terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

(Re)existir

Escrever foi a forma que eu encontrei para resistir, não falo de resistência política ou ideológica, mas falo de resistir a uma forma muito maior que costuma nos opor e nos censurar quase ditatorialmente. Eu escrevi para resistir a mim mesmo, resistir ao meu inconsciente que sempre ditava mentiras ao meu respeito, que alimentava medos e traumas que já não faziam sentido lembrar, que me aprisionava e me torturava em prisões sem grades ou grilhões, que me tornava escravo em busca de uma falsa liberdade que fugia de mim.

Escrever foi a verdadeira liberdade, pois além de libertar a mim mesmo de tudo que eu imaginava não ser capaz, me libertou dos meus terríveis monstros existenciais, morais, comportamentais e religiosos que existiam em mim. Me libertei dos demônios, Não demônios propriamente ditos, mas de sintomas psicológicos que me travavam e me faziam ser menor do que eu parecia ser, da falsa voz interior que sempre dizia para desconfiar das oportunidades, das ansiedades que diziam que todas as tragédias passadas se repetiriam se eu tentasse novamente.

Foi resistindo que eu encontrei não um "hobby", uma brincadeira, ou algum tipo de evolução imaterial sem retorno financeiro. Eu encontrei a cura para a ignorância, eu encontrei a luz no fim do túnel, Eu encontrei uma maneira de voltar a sonhar quando sonhar parecia ridículo. O presente já não me assusta como assustava antes e o futuro já não me desespera tanto. Aquela escrita infantil que permaneceu dormente durante muito tempo da minha vida, renasceu de uma forma que eu não esperava e Quando renasceu, começou a crescer de maneira que eu já não sou capaz de conter os imensos rios que fluem de mim quando uma caneta ou im.teclado virtual estão em minhas mãos.

Hoje eu não escrevo apenas para resistir, mas para expandir, expandir todo o terreno do quem eu sou e do que eu ainda posso ser, para aproveitar todas as oportunidades que me forem concedidas, para que outras pessoas resistam também e sigam acreditando que podem escrever da mesma maneira que eu acreditei que poderia mostrar meus pensamentos e reflexões. Eu escrevo porque eu sei que eu posso, você pode, todos nós podemos. Todos nós podemos dar as mãos e sabermos que não estamos sozinhos na vastidão do universo.

Hoje eu (re)existo. Existo novamente!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Espelhos

Muitas vezes não temos noção do que somos capazes e do poder que temos nas mãos! Só conseguimos enxergar a verdade quando abandonamos os reflexos tortuosos de espelhos mágicos, espelhos esses que não são mágicos no sentido bom, mas é como se uma bruxaria nos fizesse ver os lados ruins de quem somos. O problema desses espelhos é que além de sujos e enfeitiçados eles não refletem verdades passadas, eles refletem os nossos piores medos como se fossem verdades quase absolutas, nos paralisando quase completamente.

Geralmente o poder desses espelhos só é quebrado quando alguém que já passou pelo mesmo encanto já conseguiu o quebrar, esse alguém reconhece de longe os sintomas causados pelo espelho da desesperança, e por isso após a maldição ter sido quebrada, agora a missão da vida do liberto é quebrar o encanto das pessoas que passam pela vida dele, reforçando as qualidades de quem está nessa condição e mostrando as saídas para o fim do túnel em direção ao reflexo real da vida.

Pode parecer conto de fadas, Mas existem muitas pessoas que nos encantam negativamente, nos colocam diante de espelhos mentirosos, agridem nossas verdades e nos colocam em molduras defeituosas. Mas também existem pessoas que revelam a verdadeira face que temos, o outro lado da moeda, estimulam nosso potencial e reafirmam nossas qualidades. Pessoas assim a gente deve manter por perto e fazer com que pintem seu próprio quadro com tintas coloridas, se libertem das molduras frias de um destino mediano e liberte o poder de colocar em atitudes as palavras que são escritas nos livros de poesias.

Claro que a humildade deve fazer parte dos nossos caminhos como eternos caminhantes que somos, mas em momento nenhum devemos abandonar a humildade em troca de sentimentos inferiores, por causa da imagem tortuosa que outras pessoas igualmente tortas talvez tivessem construído sobre nós. A liberdade está no ato de voar pelos céus, mesmo sabendo que estamos com os pés no chão. Os verdadeiros espelhos mágicos dizem que somos muito melhores do que acreditamos, porque realmente somos melhores quando acreditamos que podemos voar em direção aos nossos sonhos, em vez de somente darmos passos miúdos em direção a um lugar qualquer.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Pontuações

Pontuações
Perdidas
Poesias
Partidas

Parti
Sem
Ponto
Final

Vírgulas
Curvaram
Meu
Caminho

Reticências
Devolveram
Minha
Respiração

Até
Onde
Vou
Por
Uma
Interrogação

Afirmativamente
Nego
Ordens
De
Despejo

Te
Desejo
No
Ensejo
Do
Texto
E
Fim

Gratidão

Gratidão é a palavra certa, tanto para os momentos bons quanto para os momentos mais difíceis. Independente da pressão diária por resultados, da falta de recursos para se manter um negócio, ou da loucura que vivemos para nos manter de pé, gratidão é o que deve nos mover a sermos melhores todos os dias.

Mesmo que falte o necessário, que sejam muitas as diferenças entre as pessoas, mesmo que naquele momento o que temos não seja o que esperamos ou o que sempre sonhamos, vivemos em um mundo de interdependências, onde se quisermos alcançar um objetivo de longo prazo, vamos precisar cumprir objetivos de curto prazo, vamos depender de ações de outras pessoas para que as nossas ações possam surtir efeito, nossas ações vão também interferir na vida de outras pessoas. Seja na vida pessoal, na vida profissional tudo isso vai fazer diferença.

Pode parecer bobagem falar de gratidão quando todo mundo ao nosso redor parece reclamar tanto. Sim, também tenho meus motivos para reclamar, não sou conformista e dou voz a quem discordar de algo ou alguém, vou compreender os motivos de cada um, mas mesmo no meio de tantas dificuldades, precisamos ser gratos pelo menor dos gestos, pela menor das atitudes, pela menor das conquistas em meio aos grandes desafios para nos mantermos de pé.

Eu oro a Deus para que em algum momento eu tenha condições de fazer algo que mude a vida de alguém, eu peço a Ele inúmeras coisas, eu sempre o busco em meio ao caos para que a paz se instaure dentro do meu barco, algumas vezes eu ando sobre as águas, outras eu me afogo nelas, mas mesmo diante dos momentos onde minha fé falhou, eu reconheço a necessidade de antes de qualquer coisa ser grato a Deus por tudo, até pelos momentos onde eu falhei e pensei em desistir.

Gratidão torna nossa vida melhor, gratidão nos possibilida a ver a luz no fim do túnel, mesmo que o túnel não apresente saída momentânea, mesmo que o mundo pareça desabar por alguns instantes, eu sei que ser grato vai me fazer vencer onde a maioria talvez desista por não ter fé suficiente e apenas reclamar.

Não é fazer o jogo do contente, mas sim enxergar que por mais que não exista um lado bom em tudo, existe sim um lado menos pior e que podemos acreditar em dias melhores. Não quero julgar as intenções de quem nos estimula a continuar, quero continuar por mim e por aqueles que também buscam uma forma de não desistir. Não precisamos ser como Polyana, só o que precisamos é de força para continuar, sendo gratos a Deus e aos amigos que nos dão as mãos na nossa escalada da vida.

Chapeleiro louco

O Chapeleiro Louco

Há algo interessante a se analisar quando falamos de um chapeleiro louco. O que o personagem de Alice no país das maravilhas pode nos oferecer para uma análise? A primeira conclusão é a histórica, pois chapeleiros, segundo informações usavam o mercúrio no processo de confecção dos chapéus e isso fazia com que eles tivessem distúrbios mentais e chegavam até a morte.

Agora filosoficamente talvez hajam lições a serem tiradas que vão além do processo de confecção de um chapéu, talvez haja algo maior sendo dito no meio de tão trágico fim para um chapeleiro. Será que nós mesmos não nos tornamos como um chapeleiro ao longo da vida? Não, não estou falando no sentido literal, de fazer chapéus e usar mercúrio neles.

Estou falando sobre o julgamento que fazemos das pessoas ao nosso redor. Mas como assim, julgamento? Pois bem, no nosso mundo, parece que vivemos tão divididos e perdidos no meio de nossas divisões, que para selecionarmos quem merece mais a nossa gratidão, nossos favores, medalhas ou honras, apontamos para o alto de seus egos, fazemos testes psicológicos baseados em impressões tiradas do bolso ou de um armário qualquer dentro do nosso ego surtado.

Baseado em nossas experiências e também nos nossos devaneios, acabamos por medir cabeças, como chapeleiros e tentamos adequa-las ao nosso propósito. Não é o chapéu que se molda ao couro cabeludo, mas a cabeça que deve caber no nosso ideal, caso contrário descartamos e passamos a odiar a cabeça, intitulando-a grande demais ou pequena para estar no meio de nosso convívio. Como resultado disso, nos tornamos loucos, débeis por limitamos nosso mundo e nosso círculo somente a um determinado padrão de gente.

Excêntricos, estranhos, fechados em círculos disformes, nos afastamos da realidade e tornamos todo o mundo um conjunto de estranhezas que rejeitamos e odiamos porque as inúmeras cabeças medidas, foram medidas segundo conceitos errôneos de alguém que usou mercúrio durante tempo demais na tentativa de fazer um chapéu ideológico perfeito para as mentes que pareciam insanas.

O chapeleiro tem muito a dizer sobre nós mesmos. Somos mórbidos, fraquejantes, discípulos de uma vaidade vazia, que nos leva ao óbito antes de percebermos que nos afastamos de nós mesmos quando nos afastamos de quem tem cabeças diferentes do padrão do nosso chapéu. Quem sabe não são nossos chapéus que são apertados demais para que possamos compreender o mundo do outro?

Estamos tontos, talvez de labirintite, talvez porque nossa cabeça esteja presa em fardos pesados de julgamento, talvez porque estejamos inebriados demais em nossas radicalizações voláteis para percebermos que dependemos uns dos outros, não importando o tamanho do chapéu ou da cabeça, que isso pouco importa para o convívio social, profissional e espiritual.

O chapeleiro é uma realidade dentro da fantasia, talvez ele seja eu, você e todos nós. Presos em um mundo onde tudo é um padrão louco, inacessível, utópico e surreal.

Jogue o chapéu para o alto!

Pedro Garrido