas poucos sabemos como cultivar. Alguns classificam como um conjunto de hormônios e nada mais, outros o elevam a deus, criam filosofias, doutrinas, experiências científicas, metafísicas, e até poesia, mas mesmo assim não há uma definição em que o amor por completo.


Há os que relativizam, de acordo com suas próprias experiências negativas, dizendo que é uma dor, um trauma, uma farsa, um demônio, um pesadelo... Dizem até que o amor não existe, não crêem na realidade de um amor transcendente, dizem que é besteira, apenas coisa de gente emocionada. Tem gente que nega a existência do amor, mas o busca desesperadamente, tem gente que vê o amor onde não existe, confunde com carência. O amor por vezes é dividido em 3, em 4 e tem gente que fiz que são muitas as formas de amar.


Há o amor platônico, quase impossível. Há o amor de pai, de mãe, de irmão, o amor divino. Há o amor que faz pulsar mais forte o coração, ou esse seria paixão? Às vezes é tão simples e criamos uma confusão! Amar é uma atitude de entrega, de confiança, de assumir o entrelace das mãos e dos caminhos, independente do passado, do futuro, é acreditar no presente, se presentear e ser presenteado com a presença de alguém que escolheu estar ao seu lado. É arriscado, não é? Pois então, amor de verdade se entrega pela humanidade, por que eu não abriria mão do meu ego para ser dois em um com quem escolho dividir para somar?


Eu ainda acredito no amor, sigo em busca, mesmo que não exista definição palpável no mundo! Amar é não saber explicar, é ser, estar, permanecer e continuar. Amor é verbo, adjetivo, substantivo. Amor é palavra que gera no final da criação diz que o "ser amado" é bom.


Você sabe o que é o amor? Se não sabe, apenas ame! 


Pedro Garrido

Você é a soma de todas as coisas

Você é o que você posta, o que você curte, o que você faz e expõe nas redes sociais, mas você não é só isso. Você é tudo que pensa esconder quando mostra algo e tudo que mostra quando mostra intencionalmente, porque não é só mostrar, mas a forma que mostra o seu mundo.


Das coisas que você mostra nas redes sociais, existe todo um contexto que nem sempre é enxergado, um local, um horário, uma motivação, um sentimento, e por aí vai. Toda uma gama de variáveis que quem te conhece, vai saber exatamente o que você está passando e o que você realmente deseja passar ao postar o que está postando.


Você é o que você não mostra nas redes sociais, mas evidencia fora delas. Quando estamos dentro das redes estamos dentro de uma área confortável de exposição, mas fora das redes, o corpo está lá e ele fala com tanta força que é impossível disfarçar uma situação constrangedora, um momento de desgaste ou uma aparente contradição. O corpo fala, a alma grita, as expressões menores ou maiores, denunciam aquilo que você esconde a sete chaves e ali está você, nu, diante do desconhecido, mostrando o que acha esconder novamente.


Essa foto aleatória representa isso, somos uma mistura de rotina, curvas, buracos, placas que anunciam uma mensagem, mesmo sem palavras. Esta foto somos nós. Uma mistura de todas as coisas, que apesar de fora da imagem, evidenciam um contexto, mostram que não existe um todo sem haver a parte, a parte é a continua expressão do todo. Quem conhece o ambiente, conhece tudo.


Pedro Garrido

Conformar

Assumir a forma, a forma do mundo, a forma de um mundo. Muito mais que isso, tomar uma forma que muitas vezes não é sua. É uma forma ditada muitas vezes pela limitação, você se torna o que aquele ambiente te proporciona, se torna do tamanho que esperam que você seja, e muitas vezes se conformar é ser pequeno, para caber em um ambiente ou em um universo onde você é só mais um, um mero personagem aleatório em uma peça, em um filme, em uma vida.


Nos conformamos com a violência, com a pandemia, com as ausências, com os amores que perdemos no caminho e com medo assumimos uma forma conformada, onde é cômodo estar, porque se sairmos podemos nos machucar, podemos nos confrontar com outras pessoas conformadas, com a estrutura de conformidade já existente entre as pessoas do seu convívio. Todos conformados, porém tomando conta do seu próprio espaço, para que assim não percam o que conseguiram ser, ou ninguém alcance o que eles não conseguiram alcançar.


Uma vez eu ouvi de uma pessoa, que na medida que o tempo passava e ela não conquistava as coisas, já casada e com filhos, ela se conformou, abriu mão dos sonhos e se conformou com o trabalho em que estava. Eu tomei aquela conversa como exemplo a não ser seguido. Eu não quero me conformar, nem com este mundo, nem com as minhas limitações. Por muito tempo me vi dentro dessas limitações, incapaz de transbordar, pois não sabia o que podia ser. Não conhecia minha identidade o suficiente para dizer que eu não cabia naquele espaço, por comodidade resolvi ficar.


Na medida que descobri meu propósito, descobri que não cabia naquele universo frio e sem vida, e fui em busca da inconformidade, vi que doeria e que doeu alcançar novos níveis, sair daquele quadrado em que me encontrava, descobri que era capaz de mais, capaz de ir além, capaz de transbordar, ir além da borda de quem eu era, eu explorei os limites e cada dia mais eu sou inconformado, sempre buscando alçar novos limites.


Não é fácil, eu sei, eu não cheguei do outro lado deste trilha, mas tenho certeza de ter aberto muito espaço, tenho certeza de que no futuro eu não vou ser aquela pessoa que se conformou e vai falar para um jovem que a vida não é o que parece. Eu acredito na minha missão, na minha mensagem e nos meus valores e eu não vou me conformar com o que o mundo tem para mim, se o mundo não tem nada, eu sei que eu tenho, você também tem.


Não se conforme!


Pedro Garrido

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Biografia

Por mais que durante a vida inteira tenhamos lido inúmeros livros, o conhecimento adquirido não é a própria experiência. Podemos ter lido de tudo um pouco e acumulado sabedoria com a leitura de cada exemplar, dominado cada teoria, mas não tivemos a vivência prática, somente a leitura de mundo de alguém que transcreveu ensinamentos e aprendizados.


Toda leitura só passa a ser vivência quando nós transcrevemos a experiência através da nossa visão de mundo, quando criamos as próprias experiências e expectativas da nossa própria caminhada. Não adianta citar um exemplo de um filósofo, um psicólogo, ou qualquer outro que seja, se antes eu não tenho na pele a marca daquela causa específica. É necessário antes viver para se ter a certeza do que está sendo falado, porque até a experiência mais óbvia pode apenas ser uma entre muitas cosmovisões, uma entre muitas reações possíveis sobre a sua própria subjetividade dentro do mundo aparente.


Todos nós somos um livro aberto, por mais que as experiências muitas vezes sejam parecidas, existem muitas singularidades que tornam a jornada do ser humano única na vida. Então, não podemos generalizar o outro, como se sua fala fosse a única possível no mundo, ou dizer que para nós será impossível superar tal questão porque para determinada personalidade foi assim. Cada livro é uma escrita carregada dessa subjetividade chamada ser humano, cada humano vai responder de formas variadas sobre estímulos que serão igualmente variados e terão experiências igualmente diversas, por isso muitas vezes se ouve o ditado de não julgar o livro pela capa, às vezes até a capa tenta fazer o livro parecer algo que não é. Porque toda leitura de uma biografia é a leitura de uma subjetividade, de um universo, que pode agregar ou não em nossa caminhada, mas as ferramentas para nossa caminhada estão puramente em nós mesmos, independente do que todos tenham dito antes de nós sobre o assunto. 


O aprendizado da leitura é importante, mas é vivendo que vamos trazer uma nova visão sobre nosso caos, que nenhuma outro ser humano no mundo talvez tenha tido. A maior experiência da vida é viver além da leitura, é escrever a própria biografia e fazer dela algo totalmente novo.


Pedro Garrido

sábado, 30 de abril de 2022

Em construção

Às vezes eu não gosto do que vejo em mim, mas procuro pensar se é algo que realmente merece ser cortado ou se é algo que pode ser bom e por consequência melhorado. Sempre fui disposto ao auto reflexo, a primeiramente eu ser o meu maior crítico e tirar dessa crítica um momento de mudança. Todos nós mudamos o tempo todo e muitas vezes vamos errar ao longo da vida, mas eu estou disposto ao erro e também ao perdão, afinal, se eu não me perdoar primeiro, quem o vai? Se eu sei quem sou, vou me perdoar, corrigir a rota e continuar o caminho, não vou desistir na primeira topada, no primeiro escorregão após a primeira curva, é escorregando. A primeira curva que a gente aprende a lidar com a estrada.


Aprendi com isso a me mostrar mais, mesmo sabendo que o que eu apresento muitas vezes não está do jeito que eu quero ou espero, mesmo sabendo que ainda pode ser melhor, mas eu aprendi a não ter medo de mostrar quem eu sou. Um ser filosófico, humano, cheio de distorções, mas com certezas que fogem a compreensão humana, que só com a a força, só com a inspiração da revelação divina é capaz de ir além, mostrando as virtudes no meio dos vícios, a tentativa de acertar além do tropeço no texto, a motivação de fazer ir além quem sempre achou estar aquém.


Nunca me achei fotogênico, tirava fotos que escondia minhas imperfeições, aprendi com o tempo a não me esconder, tirar as fotos com o melhor e o pior ângulo, afinal, quem me conhece de verdade, conhece o melhor e o pior de mim e eu nunca vou conseguir esconder as duas faces da moeda de ninguém se eu quiser me mostrar ao mundo. Nunca gostei de sorrir, não achava meu sorriso perfeito e não continuo achando, mas quando a risada te pega de jeito não tem como esconder a alegria de quem está próximo, o sorriso é o que é, não importa se seus dentes são brancos e perfeitos como o da propaganda, ou são meio amarelados como na vida real, não tem como esconder as suas imperfeições do mundo, em algum momento elas escancararão as portas, cabe a você se envergonhar e esconder ou se mostrar e ter uma lição a apresentar para quem quiser aprender.


Nunca gostei de ver meus vídeos, os primeiros vídeos que fiz nas redes sociais foram terríveis, eu nunca me imaginei tendo que me apresentar por uma tela de celular, mas aconteceu diversas vezes durante o contexto pandêmico. Foi aí que eu tive que abandonar o medo de mostrar o pior ângulo, o medo do sorriso incontido, de mostrar mais do que deveria, tive que me desnudar para ser eu mesmo, tive que rever fotos ruins, vídeos com mais de uma hora me apresentando, e quem conhecia o meu melhor passou a conhecer o melhor do meu pior, passou a conhecer o humano real dentro da minha criação imaginária, o mortal inacabado dentro do sonhador imortal. Aprendi que mesmo que eu mesmo não goste de algumas falas, alguns ângulos e pense ter a pior risada do mundo, o fato de me mostrar como sou, me mostrou que muitas vezes eu disse o certo, estava no ângulo correto, para que o meu exemplo fosse seguido por outras pessoas, e mais do que isso, todo o contexto serviu de exemplo para que eu assumisse o meu lugar de fala no mundo, porque se eu me recolhesse e me escondesse na primeira foto ruim, no primeiro vídeo inaudível, na primeira palavra atropelada, eu não assumiria meu espaço no mundo, não teria conquistado a voz que me levou a falar em momentos que nunca imaginei ter coragem de ter algo a dizer.


Pode parecer imaturo da minha parte, continuo não gostando de aparecer em algumas fotos, de assistir algumas falas em vídeos, mas o que eu falo não é para mim, não é só meu, o meu exemplo morre quando eu desisto por tão pouco, existe algo maior por trás disso tudo, existe uma voz maior sendo ecoada quando eu falo e é por isso que eu me entrego de corpo e alma quando eu tenho algo a dizer. Porque quando sou eu de verdade me apresentando, este sou um eu nu, vestido da coragem de ser quem eu sou, ousando descer uma corda até o fundo de um barranco para salvar quem me ouve e ao mesmo tempo me salvar um pouco mais a cada dia.


A cada dia eu busco ser minha melhor versão! Perdoe o transtorno, estamos em construção...


Pedro Garrido 

terça-feira, 19 de abril de 2022

Propósito

Se você olha o trabalho apenas como uma repetição sem sentido de atitudes que não vão dar em nada no final do dia, você desconhece o propósito da sua vida. Se você olha o seu trabalho e vê que por mais cansativo que seja, você está lidando com algo que move a vida de alguém e move o mundo, a partir daí, você enxerga que apesar de cansativo e momentâneo, existe um propósito, pois apesar de naquele momento você estar sozinho, existem vidas do outro lado daquela engrenagem, fazendo algo de igual tamanho, e lidar com vidas e tocá-las o mínimo imaginado através do que você faz, isso é um propósito.


Muitas vezes uma repetição sem sentido aparente pode levar a uma palavra diferente que pode mudar a vida de alguém e através disso mudar a sua própria vida e compreensão de mundo. Por mais que você seja apenas uma pequena peça dentro de uma pequena engrenagem em uma máquina gigante e isso não vai necessariamente te fazer uma máquina, mas mesmo sendo uma pequena engrenagem, se você conhece a si mesmo e o seu propósito, não importa o tamanho da máquina onde você está inserido, onde você estiver, você terá exercido seu propósito se tocar uma pessoa que seja, por aquilo que você acredita e se faz mover todos os dias sem desistir.


A vida inteira, muita gente passa sem descobrir seu propósito, apenas reclamando do que faz, não dando o melhor de si e não acreditando no poder de uma semente lançada. Muita gente abre mão de seu propósito quando abre mão de dar o melhor de si e toca o outro de qualquer maneira, seja através do seu trabalho, ou de simplesmente ter a gentileza de dar o lugar no ônibus em sua rotina diária. Tocar o outro é isso, na menor das atitude, na menor das suas atividades diárias, algo que qualquer um pode fazer, você faz e muda o dia inteiro de alguém sem que você perceba. Por isso o mundo muitas vezes se tornou tão violento, tocamos o outro com nosso pior e temos a mania de contagiar o outro com nosso sentimento em entendermos a realidade do que sentimos. Atitudes são poderosas, atitudes podem contaminar uma geração inteiro de pessoas, se eu quebro um padrão em mim, eu quero um padrão que poderia dominar toda uma geração de pessoas.


Por isso precisamos entender que o propósito da nossa vida vai além de uma atitude que repetimos o dia inteiro, está na qualidade que damos ao que fazemos, mesmo sem saber o resultado final do que realizamos, importa fazer parte do processo, importa ter um propósito que motive a ir além, independente das dificuldades, impossibilidades ou do desconhecimento sobre áreas da vida e trabalho que não temos acesso.


Propósito é mais que urgência de produção ou de manutenção de uma máquina de cunho capitalista ou de qualquer outro sistema vigente, propósito é saber que mesmo que você faça parte desta máquina e não saiba bem todas as nuances dela, você tocou uma vida que seja, quando usou daquele espaço para dar o melhor de si mesmo e para se tornar melhor nos outros setores de uma máquina que você pode administrar e enxergar sentido, a sua própria vida.


Pedro Garrido

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Falácia

Existe muita falácia travestida de inteligência no mundo. Por isso damos tanto ouvidos a coisas que podem parecer inteligentes, mas não passam de argumentos imaturos de gente que morreu sem aprender a viver. Porque queremos ouvir o que nos agrada, o que nos acaricia o ego, o que conforta nossas vontades, mas não queremos ouvir a verdade dolorida do autossacrifício em prol de um bem maior.


É fácil fazermos as coisas sem medirmos as consequências, é fácil arrumar um paliativo para desfazer as consequências de um ato impensado e seguir errando o mesmo erro. Difícil é repensar conceitos, reavaliar a própria vida, refletir sobre mudanças necessárias para se manter o rumo. É fácil fugir da responsabilidade de viver algo fora do compreensível, claro... Muito fácil! Às vezes somos como crianças, queremos dirigir um carro sem saber nem ligar a chave, queremos da mesma forma assumir um relacionamento sem entendermos que do outro lado existe uma outra cabeça pensante com os mesmos problemas que você, e se não dá certo, é porque o carro está com defeito ou a pessoa que não te compreende direito.


Por isso abortamos sonhos, realizamos tudo de qualquer maneira, queremos o benefício sem a responsabilidade, sem o sacrifício, sem a dor do trabalho exaustivo de se construir e reconstruir todos os dias em prol da própria evolução emocional. Tem muita fala motivacional por aí, vazia de exemplos, vazia de conteúdo, só emotividade e música de fundo. É isso que queremos para o futuro? É isso que queremos? Aplaudir uma fala burra de alguém que não sabe o que diz porque nunca aprendeu a viver? Que não soube lidar com as próprias demandas e quer dizer ao mundo como se faz para alcançar algo que ela mesmo não conseguiu?


Viver é caro demais! Exige renúncias, exige sacrifícios, exige disciplina, exige reflexão diária! Não é uma falácia bem pintadinha que vai fazer com que o quadro seja real, porque a vida é muito maior que um quadro, ela extrapola a moldura do ser. Antes de nos deixarmos levar pela emoção de palavras bonitas, que tal conhecermos um pouco mais profundamente sobre quem as diz e qual é o contexto em que aquela pessoa está inserida!?


Há muito mais a se dizer em uma única letra verdadeira, do que em todo um livro de histórias vazias.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Vai passar

Tudo passa, tudo é momentâneo, os momentos ruins vão passar, essa é a esperança de quem vive dias ruins, mas o texto de hoje não é sobre dias ruins que vão passar, mas sobre tudo que passa, porque tudo nesse mundo é passageiro e isso talvez soe óbvio demais, mas não é.


Sabe aquela foto de infância da  rua onde você morava e hoje não tem mais nada igual? Passou! Sabe aquela vizinhança que vivia conversando na esquina até o anoitecer? Passou! Sabe aquela picuinha de família com aquela piada que tem todo ano na mesa? Também passou... Muitos momentos como esse passaram e estão passando tão rápido que não esperamos, apenas seguimos vendo na memória todas as lembranças como se fossem um vídeo lento de despedida de alguém que se já se foi.


Em momentos de introspecção eu acabo por me ver dentro desse vídeo, como se fosse espectador da minha própria vida e analiso algo que talvez muita gente ainda não tenha parado para analisar. Muitas vezes brigamos com parentes, passamos anos sem visitar algum familiar por discordâncias que com o tempo não fazem mais sentido, vimos muitas coisas ao nosso redor mudar, crianças que já se tornaram adultos, forçando nosso olhar a mudar e amadurecer. 


Foi nesse momento que eu percebi, que por mais que eu tenha discordâncias familiares, por mais conflitos que uma família tenha, por mais que hajam momentos de saia justas que possamos passar, vendo cenas repetidas todos os anos acontecendo, chega um momento que a percepção muda. Não torcemos mais para nos livrarmos daquele momento que nos causaria algum rubor e vergonha, olhamos com um leve sorriso e guardamos na memória como um daqueles momentos que ainda temos por perto pessoas que nos ajudaram a ser quem somos, mesmo que do jeito delas. O rubor dá um lugar ao sorriso de agradecimento, porque temos aquele momento tão simplório e tão grandioso ao mesmo tempo sendo registrado, a família reunida, uma distração, uma brincadeira, uma atitude desmedida, que naquele momento você quer guardar porque sabe que vai passar. Você deixa de lado todas as diferenças porque percebe que não faz mais sentido ter o coração endurecido, porque assim como aquelas pessoas você também tem diferenças, dificuldades, motivações, complexos e piadas ruins também.


Subitamente fui levado a compreender naquele momento, que tudo passa, e enquanto não passar, eu quero viver com plenitude e reflexão cada momento bom ou ruim que se mostre visível na minha frente, porque amanhã, a pessoa que te viu nascer, a conversa na esquina, aquela foto desbotada, pode não existir mais e tudo que você pode dizer sobre, é que passou. A conclusão que posso tirar desse momento é: Enquanto não passar, ria da piada sem graça, seja paciente com aqueles que não alcançaram a maturidade esperada por você, não se importe com a mesma situação repetida com alguma frequência todos os anos.


Tudo está passando, bom ou ruim, tudo passa. Não espere passar para viver.


Pedro Garrido

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Conexão suprema

Já se pegou perguntando em como seria a relação amorosa perfeita? Aquela que combina a leveza da amizade descompromissada com resultados e a profundidade de um amor maduro? Será que essa relação existe de verdade ou é ilusão de gente perfeccionista? 


No nosso mundo, na sociedade em que estamos enquadrados queremos tudo pronto e o que diverge do que queremos é rapidamente eliminado em troca de algo melhor ou que se adeque ao que achamos ser necessário, mas assim estamos caminhando para que direção?


O título do texto parece meio exagerado, mas ao mesmo tempo mostra algo que tem inexistido nos tempos atuais. Que conexão suprema seria essa que uniria duas pessoas em um único espaço tempo para buscarem o mesmo propósito?


Sem muitos rodeios, uma conexão suprema é uma simples conexão, que às vezes é infantil, boba, mas ao mesmo tempo madura o suficiente para lidar com as responsabilidades diárias. É uma relação saudável, sustentável em si mesma, em que você se entrega e se mantém em si mesmo, você se doa sem medo de perder o que dá, você não espera troca porque a troca é natural ao convívio e é muito mais que isso.


A conexão suprema é uma relação em que você não precisa se preocupar com o que vai fazer ou dizer, com para onde você vai ou se fica, com a forma que você anda ou se veste, porque o teu parceiro te conhece o suficiente para você não ter medo de ser surpreendido com o que diz ou deixa de dizer, você não precisa pisar em ovos para ser você para ele e ele para você, porque tudo em vocês respira liberdade, e essa liberdade é o que gera em ambos o sentimento de amizade e amor. Ambos sendo amigos e namorados, amigos e amantes, amigos e casados, naturalmente, sem convenções, regras, leis inquebráveis, apenas duas pessoas que se amam, independente de suas loucuras mais internas.


É andar de mãos dadas na rua sem receio de que amanhã essas mãos não estejam mais juntas, porque a segurança é tanta que ambos sabem que podem contar um com o outro. É se vestir de mendigo em casa, a pessoa rir de você e logo depois ambos rirem juntos, é relaxar o corpo, a mente e o coração na presença dessa pessoa e não achar que qualquer coisa pode acabar com o clima no minuto seguinte. É saber que o outro não é sua extensão, que ele é um indivíduo com vontades e desejos únicos, e que mesmo vocês sendo duas pessoas diferentes, essa pessoa escolheu estar com você e confiar em você, não deixando de ser quem ela é para dividir uma vida.


Conexão suprema é uma conexão real, um amor que não é impossível, é a realidade que nossa miopia deixou de enxergar, quando saiu em busca de perfeição inalcançável, é o amor real, tão simples que esquecemos de sua existência.


Talvez a conexão suprema seja apenas simples relações que foram deixadas de lado por nossa geração, uma conexão que ao mesmo tempo te une a alguém e te faz voar.


Porque onde a amizade e o amor caminham juntos, há conexão.