domingo, 27 de janeiro de 2019

A melhor vingança.

Existe uma frase, um ditado talvez, que diz o seguinte: "A melhor vingança é deixar pra lá."  O fato é que fazer vingança não é nada mais do que querer o mal para quem te fez mal, e enquanto você não se vinga com alguma atitude que cause o mesmo dano ou algo pior, você continua sofrendo a maldade que a outra pessoa lhe fez. Parece que estamos guardando o tempo todo o veneno que já perdeu prazo de validade, para não nos esquecermos de quem nos causou o prejuízo, para que nossa dor seja completamente extirpada da alma.

A melhor vingança não é tão somente deixar pra lá, deixar pra lá é fingir que nada aconteceu e tentar lidar com a vida sabendo que alguém te machucou, e que de alguma forma esse machucado vai se curar, mas dessa forma estamos fugindo do nosso ofensor e a ferida continua lá, aberta, esperando um passo a mais que nós faça sair do complexo e do medo de abrir mão de alguma razão para seguir verdadeiramente em frente.

Só seguimos em frente quando enfrentamos o que nos causa a dor, seja uma perda, uma perseguição, um tapa na cara, um abuso emocional ou palavras mal interpretadas num momento de revolta, tudo isso pode ser resolvido e vingado, tudo pode ser conversado e perdoado, quando isso acontece somos convidados a refletir que parte de nós precisa se sacrificar para que sigamos bem.

Por que fazer mal para alguém? Por que odiarmos tanto as pessoas? Por que tirar os rastros delas da nossa existência para nos sentirmos melhores? Vivemos em um mundo em que precisamos coexistir com quem pensa e age diferente, precisamos aprender a delimitar nossos espaços e respeitar quem escolheu seguir caminhos diferentes, muita gente está perdida porque apanhou tanto nesse mundo que imagina todos como inimigos em potencial.

Deixar para lá não vai nos ensinar a nos protegermos contra um novo ataque, só vai fazer com que nos acostumemos com as pancadas, e que achemos merecer tudo que recebermos de ruim. Precisamos estar atentos aos ataques que vem, mas podemos acreditar que a humanidade ainda tem os seus exemplos bons e é quando perdoamos que a transformação acontece.

É quando perdoamos que mostramos ao outro que não somos ruins, mesmo que venham a nos ferir novamente, a ferida só vai acontecer se deixarmos, Então quando perdoamos mostramos que a bondade flui de nós, e que a raiva pelo outro só cede terreno para eles atuarem sobre a nossa vida. O perdão nos alivia e alivia também a quem nos perseguiu.

Talvez o que falte seja mudar nosso vocabulário, talvez substituindo a palavra vingança por perdão e maturidade, muitas coisas possam ficar mais esclarecidas para a maioria de nós.

Que tudo que sofremos até ontem possa se tornar exemplo para sermos melhores uns com os outros hoje e amanhã construirmos um mundo com pessoas mais solidárias, cordiais e construtivas.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Dente intruso


Tirar um dente que não deveria existir e compete por espaço com os demais dentes, pode parecer algo banal, mas quantas vezes na vida saímos da nossa posição original porque competimos com diversas outras coisas que não deveriam existir e estão lá crescendo dentro de nós, sendo percebidas e mesmo assim deixamos criar raízes profundas, deixamos roubar nossas energias e tiram de nós a clareza do que estamos fazendo ali?


Parece pouco ou quase nada pensar na figura de um dente fora do lugar, mas esse dente fora do lugar, não só muda a forma de uma arcada, a mordida, como ele mesmo pode perder sua função, pode aos poucos se deteriorar e ser substituído por uma prótese, que muitas vezes pode estar lá só como estética, para suprir momentaneamente o estrago que os intrusos provocaram ao longo dos anos.

O que acontece aos nossos dentes hoje é uma realidade tão profunda, que poucos de nós conseguimos nos dar conta de que isso está acontecendo, não porque perdemos nossos dentes, mas perdemos espaços por causa de pequenas coisas que deixamos se instalar em áreas da nossa vida que mudam nosso posicionamento, tiram a nossa subjetividade e nos transformam em próteses estéticas que dão só uma aparência ao que um dia foi algo original.

Pode ser uma pessoa, um sentimento, uma atitude desgastante, uma frustração, um desejo, várias são as situações que uma vez que deixamos crescer em nossa mente, vão tomando forma, crescendo e nos tirando da posição em que originalmente começamos e isso nos tira o sorriso, nos silencia diante dos questionamentos, tira de nós a auto-estima e nos faz achar que somos menores ou disformes do que realmente somos, incapazes de sobreviver sem esse incômodo.

O problema até então é que um dente incluso é real e sabemos o quanto ele incomoda, onde machuca e os estragos que ele faz quando não conseguimos dar o higiene adequado, mas quando lidamos com situações, com pessoas inesperadas que dificultam nossa vida, nos diminuem nos machucam, nem sempre percebemos que temos a falta do higiene mental que fazemos, nem sempre compreendemos o que nos afeta e não sabemos de onde vem a dor que sentimos e acabamos nos conformando com uma falsa ideia de que aquela é a nossa posição original, que somos feitos para sermos defeituosos e que se tirarmos de nós aquilo que nos agride, também nós deixaremos de existir.

Não é bem assim, o trabalho de retorno a origem é longo e conhecer a si mesmo é o primeiro passo para entender o que é real e o que não é. Começamos conhecendo as profundezas e aquilo que até então é risco, então conhecemos os riscos e onde está enraizado o que nos afeta, mesmo sabendo que podemos balançar diante da retirada , assumimos assim que somos capazes de recuperar o que somos, mesmo que sangre, porque vai sangrar, mesmo que sejam necessários "pontos" em nossa psique, e ainda que ela não seja da mesma forma que antes, quando encontramos o que nos afetou, identificamos do que se trata, só assim saberemos a maneira ideal de nós libertarmos do incômodo.

No começo vai soar estranho quando voltarmos a tocar nessa área da nossa vida sem sentir o que estava lá, vamos reaprender a sentir novamente, vamos estar sensíveis e vamos querer evitar que qualquer coisa encoste novamente por lá novamente, depois, mais seguros, voltaremos ao ritmo normal e vamos perceber que perdemos muito tempo dando valor ao que nos machucava, nos prendendo ao que tirava de nós a oportunidade de viver melhor, mesmo que as ferramentas que nos tiraram de onde estávamos fossem assustadoras, elas foram necessárias para que fôssemos capazes de enxergar o quanto nos deixamos levar pelas mentiras que tomaram nossa condição, nos enganaram e nos fizeram deixar de ser plenos.



Algo eu tenho a dizer aos que se veem como esse dente: Vocês não são intrusos na vida de ninguém, vocês não são incapazes, não deixem que te substituam por uma cópia vazia, não se deteriore por causa de mágoas, sentimentos ruins, medos ou fracassos! Desfazer alguns conceitos errados pode doer, sangrar e até te balançar por um momento, mas não deixe que isso te derrube! Você é parte da arcada dentária, seja ela uma família, uma sociedade, um grupo, um emprego, você tem total condição de participar, você é capaz, independente de qualquer coisa, você também é único!



Sem essa de que esse texto é mais um que tem autoajuda como foco, esse texto é mais uma expressão da realidade em que vivemos e muitas vezes não nos damos conta. Se você leu ate aqui, saiba que todo processo passa pela fase do tempo, se você chegou nesse tempo, não deixe ele passar!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Transbordamento

Seja capaz de se bastar!

Quando somos suficientes em nós mesmos transbordamos então na vida de outra pessoa e a outra pessoa, sendo suficiente em si mesma, também irá transbordar em nós, não por necessidade, interesse ou barganha, mas como uma dança em que não se sabe os passos, mas se dança sem medo de errar enquanto a música toca ao fundo, um rito de agradecimento a eternidade pela completude ainda que finita daquele momento.

Não é o transbordamento o fato importante, mas o fato da suficiência ser tão certa que somos capazes de enxergar que estar ao lado de alguém não é uma carência para suprir uma parte que falta, mas sim a certeza de que finalmente estamos bem o suficiente para dividirmos a vida com alguém que chega, temos todas as partes necessárias para dividir sem que falte nenhuma peça física ou emocional. Quando somos plenos na dança, dançamos sem nos preocuparmos com o fim da música, estamos seguros que a música durará tempo suficiente para cumprirmos os passos necessários e o fim da música não é necessariamente o fim da dança, porque sabemos que somos capazes de continuar mesmo que falte o tom, mesmo que falte a música, mesmo que falte tudo, porque a dança não está fora de nós, mas dentro.

A motivação que vem de dentro não se importa com o que vem de fora, podemos dançar em meio as pedras e espinhos e mesmo assim não nos machucarmos, porque quando sabemos o que temos em nós, sabemos que o que é externo não nos pertence, seja o julgamento alheio, a dureza dos corações, os espinhos ao nosso redor, nada disso é nosso. O mundo pode estar em guerra, se você está em paz, a certeza pela qual se luta já é uma vitória.

Nos bastamos nos dias de guerra porque a guerra não é nossa, mas somos capazes de lutar se necessário, sabendo que não morreremos no fronte quando sabemos como nos defender, quando sabemos as armas que temos e conhecemos o terreno pelo qual estamos lutando.

Parece loucura dançar em meio a guerra, mas tem muita gente armada até os dentes, que não dança porque se deixou levar pelas paixões momentâneas e esqueceu de si mesmo no meio do caminho, não amou de verdade, apenas sucumbiu ao impulso, foi ferido em batalhas e não soube mais declarar paz a si mesmo, a guerra não era mais contra os inimigos reais, mas imaginária com inimigos invisíveis, a música se tornou fúnebre e a única dança é a que espera o fim da marcha.

Mesmo para o ferido de morte há esperança de vida, mesmo para aquele que se entregou a surdez há uma dança o esperando, ao que se esvaziou a oportunidade de se encher, a paz é real, a música há de tocar, o rio ainda há de transbordar. A esperança brota nos corações mais secos, as lágrimas choradas são capazes de tornar reais recomeços inesperados.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Tudo bem

Nem todos os dias são fáceis de caminhar, nem sempre é fácil sair da cama feliz pela manhã, o otimismo nem sempre norteia nossos pensamentos. Com tanta coisa acontecendo ao nosso redor, às vezes parece que estamos sozinhos, que não tem alguém para ouvir nossas angústias e o barulho a nossa volta não passa de silêncio.
Mesmo que a gente se esforce por fazer o melhor todos os dias, os desafios que aparentemente são pequenos acabam em alguns momentos se tornando gigantes aos nossos olhos, pequenos avanços parecem difíceis, dolorosos e sacrificiais, como se tudo que fizemos até hoje não passasse de ilusão, de uma projeção daquilo que acreditamos que faríamos, mas que ainda é muito abaixo do que esperamos de nós mesmos.

Talvez esse texto seja encarado como auto-ajuda, motivacional ou uma reflexão com alguma resposta clara e objetiva com soluções miraculosas para alguém que precise, mas não é. O que eu escrevo aqui não fornece este tipo de solução a quem está lendo, pois quem me dera ter solução para todos os problemas da humanidade. Não as tenho, não tenho nem para a humanidade nem para mim mesmo e como nem todo dia estaremos bem, o melhor que posso dizer sobre isso é que temos que sentir a dor se quisermos conhecer a cura.

Não adianta suplantar a sensação de dor com remédios, paliativos, abafando a ferida, fingindo que não existe, deixando pra depois. Sentir a dor e reconhecer que ela existe, aceitar que algo incomoda e que precisa ser modificado é o primeiro passo, não importa o quanto doa mudar isso, não importa se  o silêncio não nos conceda respostas imediatas sobre o motivo da nossa dor, não importa se a tristeza momentânea nos faça enxergar monstros dentro do armário. Só seremos capazes de transformar nossa realidade, colocando em ordem o que parecia no lugar, expondo aquilo que parecia escondido, tirando a radiografia da alma e desnudando a essência de quem somos, o monstro do armário é só uma peça de roupa quando acendemos a luz.

Está tudo bem, mesmo não estando bem por hoje.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Dama da Noite

A Dama da Noite floresceu no réveillon, anunciou a virada, em seu anúncio ela foi mais espetacular que o foguetório lá de cima, pois aqui embaixo ela significou mais que uma simples aparição momentânea. Ela foi significativa pois mostrou que a renovação acontece em meio ao caos, a transformação vem quando não esperamos, a esperança pode surgir quando a escuridão parece tenebrosa, ela nos confirma que tudo que fizemos em direção ao que queremos é exatamente o que temos que fazer.

Quando conhecemos o nosso jardim, assim sabemos o que pode florescer nele, basta plantarmos, regarmos e esperarmos, que no momento certo a mensagem é revelada, a palavra que precisamos pode vir, a resposta das nossas orações pode surgir da forma mais inusitada possível.

Os sinais estão em todo lugar, basta olharmos para onde a maioria não está disposta a olhar e reconheceremos o tesouro da mensagem contida no abrir das pétalas de uma flor. Um só dia pode mudar uma vida, pode marcar uma história, pode trazer a resposta que buscamos por anos.

Por que esperar fogo dos céus, ventania ou trovões? A multiformidade do agir divino proporciona a resposta certa para os ouvidos atentos, a simplicidade fala com mais clareza quando, com a sensibilidade de espírito, estamos dispostos a ouvir sua voz.