Não há maior liberdade para um míope que sair na rua e não precisar enxergar ninguém.
Você confunde o saco de lixo com um cachorro, admira um pedaço de arame na parede, que por algum motivo parecia uma borboleta, se esbarra em um manequim de loja, pede desculpas, e uma série de outras desventuras no caminho.
Você apenas vai e volta, sem se importar com quem ou o que vai ver no caminho, se vai passar aquela pessoa que você quer esquecer, ou se alguém vai ver o seu tropeço, porque se você não viu, ninguém viu e não aconteceu, o que importa é curtir a liberdade de não precisar detalhar as coisas por alguns minutos.
A gente vive tão rodeado de informações, que por alguns instantes, é preciso tirar os óculos e enxergar tudo borrado, não se preocupar em assimilar tudo que está acontecendo ao seu redor, assim fazendo pré julgamentos do que pode acontecer no nosso caminho, vendo pessoas e situações que tememos que apareçam quando estamos de óculos.
Ah como a vida seria boa, se tivéssemos essa realidade alternativa à nossa disposição, seria uma dádiva ter alguns momentos de miopia, se importar com o mais simples e deixar de lado o restante que não interessar.
Seria quase uma abolição da escravatura, de não precisar enxergar bem o tempo todo, prevendo todo e qualquer perigo, se esquivando dos ataques de ansiedade, não precisando o tempo todo nos preocuparmos com o que será do nosso futuro.
Em certos momentos, ser míope pode parecer um dom, uma bênção concedida aos ansiosos de olhos e de coração.
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